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quinta-feira, dezembro 03, 2020

Dispensável

Antes que apareçam as habituais leituras perversas dos que não falam nos orgãos mas tem vastas opiniões no Facebook digo, desde já, que este texto é uma mera reflexão que não visa individualmente ninguém nem sequer critica quem quer que seja.
Toda a minha vida , desde os 15 anos de idade, tive participação política e participação partidária durante décadas no PSD e nos dois últimos anos na Aliança como é mais ou menos sabido.
Conheço os partidos, especialmente aqueles cujo funcionamento é democrático, sei que todos eles tem momentos altos e momentos baixos, períodos de grande afluência de novos militantes e outros em que a militância diminui quando não se esvai mesmo.
Recordo- me sempre de o meu amigo Sérgio, um dos fundadores do PRD no distrito de Braga, me contar que em 1985 quando esse partido concorreu pela primeira vez a eleições legislativas durante a campanha no distrito eram meia dúzia a trabalharem mas na noite eleitoral com o partido a eleger mais de 40 deputados no país era tanta gente na sede distrital que nem as escadas se conseguia subir!
As coisas são o que são.
A Aliança que conheço muito bem já teve fases diferentes na sua ainda curta vida.
As coisas correram muito bem desde a fundação ao congresso de Évora, que foi o seu grande momento até hoje, depois correram ainda melhor até às europeias com uma grande galvanização dos que já estavam e a contínua entrada de novos militantes mas o resultado dessas eleições foi um enorme soco no estômago de que em boa verdade nunca recuperaria por completo.
Das europeias às legislativas as coisas aguentaram-se, o partido continuou a crescer mas o resultado dessa eleição foi um segundo e brutal soco de que nunca mais recuperou.
De lá para cá, neste ano decorrido, o partido conseguiu sobreviver num cenário muito difícil que vai da ausência de subvenção estatal aos problemas próprios da pandemia que impossibilitaram uma vida partidária normal passando pela saída de militantes em número que não conheço mas que assumirá algum significado.
E o ponto que quero trazer a esta reflexão é precisamente esse.
Num partido democrático qualquer cidadão , desde que cumpra o preceituado nos estatutos, tem o direito de se inscrever como também tem o direito de quanto entender que já não está a fazer nada no partido se ir embora. 
E respeitando muito a decisão dos que entenderam sair não posso esconder que foi com muita pena que vi partirem pessoas que deram um contributo valioso ao partido e das quais se esperava que fossem não só um dos sustentáculos do presente como os alicerces de um futuro que todos queríamos radioso.
Mas acontece em todos os partidos.
O que não acontece em todos os partidos, mas infelizmente tem acontecido no Aliança, é o frenesim com que muitos dos que partem (não todos porque muitos sairam com a discrição e elegância com que entraram) se precipitam para o Facebook para dizerem ao mundo que já não são militantes do partido como se porventura o mundo estivesse nisso interessado ou a sua participação no partido tivesse tido um destaque que justificasse o sentirem-se na obrigação de darem explicações a alguém sobre as razões que os levaram a sair.
Infelizmente nalguns casos o "contributo" que deram foi apenas no sentido de fomentarem problemas e alimentarem polémicas.
E quando na saída não só anunciam ao mundo que se foram, de forma quase triunfal como se exibissem um troféu de relevante serviço ao país, como ainda fazem questão de exporem na praça pública (com doses variáveis de veracidade) problemas internos do partido parecendo apenas estarem interessados em fomentarem uma politica de terra queimada e transmitirem a ideia que sem eles será o caos o que traduz uma falta de respeito por uma casa em que ninguém os obrigou a entrar bem como por aqueles que pensando de forma diferente continuam a militar no partido.
Dir-me -ao que estamos no tempo das redes sociais com tudo quanto isso implica em termos de perda de privacidade das pessoas e das instituições.
Será.
O que não me dispensa de dizer que tendo respeito natural por todos me parece que aqueles que fazem da sua saída algo exclusivo da relação entre ex militante e partido demonstram uma atitude de muito maior maturidade política e de consolidada cultura cívica.
Depois Falamos.

P.S. Aqueles que me acompanharam, enquanto fui directo executivo da Aliança, em muitas reuniões pelo país podem bem testemunhar quantas vezes alertei as pessoas para o problema para o partido que as redes sociais poderiam ser. Se me enganei foi por defeito!

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