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quinta-feira, maio 11, 2023

Carica Cup

O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Falei deste tema no programa “4 à Grande”, aqui no zerozero, mas dado o interesse de que se reveste alinhavo agora mais algumas ideias em torno do mesmo complementando aquilo que já disse no referido programa.
Não há hoje competição no futebol profissional português mais desprestigiada, mais carente de verdade desportiva mais atentatória contra o que deve ser uma competição profissional de futebol do que a Taça da Liga.
Não é seguramente por acaso que no anedotário futebolístico/desportivo nacional é conhecida como “taça da cerveja”, “taça da carica” ou, pior ainda, “taça Lucílio Baptista” relembrando uma final entre Sporting e Benfica apitada por esse ex-árbitro e em que os incidentes foram mais muitos deturpando a verdade desportiva desse jogo.
Incidentes e não acidentes convém frisar dado que o atual presidente da Liga parece ter muita dificuldade em distinguir as diferenças.
A verdade é que a Taça da Liga não correspondeu, não corresponde e ao que se lê não corresponderá aos fins para que foi criada em 2007.
Originalmente a taça da liga, a exemplo do que acontece noutros países, foi criada para permitir aos clubes terem mais competição, rodarem os planteis, terem mais receitas de televisão e de bilheteira e disputarem uma competição que enriquecia os palmarés dos que a vencessem a par de colocando em competição equipas de dois escalões permitir uma maior aproximação competitiva entre eles.
Mas a competição nasceu torta e nunca mais se endireitou.
Desde logo, porque ao contrário do que acontece noutras ligas o seu vencedor não se apura para nenhuma competição europeia, o que reforçaria o interesse em seu redor, “apenas” vencendo o troféu sem mais qualquer efeito posterior.
Mas essencialmente porque é uma competição assente em regras diferentes conforme os clubes, o velho pecado do futebol português de dividir entre filhos e enteados, favorecendo claramente os mais fortes e fazendo de todos os outros uma espécie de “Filhos de um Deus menor” cujo papel na competição era e é apenas o de abrilhantarem os triunfos alheios.
Inexplicavelmente o absurdo e abjeto regulamento que formaliza essa discriminação inaceitável numa competição desportiva, ainda para mais profissional, foi aprovado ao longo dos anos em assembleias gerais da Liga onde os presidentes da maioria dos clubes vão fazer não sei o quê.
E fosse só na questão da Taça da Liga...
Como resultado disso, e provando bem a manhosice e a desonestidade desportiva do regulamento, nas dezasseis edições até hoje disputadas o Benfica ganhou sete, o Sporting quatro, o Braga duas e Moreirense, Vitória Futebol Clube e Porto uma cada o que neste último caso é dissonante do algum domínio que tem evidenciado noutras competições nesse período de tempo.
Sendo certo que o Porto, atual detentor do troféu após 15 edições em que não o conseguiu vencer pese embora ter disputado várias finais, tem apenas um triunfo é igualmente verdade que em conjunto com Benfica e Sporting os chamados “grandes” venceram doze das dezasseis edições.
Restando as duas vitórias do Braga e os triunfos de Moreirense e Vitória Futebol Clube como as honrosas exceções que, contudo, se tornaram desagradáveis para um “sistema” que criou a prova para ser vencida apenas por três clubes.
E daí que a atual direção da Liga, eleita para defender os interesses de trinta e quatro clubes mas que em bom rigor defende apenas os de três, tenha aparecido com a peregrina ideia, tipo balão de ensaio, de reduzir a disputa da taça da liga apenas aos quatro primeiros classificados do campeonato da primeira divisão com um conjunto de argumentos que a deviam envergonhar mas não envergonham de tão insustentáveis que são.
Sabendo-se que há três clubes que ficam na esmagadora maioria das vezes nos quatro primeiros lugares, variando depois o quarto a integrar o lotes dos primeiros classificados, saliente-se, ao menos, a frontalidade de deixarem tudo às claras mostrando que o intuito da direção da liga é aumentar as salas de troféus e os proventos económicos dos três do costume desprezando todos os restantes.
Uma vez mais perante o incompreensível silêncio de trinta e um clubes.
Como adepto do futebol tenho sobre esta matéria, e de há muito, uma posição definitiva.
Ou a taça da Liga é disputada por todos os clubes pertencentes à LPFP em absoluta igualdade de circunstâncias com absoluta verdade desportiva, sem sorteios condicionados nem fatores de privilégio para alguns clubes, ou mais vale acabar com ela porque se nos atuais moldes já é uma fraude desportiva com as alterações que lhe querem fazer ainda será pior.
Por culpa, repito, da grande maioria dos clubes que pactuam com este estado de coisas e que elegem direções da Liga que não só não os defendem como ainda ajudam a prejudicá-los.

P.S. Entre as alterações que a direção da LPFP quer introduzir no regulamento da taça da liga, seja uma “final four” destinada aos tais quatro primeiros classificados seja outro modelo qualquer que não contemple a participação de todos os clubes, prevê-se a possibilidade de a final passar a ser disputada no estrangeiro. Se essas alterações forem aprovadas estou de acordo com a deslocalização da final. Levem essa vergonha para bem longe daqui!

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