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domingo, janeiro 26, 2020

Vida Nova

O CDS realizou o seu congresso, arrumou a casa e fê-lo de uma forma que a maioria dos analistas não previa, ou seja, elegendo como líder Francisco Rodrigues dos Santos e não João Almeida que de forma geral era considerado como o favorito.
Não que surpresas destas não sejam habituais no CDS.
Com pouco esforço de memória será fácil recordar os triunfos de Lucas Pires sobre Luís Barbosa, de Paulo Portas sobre Maria José Nogueira Pinto ou de José Ribeiro e Castro sobre Temo Correia para constatar que muitas das vezes quem entra no congresso como vencedor antecipado  acaba por de lá sair vencido pela decisão dos congressistas.
Este fim de semana assim foi uma vez mais.
Com o partido a optar por uma arriscada ruptura geracional (atendendo até ao seu eleitorado tipo) e a eleger um jovem de 31 anos, completamente desconhecido no país e relativamente pouco conhecido no mundo político, como líder de um partido que ainda "lambe" as profundas feridas do resultado das legislativas.
E talvez tenha estado aí a razão profunda da opção porque para muitos a candidatura de João Almeida representava não só a direcção que tinha sofrido essa hecatombe eleitoral como também uma página, a de Paulo Portas, que muitos sentiam ser necessário virar.
E viraram.
Porque com João Almeida também perderam Nuno Melo, António Pires de Lima (cujo desastrado discurso também terá contribuído para o resultado do congresso), Nuno Magalhães, Pedro Mota Soares, Telmo Correia,  Adolfo Mesquita Nunes, Cecília Meireles, Hélder Amaral, Francisco Mendes da Silva e mais alguns dirigentes que foram as figuras de referência dos tempos de Paulo Portas.
Não se podendo falar de uma renovação total, porque muitos dos novos dirigentes já tinham ocupado funções na direcção de José Ribeiro e Castro e até nas de Paulo Portas, é ainda assim uma mudança profunda que retira da primeira linha do combate político quase todas as suas figuras mais conhecidas.
O que trará à nova direcção problemas de afirmação, pelo menos durante algum tempo, dado que até o grupo parlamentar é todo ele afecto à candidatura derrotada de João Almeida.
Há pois um "novo" CDS.
Mais encostado à direita, mais marialva, com pouquíssimas mulheres nos orgãos (os sete vice presidentes são todos homens e nos dezassete membros da comissão executiva há apenas duas mulheres) , mais radical contra o aborto, a eutanásia, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, preocupado com assuntos tão "relevantes" como a tauromaquia, a caça e a pesca!
Um CDS que terá como prioridade, não anunciada mas fácil de descortinar,  disputar votos ao Chega de André Ventura deixando de vez um centrismo que em boa rigor já só existia no nome do partido e assumindo clara vocação de direita.
É interessante.
Porque se o Congresso do CDS encostou o partido á direita as directas do PSD, com a vitória de Rui Rio, encostaram o do PSD à  esquerda o que significa que repentinamente ao centro se abriu um espaço significativo para forças políticas liberais que defendam a pessoa como o centro de todas as decisões políticas, que assumam a aposta num liberalismo que estimule a economia e aposte na iniciativa privada como o motor do crescimento económico e que assumam que valores como o da solidariedade da comunidade para com as pessoas e da justiça social tenham de ser estruturantes da sociedade em que queremos viver.
Em casa, sentados no sofá a assistirem pela televisão às decisões no PSD e no CDS, a Iniciativa Liberal e a Aliança viram abrir-se à sua frente uma enorme avenida de oportunidades políticas que não poderão desaproveitar.
Terão agora que se levantarem do sofá, terminados os "espectáculos" alheios, e continuarem a fazer o seu caminho.
Depois Falamos.

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