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sexta-feira, junho 05, 2020

Brigada do Reumático

O episódio que ficou conhecido como a "Brigada do Reumático" sempre me impressionou quer pelo significado de que se revestiu nesse período histórico quer pelo que ele traduz de uma certa forma de ser do português que se transmite de geração para geração.
A história é conhecida.
Numa fase já terminal do antigo regime um dos mais prestigiados generais portugueses, António de Spinola, publicou o livro "Portugal e o Futuro" em que dizia "alto" o que muitos pensavam "baixo" e que grosso modo constituia um conjunto de verdades incómodas para um regime quase moribundo mas em que os seus defensores se recusavam a ver a realidade.
Nomeadamente a defesa de que a solução militar para as guerras de África não tinha viabilidade e a necessidade de encontrar uma solução política que permitisse resolver um problema que de dia para dia se tornava cada vez mais complexo.
Escrito por Spínola e com publicação autorizada pelo seu superior hierárquico -Costa Gomes- o livro causou um abalo profundo no regime já então muito dividido entre os ultras que rodeavam o Presidente da República - Américo Tomás- e os adeptos de uma liberalização que apoiavam o Presidente do Conselho - Marcelo Caetano- deixando no ar muitas interrogações sobre quem verdadeiramente liderava o país.
Irritado com o livro, atingido pelas verdades que preferia manter ocultas, o regime reagiu drasticamente demitindo os dois generais das suas funções e chamando a S.Bento oficiais generais dos três ramos das Forças Armadas para um "beija mão" ao governo que vincasse bem o seu comprometimento com as políticas que vinham sendo seguidas.
E assim foi.
Os oficiais generais foram a S. Bento garantiram a Marcelo Caetano que tudo estava bem, que o compromisso com as políticas por ele dirigidas era total, que a unidade contra os que defendiam outra linha de actuação era sólida e não permitia qualquer fissura pelo que o regime podia estar tranquilo.
Dois dias depois deu-se o chamado "golpe das Caldas".
Quarenta e dois dias depois o "25 de Abril".
Provando que as promessas da "Brigada do Reumático" eram palavras vãs, ditas ao sabor das circunstâncias, sem qualquer conexão com a realidade e prontas a serem desmentidas na primeira oportunidade, digna desse nome, como veio a acontecer.
Prova, para a vida, que os apoios , qualquer tipo de apoios, ou são sinceros, sentidos e mobilizadores ou então não passam de manifestações de hipocrisia , conformismo e distanciamento da realidade mais não servindo do que para reeditar o episódio da "Brigada do Reumático".
Depois Falamos.

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