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sexta-feira, maio 14, 2021

Serenamente

Depois da derrota com o Famalicão, que contribuiu para o triste recorde de sempre de derrotas caseiras num único campeonato, quando ainda falta recebermos o Benfica, e para fragilizar bastante a nossa candidatura europeia, resisti à tentação de opinar de imediato sobre a actualidade do clube (que vai para lá do futebol) e preferi fazer um compasso de espera mesclado de reflexão.
Li , nestes dias, muitas critícas e muitos elogios à actuação de Miguel Pinto Lisboa.
E também o acalentar de expectativas para o futuro.
Criticas à carreira das equipa A(essencialmente) B e sub 23, ás trocas de treinadores, ao abandono do director geral, à política de comunicação, à ausência de resposta às acusações do comentador Rui Santos, à demora no pedido de  marcação da AG, entre outras.
Elogios á compra das acções de Mário Ferreira, ao projecto do novo centro de estágio, ao mini estádio, aos muitos contratos profissionais feitos a jovens da formação, às melhorias nalguns sectores organizativos do clube.
E expectativas. 
Expectativas quanto ao que vai ser anunciado na AG (complementando aquilo que já se foi sabendo pelo "Desportivo de Guimarães", pelo "Jogo", pela "Bola", etc,etc,,etc) e que passará, segundo os expectantes, pelo anúncio do novo treinador, de meia dúzia de reforços, do novo director geral, do ponto de situação quanto á compra das acções a Mário Ferreira, da forma como foram aplicados os vinte milhões provenientes da antecipação de receitas, da real situação financeira (e não só) herdada da anterior direcção entre outras coisas.
Li e ouvi tudo isso.
Nos jornais, nas redes sociais, nas rádios locais , num programa "AVS Live" em que tive a oportunidade e o prazer de participar e em várias conversas telefónicas , presenciais e via Messenger/WhatsApp com amigas e amigos vitorianos.
Ponderado tudo isso, concordando com algumas das critícas e alguns dos elogios, resolvi não ir por nenhum desses caminhos (critíca ou elogio) nesta reflexão sobre o momento do Vitória preferindo, ao invés, centrar-me naquilo que será a AG do dia 29.
E olhando-a de uma perspectiva diferente da do normal adepto fazendo aquilo que é sempre o mais difícil que é por-me na posição de quem vai ter pela frente uma reunião de sócios extremamente exigente.
Em suma o que faria eu, associado 589, se estivesse no lugar do presidente Miguel Pinto Lisboa?
Levando já em linha de conta que algumas das coisas que eram para anunciar em primeira mão nessa AG já foram aparecendo em vários orgãos de comunicação social o que revela uma política de comunicação bastante discutível e apenas contribuiu para aborrecer ainda mais quem já estava bastante aborrecido.
Tenho a conviccção, que espero não ver nunca desfeita, que Miguel Pinto Lisboa é um homem bem intencionado, sem problemas com a Verdade e que por isso tem tudo a ganhar em na AG falar claro e pôr tudo, mas tudo mesmo, em cima da mesa.
E então que faria no seu lugar?
Começaria por um discurso pleno de humildade, reconhecendo o que correu mal, assumindo a total responsabilidade pelos erros e manifestando empenho absoluto num futuro bem diferente para melhor.
Explanando, mais tarde, o que faria para que esse futuro fosse realidade.
E entraria de imediato nas explicações necessárias e que são a razão de ser desta AG.
Ponto de situação sobre a compra das acções, explicando que lote já foi comprado, se está pago, se existem clausulas de reserva quanto ao registo da compra ou se já estão registadas em nome do clube, quando estará o assunto completamente resolvido.
Que destino foi dado à verba de vinte milhões de euros oriunda da antecipação de receitas, que parte foi para pagar dívidas, que parte foi para alavancar o futuro desportivo próximo, que outros destinos tiveram essas verbas.
Depois uma explicação absolutamente rigorosa e sem reservas sobre a situação financeira encontrada e sobre outras situações que eventualmente vão de encontro ao que se entende por boa gestão do clube.
Nomeadamente compra e venda de jogadores face ao número absolutamente invulgar de jogadores que entraram e sairam do clube nos últimos anos muitos dos quais nunca vestiram a camisola do Vitória.
Bem como a posição da direcção  do clube sobre processos judiciais em curso que constituiram para todos os vitorianos uma enorme surpresa dado centrarem-se em questões que não fazem parte das competências estatutariamente atribuidas a dirigentes. 
Nomeadamente o recebimento de comissões por venda de acções da SAD.
Pelo caminho, mas sem perder grande tempo com isso, um esclarecimento sobre as acusações do comentador Rui Santos mesmo sabendo-se que alguns deles, esclarecimentos, já foram aparecendo na comunicação social.
E se tudo isto for devidamente explicado creio que a razão de ser da AG estará plenamente cumprida.
E falaria então do futuro.
E do que faria para ele ser diferente do passado.
Não falando prioritariamente de futuros treinadores para as três equipa profissionais, nem de reforços para a primeira equipa, nem de directores gerais mas anunciando a forma como o projecto desportivo deve ser reestruturado desde a formação ao futebol profissional para ter garantias de sucesso.
Garantindo que a formação será aposta prioritária e que ela se fará essencialmente com base no futebolista português  e sempre que possivel da região identificado com os nosso clube, os nossos valores e os nossos adeptos.
Garantindo que acabará de uma vez por todas a aberração de cada treinador cada sistema táctico e que de futuro haverá um modelo de jogo desde os "Afonsinhos" até á equipa B que permita aos jogadores um desenvolvimento coerente e sem quebras.
Garantindo que o "scouting" será uma enorme prioridade e que ele se centrará mais no espaço nacional e menos noutros mercados onde a aquisição de futebolistas deverá caracterizar-se por uma enorme possibilidade de sucesso.
Garantindo que a primeira equipa continuará a ser formada por jogadores do clube, recusando empréstimos de clubes portugueses e aceitando excepcionalmente empréstimos de clubes estrangeiros desde que com clausula de opção ao alcance das possibilidades do Vitória.
Garantindo que na formação não haverá doravante futebolistas estrangeiros e que nos sub 23 e equipa B os que lá estiverem serão os tais cujo valor seja indubitável e que deêm garantias de poderem subir á primeira equipa.
Mas também falaria das modalidades.
E da forma como pensa a direcção reforçar a competitividade das principais equipas de voleibol e basquetebol que fizeram uma época claramente abaixo dos nossos pergaminhos e daquilo que se exige a equipas do Vitória em modalidades em que temos títulos nacioanis e taças de Portugal ganhas.
Dos objectivos para o andebol, recentemente regressado ao clube, da manutenção do elevado padrão competitivo do pólo aquático e dando uma panorâmica geral sobre as restantes modalidades do Vitória que são, todas elas, o garante de um ecletismo que nos orgulha.
Falaria, finalmente, do "banho" de vitorianismo que o clube precisa.
Reforçando a ligação aos sócios e adeptos com medidas concretas desde um merchandising acessível a uma política de cotas e lugares anuais amiga das famílias, passando pela criação de um efectivo Provedor dos adeptos que seja o seu interlocutor perante a direcção, chamando figuras carismáticas do nosso passado para encabeçarem acções de promoção do clube e captação de novos vitorianos, promovendo uma política de comunicação que seja eficaz, rigorosa, actual e abrangendo todas as vertentes do clube, todas as  modalidades e todo o futebol e não apenas a primeira equipa como algumas vezes acontece.
E feito isto ouviria os sócios durante o tempo necessário a que todos que quisessem intervir o pudessem fazer.
Percebendo que estão desiludidos, irritados, fartos de anos zero, saturados de verem o Braga cada vez mais longe e outros cada vez mais perto, cansados de saberem pelos jornais aquilo que deviam saber em primeira mão pelo clube através dos seus espaços comunicacionais próprios.
Com a paciência necessária a ouvir esta ou aquela acusação injusta, a aturar este ou aquele que só aparecem quando as coisas correm mal , a disponibilidade necerrária para explicar tudo as vezes que forem precisas.
Era assim que eu faria se estivesse no lugar de Miguel Pinto Lisboa.
Ele fará, obviamente, como muito bem entender e dentro do seu estilo próprio defendendo as suas ideias que nalgumas coisas podem até ser bem diferentes das minhas.
Do que não vem mal nenhum ao mundo porque eu limitei-me a expor aquela que é a minha visão do que deve ser o futuro e ele terá, com a legitimidade acrescida de ser presidente, a dele
Sabendo que as coisas não estão fáceis, que o motivos de desagrado existem, mas que tem um capital de prestígio pessoal e de credibilidade pela forma como está a tentar tirar o Vitoria de onde o encontrou que poderão ser potenciados na AG e contribuirem para um relançamento do seu mandato.
Como vitoriano espero, e desejo, que esta AG seja um ponto de viragem e que o Vitória saia dela mais forte, mais determinado e mais unido para poder vencer os muitos desafios que tem pela frente.
E acredito que muito disso depende da forma como Miguel Pinto Lisboa e a sua direcção esclarecerem os associados acerca dos assuntos que os preocupam.
Felizmente está na nossa mão, associados e direcção, resolvermos os nossos problemas dentro de nossa casa sabendo, uns e outros, que os adversários e inimigos estão lá fora e que cá dentro haver diferenças de pontos de vista entre associados é apenas uma forma salutar de vivermos um ADN muito próprio.
Sabendo tudo isso seria uma pena desperdiçarmos esta oportunidade de fazer da AG um momento marcante do nosso clube.
Acredito que isso não acontecerá.
Depois Falamos.

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