Num clube desportivo, ainda por cima dotado do ecletismo que faz parte
do ADN do Vitória, todos temos consciência que na primeira linha da exigência ,
de adeptos a dirigentes, estão os resultados desportivos que trazem títulos e
troféus construindo um palmarés que dá dimensão e atrai novos adeptos e
patrocinadores.
E por isso ano após ano, modalidade após modalidade mas com o futebol
sempre num plano incomparável, a atenção vira-se quase exclusivamente para os
resultados desportivos deixando para outros planos (ou olvidando pura e
simplesmente) aspectos que são igualmente importantes na vida do clube e que de
forma indirecta também podem contribuir para o sucesso ou ajudar ao insucesso
desportivo.
Um dos aspectos que penso ser actualmente muito importante para o
Vitória, embora não marque golos nem os evite, é a reforma dos seus estatutos
que precisam de urgente actualização para adaptarem o clube aos novos tempos.
Ainda no mandato da anterior direcção, liderada por Júlio Mendes, foi
desencadeada a abertura de um processo de revisão estatutária e terá até sido
nomeada uma comissão para dirigir os trabalhos. Penso, sem ter a certeza, que
até terá sido criado na página do clube um espaço para os associados para lá
encaminharem as suas sugestões.
Com a inopinada demissão dos orgãos sociais,e a realização de eleições,
o processo foi suspenso e não há notícia de que tenha voltado a ser retomado
pelos novos dirigentes do clube nestes meses que levam de mandato.
Mas a ele terão de voltar mais dia menos dia.
E por isso, aproveitando este espaço de “A Economia do Golo” que é
muito lido por vitorianos, gostaria de deixar aqui alguns temas, mais para
debate do que como propostas fechadas, que me parecem dever fazer parte de uma
próxima revisão estatutária.
Já os tenho abordado ao longo dos anos, no meu blogue, mas é com gosto
que o volto a fazer porque entendo que para lá dos resultados desportivos é
muito importante a organização interna que sustente a forma como o clube se
estrutura para fazer face aos desafios desportivos.
Hoje, para não ser exaustivo, abordarei aqui três aspectos que me
parecem essenciais.
O primeiro tem a ver com a democraticidade interna do clube que
assente há muitos anos na livre eleição dos seus orgãos sociais através do
método “um associado, um voto” pode nos tempos que correm merecer uma reflexão
sobre se , a exemplo do que acontece noutros clubes, não deveria também no
Vitória o número de votos por associado ser indexado à sua antiguidade
associativa.
Ou seja quanto mais anos de sócio mais votos.
Sei que é um tema polémico , com argumentos a favor e contra, mas
parte do principio que a fidelidade associativa e consequente melhor
conhecimento do clube habilitam o associado a escolher melhor quem deve dirigir
os seus destinos.
Do meu ponto de vista é um assunto que merece, pelo menos, discussão.
O segundo aspecto, e se no primeiro tenho dúvidas neste tenho a
certeza absoluta, prende-se com o incluir nos estatutos uma clausula a obrigar
que todos os integrantes dos orgãos sociais tenham uma antiguidade mínima como
associados que funcione não só como um atestado de fidelidade ao clube mas
também a garantia de que tem dele uma vivência mínima que os habilite a
exercerem as suas funções.
Não é aceitável nos tempos de hoje que alguém com um ano de filiação
clubística já possa ser presidente, vice presidente, director de um clube que
manifestamente conhecerá mal, muito mal ou até desconhece.
Já tivemos no clube, nos últimos anos, suficientes (maus) exemplos de dirigentes
que foi preciso ir buscar a casa para virem para o Vitória sem fazerem ideia do
que era dirigir um cube com a grandeza e as especificidades do nosso para
continuarmos a permitir que isso possa acontecer no futuro.
E por isso defendo o seguinte:
Para se ser director deve ser necessária uma antiguidade mínima de dez
anos consecutivos como associado (para seccionista admito que cinco sejam
suficientes) desde a maioridade o que significa que ninguém poderá sê-lo antes
dos 28 anos de idade o que me parece perfeitamente razoável.
Essa antiguidade também se aplica, naturalmente, aos secretários da
mesa da assembleia geral, aos vogais do conselho fiscal e do conselho de
jurisdição.
Para ser vice presidente de qualquer orgão a antiguidade sobe para
quinze anos consecutivos de associado,a contar após os dezoito anos, o que
equivale a dizer que qualquer vice presidente de qualquer orgão terá de ter pelo
menos trinta e três anos à data da eleição.
Finalmente para os presidentes de todos os orgãos creio que exigir uma
antiguidade de vinte anos consecutivos como sócios é perfeitamente admissível e
coloca, em teoria, o clube a salvo de oportunistas de última hora que tomem de
assalto, com a ajuda dos habituais poderes paralelos, um clube a quem nunca
deram nada.
Para os membros do Conselho Vitoriano, tema que abordarei a seguir, é
de exigir uma antiguidade mínima equivalente à dos vice presidentes ou seja
quinze anos de associados após os dezoito de idade.
O Conselho Vitoriano é hoje ( e desde sempre em bom rigor) o mais
inútil de todos os orgãos do Vitória, frequente alvo de anedotário em volta de
lanches e jantares no camarote presidencial, e em bom rigor não serve para
nada.
Rigorosamente nada!
Nunca serviu pese embora no tempo de Emílio Macedo da Silva ainda ter organizado
um ou dois debates sobre assuntos de interesse para o clube como era, na
altura, a constituição de uma SAD.
E é pena porque por lá tem passado muitos e bons vitorianos sem que disso
o clube tenha tirado o minímo proveito.
O que defendo então para o Conselho Vitoriano?
Desde logo,e conforme atrás referi, que os membros desse orgão de
aconselhamento da direcção tenham obrigatoriamente quinze anos de associados
após os dezoito anos de idade para que tenham um conhecimento mínimo do clube
indispensável a quem faz parte de um orgão de... aconselhamento.
Já tivemos casos de membros do CV que entraram para sócios e no dia
seguinte foram nomeados membros do Conselho o que é, do meu ponto de vista
vitoriano, absolutamente indecente porque foram escolhas fruto de arranjos
políticos e outros e não de reconhecimento de um percurso vitoriano de mérito.
Depois entendo que já não faz sentido um orgão de aconselhamento ser
escolhido pela direcção do clube , com base em critérios de confiança e
conhecimento pessoal, porque a direcção tem a faculdade de pedir conselhos a
quem muito bem quiser sem a necessidade de incluir esses conselheiros em orgãos
do Vitória.
E por isso defendo que o Conselho Vitoriano deve ser eleito pelos
sócios, tal como os restantes orgãos do clube, com a importante nuance de ser eleito
por método de Hondt o que permitirá que nele estejam representadas várias
correntes de opinião de dentro do clube ao invés de como agora só lá estarem os
amigos da direcção.
Quero com isto dizer que aquando das eleições cada lista que concorrer
aos orgãos sociais deve também apresentar lista para o conselho vitoriano de
molde a que os associados saibam exactamente quem concorre a todos os orgãos do
clube e não venham a ser surpreendidos no pós eleições com escolhas insólitas
(até de reconhecidos adeptos de outros clubes) como tem acontecido ao longo dos
anos.
Mas vou ainda mais longe defendendo que um grupo de associados que
assim o entenda possa apresentar lista apenas ao Conselho Vitoriano, sem
necessitar de concorrer aos restantes orgãos sociais, para que as suas
opiniões possam ter um orgão para serem expressas se para isso merecerem o
numero suficiente de votos.
Finalmente entendo que devem ter assento no Conselho Vitoriano por
inerência, mas sendo as únicas inerências, todos os ex presidentes do clube
cuja experiência será concerteza muito útil aos trabalhos do Conselho e ao
aconselhamento da direcção.
Quanto às funções elas estão balizadas pelo artigo 38 dos estatutos e
apenas me parece que deve ser introduzido um artigo relativo à periodicidade obrigatórias
das reuniões( pelo menos quatro por ano) e outro quanto à obrigatoriedade de ao
Conselho serem presentes os orçamentos e os relatórios e contas para recolherem
parecer antes de serem levados à Assembleia Geral.
Creio que ficam aqui algumas ideias para a revisão estatutária do
Vitória Sport Clube (que espero breve) sempre na optica de permitir um debate
que contribua para que possamos ter um clube cada vez maior e cada vez melhor.
Sobre os dois principais pontos que aqui coloca, tenho a seguinte opinião:
ResponderEliminarVoto uninominal, sou a favor de que se mantenha a actual situação pois é quanto a mim mais democrático e está por provar que um sócio antigo(sou sócio à 5o anos)goste mais do Vitória que um recente.
A segunda questão já me merece mais dúvidas,se pensarmos que a generalidade dos países, exige, 5 anos de presença a um cidadão no seu território, para lhe conceder a cidadania,penso que o mesmo prazo estaria bem para todos cargos de direcção do Vitória.
Mas como diz, tudo isto merece ser debatido e encontrar entendimento nessa discussão.
Abraço
J.M.
Caro J.M.
ResponderEliminarQuanto ao primeiro ponto também tenho dúvidas e por isso gostaria de vê-lo debatido.
Quanto ao segundo não tenho duvida nenhuma.
E se proponho antiguidades diferentes conforme os cargos é porque a responsabilidade deles é diferente.
Ser presidente do Vitória é muito diferente de ser director e por isso exige mais experiência da casa.
Mas também isso deve ser debatido como é evidente