O meu artigo desta semana no zerozero.pt
Há em volta do actual formato da Taça de Portugal uma enorme mentira.
Supostamente a Taça é a festa do futebol que leva a competição a todos os recantos do país permitindo que as equipas mais cotadas actuem em estádios onde normalmente não vão.
E com base nisso até faz um sorteio em que na sua entrada em prova os clubes da primeira liga tem de jogar obrigatoriamente fora.
E a FPF faz gala de promover a Taça com base nesses atributos.
Infelizmente a realidade desmente as boas intenções manifestadas.
Desde logo porque sorteios condicionados não são sorteios mas sim arranjos.
Arranjos feitos para favorecerem os mais fortes e não para defenderem os mais fracos está bom de ver.
Depois porque mesmo obrigando os primodivisionários a jogarem fora impede que se defrontem entre eles o que é uma medida protecionista.
A seguir porque os primodivisionários apenas entram em jogo na terceira eliminatória ao contrário de todos os outros o que é uma discriminação.
Finalmente porque contrariando frontalmente o que devia ser o espirito de Taça quando os clubes mais modestos lhes toca receber um clube do trio de "donos disto tudo" a primeira preocupação é não jogarem em casa mas sim num estádio maior que lhes permita transmissão televisiva e maior receita de bilheteira.
Facilitando ainda mais a vida a esses clubes, que já era fácil porque normalmente a desproporção de forças é imensa, e criando condições de desigualdade para todos os outros clubes que tendo de visitar clubes de escalões inferiores o fazem nos respectivos estádios o que é sempre propício à criação de dos tais "tomba gigantes" que dão sempre prestigio e interesse à competição desde que o "gigante" tombado não seja daqueles que a FPF tanto gosta de ver chegar à final.
E então se lá chegarem dois "gigantes" é a felicidade mais perene e intensa que se possa imaginar.
Mas para que a realidade ainda negue mais as supostas boas intenções ainda inventaram as meias finais a duas mãos para que caso o mais forte seja surpreendido num jogo pelo mais fraco tenha a hipótese de numa segunda partida rectificar o desaire e apurar-se para a final.
Não é preciso ser nenhum génio do futebol para perceber que é muito mais fácil um clube menos forte ultrapassar um mais forte numa eliminatória a uma mão do que em dois jogos onde a natural supremacia do mais forte se fará normalmente sentir.
Digamos que a distorção de condições a favor dos mais fortes não é tão escandalosa e visível como na palhaçada em que se está a transformar a taça da liga mas mesmo assim ainda é suficiente para se poder considerar que a Taça de Portugal não só não é a competição que devia ser como também não é a competição que dizem ser.
Se um dia a FPF quiser uma Taça de Portugal verdadeiramente defensora e promotora do futebol, que o leve a todo o país, que permita jogos que normalmente não se realizam e o aparecimento com maior frequência dos tais "tomba gigantes" que tanto prestígio dão à competição então a solução é muito simples.
Sorteios puros e sem arranjos de qualquer espécie.
Participação de todos os clubes inscritos desde a primeira eliminatória e sem qualquer tipo de condicionalismos.
Obrigatoriedade de os clubes sorteados para jogarem em casa jogarem mesmo em casa e não noutros estádios.
Meias finais jogadas numa só mão.
Local da final decidido por acordo entre os finalistas e a disputar num estádio que reuna todas as condições para o efeito (dez do Euro, mais Jamor e Barreiros não falta por onde escolher) e não obrigatoriamente no estádio do Jamor.
Se um dia a Taça de Portugal for organizada nestes moldes talvez se possa assemelhar, embora a bastante distância, com a Taça de Inglaterra que é a mais prestigiada e tradional competição do mundo do futebol.
Infelizmente acho que isso não será para amanhã.
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