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terça-feira, outubro 05, 2021

Sugestão de Leitura

Um dos meus géneros de literatura preferidos são as biografias, autobiografias e memórias de políticos e governantes por entender, é o meu ponto de vista, que conhecendo-se a vida e obra dos seus protgonistas conhece-se melhor a História de um país.
Por isso comprei as "Memórias" de Francisco Pinto Balsemão (FPB) mal foram publicadas porque o seu autor, goste-se ou não dele (pessoalmente nunca simpatizei com o político Balsemão) , é um protagonista importante dos últimos cinquenta anos da vida de Portugal.
E que dizer destas quase mil páginas onde o autor espraia boa parte, mas não toda, a sua história ?
Que podem ser vistas de cinco prismas diferentes.
Há a vida pessoal, que está longe de ser a parte mais substancial do livro, onde FPB fala de si próprio, da família, das carreiras dos filhos, do papel importantissímo da sua segunda mulher ao longo de quase 50 anos de casamento.
Há outros aspectos que não aborda mas naturalmente sendo memórias só se lembra do que entende ser de lembrar.
Depois há a vida política iniciada na ala liberal ainda no Estado Novo e continuada na fundação do PPD, a chegada ao governo, e depois a primeiro ministro, e os diversos cargos que ocupou no partido embora afastado de cargos político/partidários desde 1983.
E essa parte é extremamente interessante nomeadamente o que conta sobre os anos iniciais do PPD, a colaboração com Francisco Sá Carneiro e os governos que chefiou bem como todos aqueles com que se entendeu e desentendeu nesses anos.
A parte substancial, e aquela pela qual FPB provavelmente mais gostará de ser lembrado, essa prende-se com a sua actividade como jornalista, e depois empresário na área da comunicação social, desde os inícios no Diário Popular passando pela fundação do Expresso e depois da SIC.
Expresso e SIC que terão sido as obra smais importantes da sua vida e que o recordarão como grande empresário e também como um visionário na área da comunicação social.
Existem na obra uma quarta e quinta partes que tem muito a ver com a maneira de ser do autor e com o papel que ele desempenhou ao longo da sua vida no que considera ter ajudado o mundo a ser melhor.
Na quarta parte fala dos títulos e honrarias que recebeu, dos amigos importantes que fez em todo o mundo, das grandes personalidades com que almoçou, jantou e recebeu em sua casa ou foi recebido em casa delas.
E o rol é imenso.
Do Rei Juan Carlos a Ronald Reagan, de Angêla Merkel a João Paulo II, de Margaret Thatcher a Henry Kissinger, de Fernando Henrique Cardoso a Jacques Santer são inúmeras as personalidades políticas dos século XX e XXI que FPB conheceu, com quem se relacionou ou até fez amizade.
Sem esquecer uma detalhada explicação sobre o que é o clube de Bildeberg, as suas actividades e os portugueses que ao longo de vinte anos convidou a estarem presentes nas suas sessões.
Bem como outra explicação, bastante elucidativa, sobre as guerras com a Ongoing do seu afilhado Nuno Vasconcelos e de Rafael Mora.
E depois há uma quinta parte que perpassa ao longo de todo o livro, que é desagradável e na qual considero que o autor exagerou.
São os ajustes de contas com aqueles que FPB considera que o trairam, que não foram dignos da sua amizade, que quiseram "matar o pai" que é uma expressão que usa repetidas vezes.
E o rol também aí é extenso.
Marcelo Rebelo de Sousa, Diogo Freitas do Amaral, Eurico de Melo (serão os três mais visados), Ramalho Eanes, Cavaco Silva, Helena Roseta, José Ribeiro e Castro, José António Saraiva, Emídio Rangel, Nuno Vasconcelos e muitos outros são alvo de causticas críticas de Balsemão.
Que nuns casos terá certamente razão, noutros alguma razão e noutros ainda razão nenhuma!
Acontece, porém, que alguns dos mais duramente visados, como por exemplo Freitas do Amaral e Eurico de Melo, já não estão cá para se poderem defender e exercerem o contraditório pelo que não fica nada bem a FPB a intensidade das críticas que lhes dirige.
Não havia necessidade como diz um célebre personagem do humor nacional.
Em suma um livro que se lê bem, com bastante interesse, que contribui para um melhor conhecimento de muitos aspectos da nossa História dos últimos 50 anos.
Gostei de o ler e recomendo.
Depois Falamos.

P.S. Como também gostei de ler a biografia (não autorizada) de Balsemão escrita por Joaquim Vieira.
De alguma forma os dois livros completam-se.

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