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segunda-feira, dezembro 04, 2023

A Farsa

O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Foi na passada semana noticiado pela generalidade da imprensa desportiva a intenção de Farense na próxima época passar a disputar os jogos com Benfica, Porto e Sporting no estádio do Algarve enquanto os restantes adversários continuarão a ser recebidos no já centenário estádio de S. Luis em Faro.
Já se sabe que a organização do futebol em Portugal caminha cada vez mais para ser uma brincadeira sem piada da qual o público pagante é a vítima maior porque vê provas carentes de verdade desportiva e cada vez que entra num estádio está sujeito a assistir a aldrabices várias e muito em especial se em campo estiver um daqueles clubes que se acha dono disto tudo.
O último campeonato e o actual são exuberantes exemplos disso.
A culpa pertence a vários protagonistas.
A FPF, a LPFP, a APAF, os orgãos jurisdicionais e os presidentes dos restantes clubes que assistem passivamente a todos estes atropelos sem usarem a posição maioritária que tem nas AG da Liga para fazerem frente a este estado de coisas.
Também porque alguns por baixo da camisola do clube usam "camisolas interiores" vermelhas, azuis e brancas ou verde e brancas.
E , já agora, os sucessivos governos cujo temor reverencial ao futebol os impediu de intervirem com o rigor e a dureza que o futebol há muito justifica a vários níveis desde a gestão dos clubes aos atropelos de alguns grupos organizados de adeptos passando pelas repetidas fraudes à verdade desportiva plasmadas em inúmeros inquéritos judiciais sem conclusões à vista.
Vem isto a talhe de foice face ao propósito anunciado pelo Farense de na próxima época fazer os tais catorze jogos caseiros no S.Luis e os restantes três, nem vale a pena repetir com quem, no estádio do Algarve.
O que é uma perfeita aberração.
Ainda maior, ou pelo menos tão grande como, a Liga permitir que actuem no principal campeonato clubes que não tem estádio e por isso vagueiam por casas emprestadas como foi o caso do felizmente falecido B SAD e é actualmente do Casa Pia.
Ou de clubes como o Rio Ave que tem um estádio com apenas uma bancada e sem condições para receber adversários que se façam acompanhar de número significativo de adeptos.
Mas este caso é pior.
Desde logo porque é insólito um clube ter dois estádios e usá-los conforme lhe dá jeito nuns casos privilegiando o apoio à equipa e noutros a bilheteira.
O que faz sentido, em qualquer campeonato de qualquer país, é um clube ter um estádio e nele disputar todos os jogos sem excepção até porque estamos no século XXI e não umas décadas atrás em que a "habilidade" era alguns clubes jogarem em casa a maioria dos jogos e depois usarem campos emprestados sob o pretexto da transmissão televisiva que sendo verdadeiro era também um frete aos tais três clubes.
Os que são desse tempo concordarão que defrontar o Salgueiros em Vidal Pinheiro ou o Espinho no Campo Avenida, estádios acanhados e com o púbico em cima das quatro linhas, era bem diferente de o fazer no "bem bom" do estádio da Maia.
Mas este anúncio do Farense, que se tornará seguramente realidade face aos regulamentos do nosso futebol, e não sendo certamente  essa a sua intenção não deixa também de ser uma violação da verdade desportiva do próximo campeonato.
Dado  significar que os "donos disto tudo" passarão a disputar dezoito jogos em casa e apenas dezasseis fora, porque obviamente no estádio do Algarve passarão a estar em maioria em termos de público face ao reconhecido atraso cultural/desportivo deste país, enquanto os restantes terão de continuar a fazer dezassete jogos em casa e outros tantos fora como é suposto acontecer numa competição a duas voltas em que em princípio as regras devem ser iguais para todos.
Mas não são.
Pelo menos na Liga portuguesa e com esta LPFP.
Que teria agora, a LPFP, uma boa oportunidade de fazer algo pela verdade desportiva e pelo impor de regras de funcionamento admissiveis e iguais para todos se recusasse esta intenção do Farense e o obrigasse a disputar todos os jogos no mesmo estádio dando-lhe a prerrogativa, isso sim, de optar pelo S.Luis ou pelo estádio do Algarve.
E se não for a direcção da LPFP a tomar essa decisão espero que os presidentes dos restantes catorze clubes façam o seu papel na defesa dos interesses das entidades a que presidem.
Caso contrário teremos o próximo campeonato a contribuir para que o nosso futebol pareça cada vez mais uma farsa travestida de competição desportiva!
E digo-o com o á vontade de na última jornada o Vitória ter vencido o Farense no estádio de S.Luis em Faro.
O problema é mesmo de existirem critérios que tornem os campeonatos iguais para todos em termos de regras, regulamentos e tratamento pelos orgãos dirigentes para que depois a diferença de escalonamento classificativo tenha apenas a ver com questões de mérito desportivo.

Em tempo: Percebo perfeitamente o ponto de vista do Farense em termos de maximizar receitas que tão importantes são para os clubes. É, de resto, um clube pelo qual sempre tive e tenho simpatia. Mas não posso aceitar que um campeonato disputado pelo "meu" Vitória não tenha regras iguais para todos.

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