A jornada europeia da passada semana foi mais esclarecedora quanto ao
que vale hoje, realmente, o futebol português do que as mil e quinhentas horas
semanais de programas televisivos sobre futebol ( em boa verdade sobre três
clubes) , mais as notícias em todos os telejornais e as quase sempre
encomiásticas primeiras páginas dos jornais supostamente desportivos mas que
raras vezes fogem do seu destino de boletins dos tais três clubes.
Porque nas competições europeias, com os tais árbitros estrangeiros
que tanto se reclamam para alimentar guerrilhas domésticas mas que em boa
verdade não dariam jeito nenhum aos que tanto gostam de árbitros portugueses,
com ritmos e intensidade de jogo que nada tem a ver com as manhosices do nosso
campeonato, com os VAR a estarem lá para ajudar à verdade desportiva e não como
cá em que são orgão auxliar de recurso quando no relvado as coisas não se
resolvem, com tudo isso mais a valia das equipas que chegam a esta fase das
competições as equipas portuguesas foram varridas de uma penada da Liga Europa
numa debacle como há muito não acontecia.
Também por culpa própria, é verdade, mas já iremos ao detalhe.
Não esquecendo que o “meu” Vitória nem da fase de grupos passou mas
realizando, porventura, as melhores exibições europeias esta época feitas por
qualquer uma das equipas portuguesas e que deixaram um travo amargo num não
apuramento que podia ter tido outro desfecho.
Quanto ás outras há que dizer o seguinte:
Aquando do sorteio que destinou Shaktar, Leverkusen, Istambul e
Rangers como adversários das equipas portuguesas tive, desde logo , a percepção
de que Benfica e Porto dificilmente passariam (não, não me guio por A Bola,
Record, O Jogo) , o Braga seria uma incógnita porque as equipas escocesas são
capazes do melhor e do pior em muito pouco tempo enquanto que o Sporting me parecia
francamente favorito para a sua eliminatória.
Disputados os jogos da primeira mão, que se saldaram por três derrotas
e um solitário triunfo precisamente do Sporting, o panorama parecia melhor
porque os derrotados tinham-no sido pela margem mínima mas todos eles tinham
marcado fora o que é muito importante em provas deste género.
Mas havia sinais de aviso que convinha não ignorar e que passavam pela
categórica recuperação do Rangers de 0-2 para 3-2 , para a sensação de que
Benfica e Porto tinham perdido ambos por 1-2 mas bafejados por alguma sorte
porque seus adversários fizeram o suficiente para resultados mais folgados e
para o incómodo que um resultado de 3-1 sempre causa por oposição a um 3-0 que
é um resultado quase definitivo na esmagadora maioria dos casos.
E veio a segunda mão.
Que começou logo mal quando um Rangers nos seus melhores dias passeou
por Braga e conquistou um apuramento que parecia difícil mas que os seus
jogadores tornaram fácil face à qualidade da exibição produzida.
Fazendo com que o Braga europeu de Rúben Amorim fosse a antitese do
Braga europeu de Sá Pinto precisamente o
contrário do que tem acontecido no campeonato!
Depois o Porto frente ao Bayer Leverkusen, uma das quatro ou cinco
melhores equipas alemãs,foi a exibição bem conseguida de uma incapacidade
confrangedora da equipa portuguesa absolutamente incapaz de fazer frente a uns
alemães que fizeram da viagem ao “Dragão” quase uma visita turística e chegaram
a fazer perpassar a memória de uns jogos com o Liverpool poucos anos atrás.
É verdade que qualquer uma das cinco ou seis melhores equipas alemãs é
melhor que qualquer equipa portuguesa mas mesmo assim a fragilidade portista,
nomeadamente no sector defensivo, deve ter dado (e assim continuará) grandes
dores de cabeça aos seus responsáveis cientes da necessidade de reforços de
qualidade e conscientes de que não tem dnheiro para eles.
O Sporting foi a maior das surpresas
negativas desta noite europeia em que nenhuma surpresa positiva há a
registar.
Porque jogava com o adversário mais fraco, porque ia para a Turquia
com dois golos de vantagem e porque na primeira mão dera uma clara sensação de
superioridade face a uma equipa turca da quarta divisão europeia.
Mas o Sporting vive numa permanente crise de resultados, de ânimo, de
falta de jogadores de qualidade, de estabilidade exibicional e emocional fruto
de tudo que vem acontecendo no clube há já demasiados anos.
E por isso sofreu dois golos, ainda marcou um que o colocava no
eliminatória seguinte, mas conseguiu a “proeza” de sofrer o terceiro (que
igualava a eliminatória) no último minuto de jogo e não contente com isso ainda
cometeu um penalti idiota a dois minutos do final do prolongamento vendo-se
assim arredado da Europa por exclusiva responsabilidade sua.
Longo e árduo caminho tem pela frente este histórico clube para voltar
aos seus tempos de glória futebolística.
Finalmente o Benfica.
Que tal como os seus amigos do Porto enfrentava um adversário que se
sabia mais forte mas sem que isso significasse a impossibilidade de seguir em
frente porque a diferença de valores não era dramática e o Benfica ainda gozava
da vantagem de o adversário vir da pausa de inverno e portanto sem grande ritmo
competitivo.
As coisas na Ucrânia nem correram mal de todo mas na Luz o Benfica
viu-se confrontado com a para ele trágica dicotomia entre grande eficácia
ofensiva (fez três golos o que em condições normais garantiria o apuramento) e
, tal como o Porto, uma grande fragilidade defensiva que originou que sofresse
outros três que obviamente significaram a eliminação.
E assim as quatro equipas portuguesas viram-se afastadas da Liga
Europa porque os adversários foram melhores, os árbitros estrangeiros foram
isentos e rubricaram bons trabalhos, e a real (falta de ) qualidade do nosso
futebol veio ao de cima mal o grau de dificuldade aumentou qualquer coisa
minimamente significativa.
Que seja ao menos motivo para uma reflexão séria sobre o nosso
campeonato, a falta de verdade desportiva nele existente e uma competitividade
muito insuficiente face aos reais tempos de jogo, às manhosices com que se
queima tempo por tudo e por nada e à política de filhos e enteados que leva as
equipas portuguesas a chegarem à Europa e encontrarem uma realidade muito diferente
da que vivem no dia a dia do nosso cada vez mais futebolzinho!
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