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quarta-feira, janeiro 22, 2020

Ratos

Não sou daqueles que tem fobia de ratos ,embora seja animal que não aprecio particularmente com as excepções compreensíveis do Mickey, da Minnie e do Speedy Gonzalez (mas esses são de outros "filmes"), mas reconheço-lhes um inato instinto de sobrevivência o que leva a que sejam uma espécie bem sucedida com abundante presença nos cinco continentes.
Nesse espírito de sobrevivência destaca-se a inata capacidade de pressentirem desastres naturais e porem-se atempadamente ao "fresco" nomeadamente quando a bordo de barcos  em risco de se afundarem os leva a serem os primeiros a abandona-los e com essa atitude de precaução ,que muitos acham cobardia, contribuírem para o mau nome da espécie .
Sim, porque estando num barco e dispondo de todas as suas regalias, nomeadamente comendo o que querem e lhes apetece nas quantidades que acham adequadas, fica mal aos olhos de alguns que quando o barco deixa de oferecer garantias de lhes poder manter a boa vida se ponham a mexer o mais rapidamente possível.
Mas se entendo nos ratos de quatro patas esse instinto de sobrevivência já em "ratos" de duas pernas tenho muita dificuldade em o aceitar.
Desde logo porque sendo animais racionais, ao contrário dos congéneres de quatro patas, sabem muito bem em que barcos embarcam, o que lá comem, de onde vem as regalias que usufruíam e não é o atirarem-se para fora do barco em desespero de causa que os inocenta de nele terem viajado enquanto foi seguro e não ameaçou naufrágio.
Refiro-me, como já terão percebido, ao triste espectáculo que alguns "ratos" de duas pernas estão a dar no caso Isabel dos Santos.
TODA (as maiúsculas são propositadas) a gente sabia, há mais de dez anos, que a colossal fortuna de Isabel dos Santos não era explicável apenas por trabalho e negócios bem sucedidos mas sim porque a família de José Eduardo dos Santos em mais de trinta anos de poder assaltara o país que devia ter governado.
A família e os amigos da família (basta ver as colossais fortunas de alguns generais do MPLA) muitos dos quais, a começar por João Lourenço, continuam no poder em Angola embora agora queiram fazer de conta que não tiveram nada a ver com o que se passou.
Mas tiveram.
E se José Eduardo dos Santos escolheu  João Lourenço para lhe suceder não foi seguramente por o considerar um adversário e muito menos um inimigo.
TODA a gente sabia mas TODA a gente fechou os olhos enquanto o pai da senhora foi Presidente e TODA a gente continuaria de olhos fechados não fora agora o actual poder angolano querer libertar-se definitivamente da família "dos Santos" e despoletar este caso.
E no TODA a gente inclui-se o actual governo português (que com ela entabulou estranhas e nunca explicadas negociações em volta de bancos privados), o Banco de Portugal, a administração do EuroBic, as administrações das múltiplas grandes empresas que com Isabel dos Santos negociaram, as empresas de consultoria que para ela trabalharam, o Fórum de Davos e mais uma plêiade de gente que gravitou em volta dela dos seus negócios e que agora a negam três vezes como S. Pedro fez a Jesus Cristo quando se viu cercado pelos romanos.
Não tenho nenhuma duvida que Isabel dos Santos é responsável por um conjunto de crimes que lesaram Angola e que deve ser punida por eles bem como pai, outros familiares e ex amigos do pai alguns dos quais, repito, se mantém no poder em Angola.
Mas não deixo de considerar repugnante este triste "espectáculo" de "ratos " de duas pernas a abandonarem um barco que supõe em risco de naufrágio (se vai naufragar ou não é outra questão) , alguns deles ainda lambuzados do muito que "comeram", como se nada tivessem a ver com uma situação da qual desfrutaram largamente e sem que nenhum, até ao momento, se mostre disponível para abdicar do que recebeu , pelos vistos (descobriram agora), fruto de ilegalidades e crimes vários!
São duas personagens pelas quais não tenho qualquer simpatia, as de Isabel dos Santos e Ricardo Salgado, mas seria giro se ambos contassem tudo que sabem sobre os múltiplos negócios em que intervieram nos últimos anos neste país à beira mar plantado.
Desconfio é que não haveria  juízes suficientes para todos os processos judiciais nem cadeias com vagas para todos os que nelas ganhassem direito a uma estadia...
Depois Falamos.

P.S. O que está a fazer mesmo falta a Portugal é um "Lisboa Leaks". 
Mas quem sabe se um dia ele não acontecerá.
Assuntos não faltam de certeza absoluta.

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