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sábado, agosto 22, 2020

Vitória 74/75 (1)

Para a minha geração, e obviamente para as gerações mais novas, quando se fala de grandes equipas do Vitória há uma tendência natural para considerar que a de 1986/1987 treinada por Marinho Peres foi a melhor de sempre do clube por força das exibições, dos resultados, do terceiro lugar e do percurso europeu.
As gerações anteriores ainda viram jogar excelentes equipas, com realce para as de Edmur, Ernesto e Carlos Alberto (eu essas não vi)num tempo em que o futebol era muito diferente, mas nestes últimos 50 anos a tendência é realmente para considerar  a de 86/87 como a melhor.
Devo dizer que tenho dúvidas se terá sido a melhor deste meio século.
Porque há pelo menos outras duas que bem podem reivindicar esse estatuto honorário.
A de 1968/1969 treinada por Jorge Vieira que ficou em terceiro lugar a três escassos pontos de ser campeã nacional, e que jogava um futebol de excelência, e a de 1974/1975 treinada por Mário Wilson e de que vou falar neste texto.
Porque me parece importante relembrar uma equipa que em muitas questões foi um exemplo.
Porque jogava excelente futebol, porque ainda hoje detém o recorde de ter sido a única equipa a classificar-se em quinto lugar no campeonato e simultaneamente ter o melhor ataque da prova (64 golos), porque nos vinte e dois jogadores utilizados dezassete eram portugueses e cinco brasileiros, porque nesses vinte e dois se dava o facto de oito serem oriundos da formação e seis deles nascidos em Guimarães.
Foi também uma equipa a quem o famigerado "sistema" fez um conjunto de patifarias que ficaram para sempre na memória dos vitorianos e uma delas perdura como um dos episódios mais lembrados da História do nosso futebol.
A primeira prendeu-se com o goleador Jeremias.
O Vitória estava a fazer um grande campeonato, a discutir o primeiro lugar e na primeira jornada da segunda volta a equipa deslocava-se ao pelado de Espinho para um jogo que se previa difícil mas o árbitro tornou pior ao expulsar Jeremias aos 26 minutos (supostamente por palavras) deixando o Vitória com dez jogadores e a perder por 0-2 ao intervalo.
A equipa fez uma segunda parte sensacional, venceu por 3-2 mas o pior estava para vir quando o conselho de disciplina puniu Jeremias com seis (!!!) jogos de castigo. 
A cidade saiu à rua, fizeram-se manifestações com milhares de pessoas mas de nada adiantou e nesses seis jogos sem o goleador a equipa perdeu dois, empatou outros dois e atrasou-se na tabela classificativa.
A segunda foi na Taça de Portugal.
Nos oitavos de final, disputados no fim de semana seguinte a um polémico fim de campeonato (lá iremos), o Vitória encontrou o Porto dando-se a curiosa circunstância de ambos os clubes terem os estádios interditos pelo que o jogo se disputou em terreno neutro mais propriamente na Póvoa de Varzim.
Foi um grande jogo de futebol, num estádio a abarrotar, com várias alternâncias no marcador e que terminou empatado a três golos pelo que houve a necessidade de jogo de desempate a meio da semana. 
E ai, contrariando o desejo do Vitória de voltar a jogar na Póvoa, a FPF marcou o jogo para Braga fazendo a vontade ao Porto que disputado numa quarta feira a meio da tarde e com uma arbitragem que cometeu vários erros graves, lesando sempre o Vitória, terminou com a eliminação dos vitorianos por 2-3.
O Porto chegou a 3-0 antes do intervalo e depois numa segunda parte de enorme entrega o Vitória, desfalcado por lesões e castigos, ainda fez dois golos por Tito mas não foram suficientes.
Mas a patifaria das patifarias nessa época (na época seguinte viria uma ainda maior com o mesmo protagonista e face ao mesmo adversário) foi mesmo no último jogo do campeonato frente ao Boavista.
O Vitória entrou para essa partida em quarto lugar, e com dois pontos de avanço face ao adversário ,e bastava-lhe empatar o jogo para lograr o mais que merecido apuramento europeu depois de uma época brilhante.
Infelizmente com as duas equipas entrou em campo um trio de arbitragem chefiado pelo famigerado António Garrido e o resto da história é sobejamente conhecido passando por um cerco ao estádio por milhares de vitorianos em fúria, por um carro queimado e por uma intervenção do COPCON depois de horas de cerco para retirar o árbitro do estádio perto da meia noite.
E por isso essa grande equipa do Vitória que no terreno de jogo foi bem melhor que o quinto lugar obtido viu o "sistema" roubar-lhe uma bem melhor classificação, uma possível ida em frente na Taça e um mais que merecido, repito, apuramento europeu.
Para mim essa equipa de 1074/1975 fois das melhores de sempre do Vitória e não teme comparações com nenhuma outra.
Depois Falamos.

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