A propósito do Vitória vs Benfica de sábado lembrei-me de uma história passada comigo e que versa precisamente o sucedido depois de um jogo entre os dois clubes no estádio D.Afonso Henriques.
Tem 20 anos mas recordo-me bem dela porque, entre outras razões, significou a minha primeira ida à televisão.
No sábado 23 de Março de 2002 o Vitória recebeu o Benfica e pese embora o clube de Lisboa ter vencido folgadamente (1-4) há uma enorme história em volta desse jogo que ajuda a explicar o resultado e muita coisa mais.
O SLB fez o 1-0 num lance polémico (como tantos outros a favorecerem essa agremiação) e no sururu resultante em plena área vitoriana um jogador deles (Simão Sabrosa) resolveu provocar alguns jogadores vitorianos entre os quais Romeu que resolveu o assunto aplicando-lhe uma certeira cabeçada.
No meio da confusão o trio de arbitragem liderado por Duarte Gomes não viu mas o quarto árbitro, alertado pelo banco lisboeta, fez aquilo que a FIFA nesse tempo expressamente proibia e recorreu aos audiovisiuais como meio auxiliar de arbitragem.
Ou seja, foi a uma câmara da RTP junto ao relvado ver a repetição da jogada e sinalizou ao árbitro a agressão e este prontamente expulsou Romeu!
Isto muitos anos antes de haver VAR. Só que para o Benfica sempre existiram regras especiais...
Essa expulsão fruto de consulta proibida a meios audiovisuais infringiu leis e regulamentos, contrariou as orientações da FIFA, mas importava era favorecer o que é sempre favorecido.
Na segunda parte o Vitória ainda chegou ao 1-1, por Fangueiro, mas no último quarto de hora o SLB fez três golos (um de penalti) e lá ganhou depois de jogar uma hora contra dez.
No final do jogo na sala de imprensa e em declarações posteriores a vários orgãos de comunicação social António Pimenta Machado criticou duramente a actuação do árbitro, a atitude do quarto árbitro, as pressões do banco do Benfica e exigiu medidas punitivas para quem tão flagrantemente tinha violado leis e regulamentos.
Ao tempo eu era deputado e secretário-geral do Vitória pelo que aproveitava os fins de semana e os tempos livres à segunda feira para tratar dos assuntos que me competiam no clube.
Na segunda feira a seguir ao jogo chegado à sede do Vitória fui falar com Pimenta Machado que estava no seu gabinete em acesa discussão telefónica com o jornalista Bessa Tavares, ao tempo responsável pelo desporto na RTP, exigindo que no programa desportivo dessa noite no Canal 1 ("Jogo Falado") o Vitória estivesse representado para poder denunciar os erros cometidos pela arbitragem no jogo com o Benfica.
Nesse tempo já havia paineis como agora só que eram nos canais generalistas e tinham portanto uma audiência consideravelmente superior o que servia os propósitos de Pimenta Machado (e do Vitória) em fazer o máximo escândalo possível.
O jornalista bem argumentava que no painel só tinham lugar Benfica, Porto e Sporting (há coisas que não mudam...) e nunca outro clube tinha tido lá assento nem sequer a titulo excepcional como o Vitória queria.
Mas Pimenta Machado estava intransigente.
E tanto argumentou,com uns berros à mistura, que o jornalista acabou por pedir uns minutos para consultar as chefias.
Nesse entretanto e em conversa Pimenta Machado manifestava a quase certeza de que a RTP ia ceder e perguntava-me se estava disponível para representar o Vitória no programa ao que pronta e gostosamente acedi.
Passados uns vinte minutos Bessa Tavares devolveu a chamada comunicando que a titulo excepcional, e face ao insólito do que se tinha passado, o Vitória poderia estar no programa dessa noite e pedindo a Pimenta Machado para estar nos estúdios da 5 de Outubro por volta das 22.00 h.
O que ele foi dizer...
Então é que Pimenta Machado berrou mesmo dizendo que não era a RTP que escolhia quem representava o Vitória no programa e que o representante do Vitória seria o secretário-geral (ou seja...eu) e que não admitia sequer outra hipótese.
O "pobre" do jornalista lá pediu mais uns minutos, suponho que para investigarem quem era o secretário-geral, após o que voltou a ligar dizendo que sim senhor aceitavam que fosse o secretário-geral a estar no programa.
Acredito que o facto de ao tempo ser deputado na Assembleia da República deve-os ter tranquilizado quanto ao comportamento que adoptaria em estúdio afastando o receio de algum arremesso de cadeiras ou agressões a comentadores...
E assim foi.
Combinada a estratégia para o programa com o Presidente a meio da tarde lá me meti no carro e fui para Lisboa rumo à minha primeira experiência televisiva.
Recordo que mantive um aceso, mas cordial, debate com Manuel Damásio que era o comentador do Benfica perante o ar divertido do portista Pôncio Monteiro e do sportinguista Eduardo Barroso todos eles admirados por verem um "intruso" de outro clube no "seu" (deles) programa.
E creio, sem falsas modéstias, que soube defender a posição do Vitória e denunciar os favores da arbitragem ao clube de Lisboa.
Como já disse foi a primeira vez que entrei num estúdio de televisão (ainda vinham longe os tempos do Porto Canal) e para mim foi gratificante fazê-lo na defesa dos interesses do Vitória e podendo denunciar o "sistema" de viciação de resultados que retira verdade desportiva ao futebol.
Foi há muito tempo...
E num tempo diferente em muita coisa...
Depois Falamos.
Boa tarde Dr. Luís Cirilo.
ResponderEliminarCom tive oportunidade de lhe falar no sábado, antes do jogo, considero muito importante que continue atento à vida vitoriana e que vá relembrando alguns episódios destes.
O "Depois Falamos" é muito útil para o Vitória e para Guimarães.
Podia, perfeitamente, ter uma coluna de opinião no site do Vitória!
Cumprimentos,
Monteiro.
Caro Monteiro:
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras. De hoje e de sábado quando nos encontramos antes do jogo.
O "Depois Falamos", desde 2006, e a minha página no Facebook, desde 2009, estão sempre na defesa do que considero serem os interesses do nosso clube. Ao longo dos anos já escrevi no extinto "Jornal do Vitória" e em praticamente todos os jornais de Guimarães. Nalguns que já não existem como o "Toural", "Povo de Guimarães " e "Notícias de Guimarães" mas também no "Comércio de Guimarães" (foi onde comecei a publicar opinioes) e "Desportivo de Guimarães". Mas também nos regionais "Correio do Minho" e "Diário do Minho" e no site da AVS. Hoje escrevo crónicas no site zerozero e estou no programa "4àGrande" do mesmo site. Com excepção do meu blogue e página de Facebook o zerozero é mesmo o único espaço em que por agora estou disponível para colaborar. Gosto muito de escrever em total liberdade (aliás só assim aceito fazê-lo) e nos meus espaços e no zerozero tenho essa condição essencial. Agora reconheço que o Vitória precisava de ter mais gente na imprensa nacional e nomeadamente nas televisões. Actualmente apenas há o Flávio Meireles no Canal 11 mas não em representação do Vitória e sim por mérito pessoal. É evidente que é sempre associado ao clube, o que é bom, mas tem de se abster de uma defesa acerrima das posições do Vitória.