O eng Eurico de Melo, falecido em 2012, foi um dos poucos sábios que tive o prazer (e a honra) de conhecer, de com ele conversar nalgumas ocasiões e de lhe ouvir em espaços diversos intervenções políticas em que vinha sempre ao de cima uma sabedoria, uma sensatez e um experiência de vida que fizeram dele uma das grandes referências do PSD e do próprio Estado democrático.
Colaborador leal e ministro dos governos de Francisco Sá Carneiro, conselheiro privilegiado e vice primeiro ministro de Aníbal Cavaco Silva, Eurico de Melo foi o caso raro de num país em que a importância vem dos cargos nunca precisar de cargo nenhum para a sua voz ser ouvida, respeitada e muitas vezes temida.
Porque sem renegar a sua condição de militante fundador do PSD, e também da secção de Guimarães ao lado do Dr. Fernando Alberto Ribeiro da Silva, foi sempre um homem de pensamento livre que nunca temeu expôr as suas opiniões mesmo sabendo que elas poderiam desagradar ao próprio partido ou aos seus líderes.
Afinal aquilo que está na génese e devia estar na prática, mas tantas vezes não está, dos partidos democráticos.
Recordo-me a título de exemplo que por 2002 ou 2003, já não consigo precisar a data exacta, o governo liderado por José Manuel Durão Barroso a par de tentar tirar o país do pântano em que Guterres o deixara estava a tentar levar a cabo algumas reformas bem necessárias ao desenvolvimento do país e entre elas uma reforma da administração local que criou comunicades urbanas, comunidades intermunicipais e por aí fora.
Era uma reforma polémica, contestada por muita gente no mundo autárquico e não só dado não descortinarem as vantagens reais de que se podia revestir, e que motivou acesos e acalorados debates de norte a sul do país.
O grande impulsionador dessa reforma, e profundo entusiasta dela, era o então secretário de estado da administração local Miguel Relvas que a defendeu com unhas e dentes mesmo sabendo do ceptismo que acerca dela existia mesmo dentro do próprio PSD onde muitos militantes se sentiam desconfortáveis perante as alterações previstas.
Foi então que o eng Eurico de Melo, que ao tempo já não tinha nenhum cargo executivo no partido, entendeu pronunciar-se sobre a citada reforma dizendo que era a reforma de um secretário de estado mas não a reforma de um governo!
Creio que as palavras se não foram exactamente estas foram no mesmo sentido.
E marcavam a diferença indelével entre o que ele considerava uma grande reforma e uma reforma de importância relativa porque a primeira seria sempre de todo um governo enquanto a segunda seria apenas de um membro desse governo.
Nunca me esqueci dessas palavras e da sabedoria que delas emanava.
E neste anos todos que se lhes seguiram, e já foram dezassete ou dezoito, sempre que estou perante uma reforma ou um projecto qualquer, ainda que "pintada(o)" com cores magníficas que lhe dão uma aparência irresístivel, interrogo-me sempre se será a reforma de um governo ou apenas de um seu membro.
E este exemplo vindo das palavras sábias do eng Eurico de Melo não tem aplicação apenas no universo político porque é muito mais abrangente do que isso.
Depois Falamos.
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