O Dr. António de Oliveira Salazar não gostava do Parlamento.
Eleito deputado pelo círculo de Guimarães em 1921 esteve na sessão inaugural dessa legislatura e nunca mais lá pôs os pés durante o meio ano que ela durou (nesses tempos conturbados as legislaturas duravam pouco) até acontecer mais uma dissolução.
Curiosamente foi a única vez que foi eleito democraticamente para um orgão de soberania.
Depois não só nunca mais foi candidato a deputado como ao longo das décadas que liderou o governo do "Estado Novo" frequentou muito pouco a Assembleia Nacional (ao tempo era esse o nome do Parlamento) só lá aparecendo em momentos particularmente importantes como o final da II guerra mundial, a invasão da Indía Portuguesa pelas tropas de Nehru ou o início das guerras de África para citar apenas três exemplos.
E não consta que alguma vez nas suas idas ao parlamento tenha respondido a perguntas de deputados porque nem os debates parlamentares com o primeiro ministro existiam ,nem havia sequer oposição a exercer o contraditório, nem Salazar gastava mais tempo lá do que o necessário para fazer o discurso e de imediato se retirava.
Tinha uma invencível repugnância pela instituição parlamentar, considerava que no Parlamento se falava muito e se resolvia pouco, confidenciava aos seus mais próximos (vidé a monumental biografia de Salazar escrita por Franco Nogueira) que tinha mais que fazer do que ir ao parlamento gastar o seu precioso tempo.
Usava o Parlamento quando lhe convinha, por regra para se dirigir ao país de um palco institucional, mas nada mais do que isso.
António de Oliveira Salazar faleceu a 27 de Julho de 1970 fará 50 anos daqui por alguns dias.
O regime resistiu-lhe mais quatro anos e viria a morrer em 25 de Abril de 1974.
A doutrina salazarista do anti Parlamentarismo, da subalternização da instituição parlamentar, do usar o Parlamento quando dá jeito para encenar o que convém, resistiu ao desaparecimento de Salazar e continua a andar por aí.
Até por onde se supunha ser insuspeito manifestar-se.
Depois Falamos.
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