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quarta-feira, abril 05, 2023

Memórias

Esta fotografia publicada no mural do Carlos Eduardo, e da autoria do fotógrafo húngaro Gábor Bábszki, traz-me inolvidáveis memória não só deste jogo como também da própria viagem à Hungria em Setembro de 1987.
Contextualizando há que relembrar que o Vitória no ano anterior tinha feito uma época magnífica sob a batuta de Marinho Peres, conseguindo um terceiro lugar e chegando aos quartos de final da taça UEFA, pelo que as expectativas para a época de 1987/1988 eram muito altas.
É certo que a estrela maior, Paulinho Cascavel, tinha partido para Alvalade e Roldão também saíra mas os restantes jogadores mantinham-se e tinham chegado  Caio Júnior, René Weber, Bené, Kipulu, Tozé e Décio António pelo que o plantel até tinha mais soluções que no ano anterior.
O primeiro jogo do campeonato fora na Póvoa, com o estádio a abarrotar, mas o 2-2 final deixou alguma amargura nos vitorianos que viram a equipa estar a perder por 0-2 e só conseguir o empate no último minuto do jogo.
Depois um empate caseiro com o Porto campeão europeu levantou o ânimo que viria a consolidar-se com um triunfo na Covilhã mas sofreria rude golpe com uma derrota 1-3 em casa com  o homónimo de Setúbal precisamentes antes da viagem para a Hungria.
E aqui começam as curiosidades.
As competições europeias nesse tempo eram diferentes do que são agora nomeadamente quanto aos dias dos jogos (quase todos à quarta feira independentemente de ser taça dos campeões, taça das taças ou taça UEFA) e as próprias viagens eram bem mais demoradas.
A comitiva vitoriana saiu do aeroporto de Pedras Rubras na segunda feira de manhã num avião da TAP rumo a Genebra onde fez escala e depois Zurique onde as várias horas de espera deram oportunidade de visitar a cidade e constatar a diferençazinha entre francos suiços e escudos.
Depois ao fim da tarde, já num avião da Swissair, foi a partida para Budapeste com um episódio pelo meio de suspeitas de bomba a bordo que levaram a evacuar o avião e a proceder à revista das bagagens. Passageiros houve que já não quiseram seguir viagem.
Chegada a Budapeste já noite cerrada com um longo percurso de autocarro entre o avião e as instalações do aeroporto (paranóias do tempo da guerra fria) e depois das formalidades alfandegárias a ida para o hotel.
Vitória para um e acompanhantes para outro.
Na terça feira foi dia para visitas turísticas organizadas e vigiadas (estávamos, recordo, num país do Pacto de Varsóvia e vinhamos de um país da NATO) que permitiram conhecer a belissima cidade de Budapeste e os seus principais lugares históricos.
Ponto de ordem para esclarecer como fui ali parar.
Naquele tempo havia em Guimarães uma televisão pirata (era assim que eram conhecidas) chamada Televisão Regional de Guimarães (antes TV Covas) que pertencia ao Grupo Santiago e com a qual colaborava apresentando os espaços desportivos. Foi então entendido que era giro fazermos a cobertura dessa jornada europeia do Vitória e por isso lá fui com o Torcato Ribeiro como operador de câmara.
À cautela o Vitória e a agência de viagens quando mandaram para as autoridades húngaras a relação da comitiva oficial fizeram menção expressa a uma estação de televisão para evitar problemas.
Ainda assim a câmara do Torcato despertou muitas curiosidades...
Como curioso foi o episódio com um português residente em Budapeste que tendo-se disponibilizado para ajudar a comitiva vitoriana naquilo que fosse necessário, nomeadamente na troca de forints por escudos, viria na sequência disso a ser detido pela polícia húngara que nos vigiava sob a acusação de câmbio ilegal o que obrigou a que os dirigentes vitorianos Pimenta Machado e Dinis Monteiro se tivessem deslocado á embaixada portuguesa para em conjunto com o embaixador conseguirem livrar esse português dos problemas em seu torno. O que foi conseguido diga-se de passagem.
Na quarta feira depois de uma visita á comitiva vitoriana no hotel em que estavam instalados foi a partida para Tatabanya a algumas dezenas de quilómetros para um jogo que se disputou às 15.00 h dado o estádio não ter iluminação.
Nem iluminação, nem bancadas cobertas excepto a central , nem instalações para jornalistas.
Menos ainda para televisões.
O que nos obrigou a assistir ao jogo na cobertura da bancada, à qual se acedia por uma escada de mão, e onde o Torcato fez prodígios de equilibrio para conseguir gravar o jogo enquanto eu ia tomando as devidas notas sentado no chão. No chão da cobertura é claro.
O jogo ficou 1-1, o Vitória fez uma exibição pouco convincente e começou aí a germinar a ideia de que não estava no bom caminho, mas era um resultado que abria boas perspectivas para a segunda mão que viriam a confirmar-se no jogo de Guimarães.
Na fotografia consegue ver-se outra curiosidade e está numa camisola. Não na espectacular camisola do "capitão" Jesus mas sim na do jogador húmgaro onde se vê a publicidade à Pepsi Cola o que não deixava de ser curioso num país do lado de lá da cortina de ferro.
Talvez porque a Hungria era dos paises menos ortodoxos entre aqueles que andavam na órbita da URSS.
No final voltamos ao hotel porque o regresso a  casa foi só no dia seguinte num voo da Malev para Paris e depois da Air France para o Porto onde chegamos na quinta feira a meio da tarde.
Hoje nada disto era possível porque as idas são de véspera e os regressos no fim dos jogos mas acho que tinham mais piada e mais encanto sendo como essa de 1987.
Memórias de uma viagem e um jogo já lá vão 36 anos suscitadas por uma fotografia enontrada no Facebook. 
Depois Falamos.

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