Já por diversas vezes tive oportunidade de neste espaço manifestar as maiores dúvidas e reservas sobre o recomeço do campeonato nestas condições sanitárias que colocam em risco a saúde dos participantes na competição porque entendo, e ainda ontem o Papa Francisco o disse com uma sabedoria única, que sendo a economia importante as pessoas o são muito mais.
Mas a decisão está tomada, traduzindo a convergência entre as vontades
de governo, FPF, LPFP e a maioria dos clubes do primeiro escalão, pelo que a
partir de quarta feira a bola voltará a rolar em todos os estádios excepto o de
S. Miguel nos Açores e no Jamor (casa emprestada do Belenenses SAD) porque os
açorianos decidiram instalar-se na cidade do futebol em Oeiras e o estádio
nacional nunca poderia ser utilizado porque era preciso legitimar a decisão de
estes época levar a final de Taça para outro lado.
E permita-se-me um aparte para dizer que também o cancelamento abrupto
e inexplicável da II Liga terá dado muito jeito para legitimar outros
cancelamentos.
Este recomeço do campeonato em condições tão “sui generis” traz com ele
algumas curiosidades que só ao fim das dez jornadas que faltam poderão ser
cabalmente esclarecidas.
A primeira , e talvez a maior,
prende-se com o sabermos como vão reagir as equipas aos jogos sem público.
Especialmente aquelas que tem no público o seu décimo segundo jogador ,que
tantas vezes se torna fundamental através do incentivo e apoio , e fazem dele uma arma para motivar os seus
jogadores e condicionar adversarios (e até equipas de arbitragem)
permitindo-lhe resolver jogos que sem esses apoio seriam complicados.
Em Portugal há essencialmente cinco equipas cujo apoio popular tem
significado não só nos jogos em casa como especialmente nos jogos fora onde
tantas vezes fazem as suas equipas sentirem-se em “casa”.
São elas , por ordem descendente em termos de adeptos, Benfica, Porto,
Sporting, Vitória SC e Sporting de Braga que são de longe os cinco clubes
portugueses com mais adeptos e aqueles que em todos os jogos tem um número
significativo deles nas bancadas.
São cinco clubes que em casa (especialmente os quatro primeiros) tem
em todos os jogos uma maioria esmagadora de adeptos e fora tem sempre grande
número deles nas bancadas que muitas vezes fazem as suas equipas sentirem-se
como se nos seus estádios estivessem.
São aqueles que poderão, em teoria pelo menos, sentir uma maior
estranheza pelas bancadas vazias desconhecendo-se qual será o efeito disso nos
jogadores e de que forma influenciará o seu rendimento.
Cabe aqui recordar que na Bundesliga, o único dos grandes campeonatos
que já foi reatado, a percentagem de vitórias forasteiras subiu de forma
acentuada o que pode querer dizer que a ausência de público nivelou os jogos.
A segunda curiosidade tem a ver com a resposta dos jogadores em termos
fisícos a esta prolongada paragem competitiva e a um regresso aos treinos que
pouco menos foi do que anedótico face às condições que lhes foram impostas.
Treinos individuais durante boa parte das últimas semanas, poucos
treinos de conjunto , desconhecimento de como reagirão os jogadores ao esforço
que lhes vai ser pedido durante as próximas semanas com o Verão à porta e dez jogos para fazerem
em menos de dois meses.
Citando uma vez mais a Bundesliga cabe aqui recordar que nestas
jornadas pós reatamento se regista um número de lesões musculares bem acima da
média o que certamente algo quererá dizer e tem de funcionar como um alerta
para as restantes competições.
A terceira curiosidade prende-se com esta regra provisória das cinco
substituições.
É uma regra que obviamente favorece os mais fortes (quanto melhor for
o plantel melhores são as opções e portanto melhores as hipóteses de reforçar a
equipa a cada substituição) e introduz uma alteração regulamentar com a prova a
decorrer de legalidade altamente duvidosa e susceptível de provocar problemas
legais que a Liga, sem grande sucesso ao que parece, está a tentar tornear
pondo os dezoito clubes a assinarem declarações de aceitação da regra que
inviabilizem possíveis impugnações da classificação final.
Mas para lá das questões legais a curiosidade está mesmo em saber como
cada clube irá utilizar essa possibilidade das cinco substituições (se ela
for aplicável) e até que ponto ela terá
influência nas estratégias de jogo de cada equipa e de cada treinador.
E tal como os “Três Mosqueteiros” que afinal eram quatro também aqui
há lugar a uma quarta curiosidade que é a de saber se com bancadas sem público,
e portanto muito menos pressão, os árbitros vão melhorar o nível qualitativo
das suas actuações ou se as outras “pressões”,dos cartilheiros às notas dos
observadores de arbitragem, vão continuar a fazerem lei e a condicionarem os homens
do apito a não desagradarem aos clubes mais fortes.
Curiosidades que lá para o fim de Julho estarão esclarecidas.
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