Há quem ache que a História não se repete e há quem ache exactamente o contrário.
Não sei se assim é ou se existe um meio termo entre as duas posições que de alguma forma permita conciliá-las até porque o passar dos tempos vai-nos apresentando situações que se não são uma repetição exacta do que já se passou são, ainda assim possuidoras de semelhanças várias.
É o caso das presidenciais de 2021.
Recuemos a 1976.
Poucos meses após o injustamente pouco celebrado 25 de Novembro, que garantiu a democracia, defrontaram-se nas eleições presidenciais de 27 de Junho de 1976 as áreas políticas que já se tinham defrontado ao longo do PREC com o culminar do confronto a suceder nesse citado dia 25 de Novembro.
De um lado António Ramalho Eanes apoiado por PSD, PS, CDS, MRPP e mais alguns pequenos partidos então existentes e do outro os derrotados do 25 de Novembro divididos pelas candidaturas de Otelo Saraiva de Carvalho e Octávio Pato, registando-se ainda uma candidatura algo "romântica" do almirante Pinheiro de Azevedo.
Eanes ganhou facilmente com 62% , ficando a seguir Otelo com 16%, Pinheiro de Azevedo com 14% (estando na altura hospitalizado após um enfarte) e Pato com uns melancólicos 7,5% dos votos expressos.
Quatro anos depois tudo foi diferente.
O PSD e o seu líder, Francisco Sá Carneiro, que em 1976 tinham sido os primeiros a apoiarem Eanes foram também os primeiros a afastarem-se dele promovendo a candidatura do general Soares Carneiro por considerarem que o mandato de Eanes não tinha correspondido às expectativas do eleitorado que o elegera em 1976 e, bem pelo contrário, significara uma aproximação aos derrotados de então.
O CDS, ao tempo coligado com o PSD na AD (Aliança Democrática) acompanhou-o nessa posição enquanto o PS vivia um drama interno com o seu líder, Mário Soares, a recusar-se a apoiar Eanes enquanto um grupo de dirigentes que ficou conhecido como o ex secretariado (Zenha, Sampaio, Guterres entre outros) se colocava ao lado do então presidente levando com eles boa parte do eleitorado socialista.
Na área da AD verificaram-se ainda duas candidaturas , as de Galvão de Melo e Pires Veloso, ambas com resultados insignificantes enquanto à esquerda Otelo repetia a candidatura mas ida a aura revolucionária teve apenas 1,49% enquanto o PCP escaldado pelo resultado de Pato candidatou Carlos Brito que depois de passar a campanha a atacar Soares Carneiro desistiria à boca das urnas a favor de Eanes. Uma estratégia que o PCP voltaria a usar por várias vezes em presidenciais seguintes.
Eanes foi reeleito com facilidade (entretanto dera-se o atentado de Camarate) com 56% contra os 40% de Soares Carneiro.
Ou seja trocando de eleitorado , sendo apoiado agora pelos que o tinham combatido antes, Eanes voltou a vencer.
Regressemos ao tempo presente e às presidenciais de Janeiro de 2021.
E face ao que tem sido o desenrolar do processo político dos últimos anos não custa a crer que Marcelo Rebelo de Sousa repita o percurso de Ramalho Eanes.
Eleito em 2016 essencialmente com o apoio do PSD e do CDS mais eleitorado moderado do centro captado à abstenção e ainda socialistas que não se reviam na candidatura "misteriosa" de Sampaio da Nóvoa ou na "patetice" protagonizada por Maria de Belém, Marcelo praticamente desde o primeiro dia do seu mandato foi-se afastando do eleitorado que o elegera para, encostado de forma quase pornográfica ao governo, ir em busca dos votos de esquerda que lhe permitissem uma reeleição triunfante e por números históricos.
Com isso perdendo progressivamente o apoio do eleitorado que nele votara e no qual a desilusão é galopante.
Não sei qual será a posição dos partidos quanto ao apoio aos candidatos presidenciais de 2021.
Imagino que uns por obrigação, outro por agradecimento, outros por quererem estar na candidatura vencedora e outros ainda por tacticismo acabarão por apoiar Marcelo.
Mas desconfio que tal como Eanes, e para lá da posição oficial das direcções partidárias, Marcelo será reeleito trocando de eleitorado. Onde antes o centro direita, centro e centro esquerda tinham sido decisivos agora será o centro mais à esquerda e a própria esquerda.
A ver vamos.
Depois Falamos.
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