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segunda-feira, maio 11, 2020

Indignidade

O pomposamente chamado "Código de Conduta",que regulamentará o regresso do campeonato da primeira liga, é um documento de uma indignidade tal que remete os jogadores do futebol para os tempos da escravatura e da famigerada lei da opção. No ponto 1 diz isto:

" 1. A FPF, a Liga Portugal, os clubes participantes na Liga NOS e os atletas assumem, em todas as fases das competições e treinos, o risco existente de infeção por SARS-CoV-2 e de COVID-19, bem como a responsabilidade de todas as eventuais consequências clínicas da doença e do risco para a Saúde Pública ."
Lê-se e não se acredita que num estado democrático seja possível semelhante aberração. Os jogadores são obrigados a assumirem a responsabilidade do que corra mal, em termos clínicos e de saúde pública, pelo reatar de uma competição em condições sobre as quais não foram ouvidos nem achados. Seria bom que quem lhes impõe esta aberração esclarecesse qual a posição das seguradoras sobre o assunto. Porque não me parece que os seguros desportivos sejam compatíveis com esta cláusula o que poderá significar que no caso de algo correr muito mal os jogadores ficarão com a responsabilidade toda e sem qualquer indemnização por eventuais incapacidades. Mas a indignidade não se fica por aqui. Ora veja-se este ponto 6:
"6. Para este efeito, os membros do clube (que devem ser reduzidos ao mínimo indispensável) e os coabitantes dos atletas, equipas técnicas e árbitros ficam igualmente obrigados ao dever de recolhimento domiciliário imposto aos atletas.
Ou seja: O totalitarismo não abarca apenas os jogadores mas também as suas famílias que com eles residam. Que são obrigados também a um recolhimento domiciliário idêntico ao dos próprios jogadores.
Mulheres, namoradas, filhos, pais e outros familiares que partilhem habitação com os jogadores são obrigados a prescindir da sua vida própria, de irem trabalhar, de frequentarem as escolas, apenas e só porque Governo, DGS, FPF, LPFP e alguns clubes querem reatar o campeonato a qualquer preço, custe o que custar, doa a quem doer.
Com que direito isto lhe é imposto? Ao abrigo de que lei do estado democrático isto é possível? A quem interessa que o futebol seja um Estado totalitário dentro de um estado democrático?
Uma vergonha e uma indignidade que nos deve indignar a todos.Ao que se sabe a Constituição da República, tão evocada a outros pretextos, não permite nenhuma forma de escravatura.
Mesmo que no futebol a desejem!

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