Não gosto de nevoeiro.
Não gosto de nevoeiro porque faz mal à saúde, não gosto de nevoeiro porque gosto de ver as coisas com claridade, não gosto de nevoeiro porque na estrada é um enorme perigo para a condução face às dificuldades de visibilidade que coloca.
Também não gosto de nevoeiro na sociedade.
Seja na vida política, seja na vida desportiva, seja no mundo associativo, seja onde for.
Gosto de ver os contornos das situações, gosto de olhar para elas e perceber o que significam, gosto da transparência e da clareza dos factos que é a única forma admissível de um relacionamento social e associativo saudável e lúcido.
Por isso não gosto de homens (ou mulheres) saídos do nevoeiro que não se percebe muito bem quem são, de onde vem, qual o percurso que fizeram para merecerem aqui chegar e para onde daqui querem ir acompanhados por quem neles acredite.
A História de Portugal, aliás, ensina-nos que depositar esperanças num homem que era suposto um dia sair do nevoeiro para salvar o país (El Rei D. Sebastião no após Alcácer Quibir) foi um erro tremendo que sujeitou o Portugal a sessenta anos de domínio por uma potência estrangeira pese embora houvesse por cá quem aceitasse essa colonização de bom grado porque satisfazia os seus interesses de vária ordem.
Há sempre quem não se importe de abdicar de valores, princípios e orgulho próprio desde que remunerados por isso ainda que a remuneração não ultrapasse umas migalhas caídas da mesa do poder.
E portanto do nevoeiro não surgem soluções a não ser por um qualquer milagre que raramente acontece .
Ou se acontece é com a mesma frequência com que sai o Euromilhões a quem dele precisa!
No Portugal de hoje, sempre tão atento e crítico ao que se passa lá fora mas sempre tão desatento aos ensinamentos da sua História e tão passivo perante os seus problemas, vem-se dando um fenómeno que considero preocupante a vários níveis e que é a proliferação dos homens saídos do nevoeiro.
Fruto de maiorias conjunturais, resultantes de alianças entre supostas elites e os poderes diversos, sem um passado que os recomende, sem um percurso que os habilite, sem ideias e programas que vão para lá dos lugares comuns são "vendidos" como uns autênticos salvadores da Pátria seja essa Pátria um partido político, uma associação cultural, um clube desportivo ,uma instituição de solidariedade ou qualquer outra organização social.
Aparecem de repente, como por artes mágicas sem que se perceba se vieram por sua vontade ou os foram buscar a casa, arranjam de imediato uns "fiadores" que garantem serem o supra sumo da especialidade, arrastam atrás de si pequenas multidões mais disponíveis para o aplauso fácil do que para a reflexão critica e escrutinadora e eis que temos "líderes" aptos a realizarem os "amanhas que cantam".
E , por vezes, os "amanhãs" até cantam qualquer coisa. O problema está sempre no depois de amanhã e no tempo que se lhe segue.
Onde os homens voltam para o nevoeiro de onde vieram, se constata que os problemas que era suposto resolverem quase de uma penada não desapareceram, que as instituições que era suposto salvarem se encontram mais perto dos seus "abismos" do que quando os "salvadores" emergiram dos nevoeiros.
Ao tempo , naturalmente, que os seus "fiadores" ,o seu pequeno exército de seguidores acríticos e as alianças conjunturais entre supostas elites e poderes diversos já mergulharam novamente no nevoeiro em busca de novo salvador.
Não gosto mesmo do nevoeiro.
Nem dos seus filhos.
Depois Falamos
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