Páginas

segunda-feira, abril 27, 2020

Caras de Pau

Até 2015 alguns deles eram os guardiães da fé. 
Da fé no ex lider, na sua liderança, no dogmatismo absoluto das suas decisões. 
Mas depois o ex lider ganhou as eleições no país mas perdeu o governo na "bolha" lisboeta em que tudo se decide e ficou claro que a curto prazo se iria embora porque não estava, nunca esteve, agarrado a nada.
E a fé foi afrouxando e as "antenas" entraram em velocidade máxima tentando captar quem seria o novo líder merecedor de uma fé tão absoluta como no anterior.
Lá o descobriram.
E embora a liderança, o estilo, a eficácia eleitoral estivessem nos antipodas do ex lider o dogmatismo com que passaram a ser guardiães da nova fé não temia comparações com tantos "rasgar de vestes" na defesa da antiga.
E em nome dela, e do actual líder, passaram a estar sempre prontos a negar o ex lider como Pedro negou Cristo. E por razões não muito diferentes em boa verdade.
Conhecedores da velha máxima de "rei morto ,rei posto" eles estão sempre com o "rei" posto. Alguns  com grande capacidade de adaptação, chamemos-lhe assim, já mudaram de "rei" mais vezes do que mudam de camisa mas isso são detalhes que não os incomodam especialmente se o novo "rei" os receber como se fossem virgens impolutas em matério de contorcionismo.
Por estes dias o actual líder foi a um programa televisivo supostamente de humor.
E permitiu entre sorrisos muito bem dispostos que o humorista em perda se referisse ao legado do ex líder como um vírus (num tempo em que brincar com vírus não tem seguramente piada nenhuma) e ainda ajudou à festa referindo-se aos que lealmente (esses sim!) ajudaram o ex-lider num combate dificílimo por Portugal, num tempo em que alguns andavam de braço dado com os adversários desse combate, como uma pandemia interna que ele próprio andava a combater.
Perante este conjunto de alarvidades, que seguramente incomodaram muitos que nem do partido fazem parte mas tem respeito e gratidão pelo trabalho do ex líder enquanto primeiro-ministro, que fizeram os tais que até 2015 "matariam" por muito menos quem ousasse referir-se ao ex líder de forma menos correcta?
Ficaram calados como é evidente. Não houve um, que se saiba, que tivesse a dignidade de se demarcar daquele momento patético e ofensivo de uma memória que devia ser colectivamente preservada.
É preciso uma enorme cara de pau para aceitarem isso sem esboçarem uma reacção, esgrimirem um gesto digno, marcarem o respeito por si próprios.
Um que fosse!
Mas  a carne é fraca e as cadeiras do Parlamento muito confortáveis.
O resto é treta.
Depois Falamos.

Sem comentários:

Enviar um comentário