Páginas

sexta-feira, janeiro 20, 2017

A Minha Tia

Tendo tido a sorte de ser filho e neto de vitorianos posso dizer com toda a propriedade que o Vitória Sport Clube faz parte da minha vida desde que nasci.
Ainda por cima tive a sorte de até aos oito anos viver na rua Dr. Alfredo Pimenta (hoje Alameda) numa casa , dos meus avós paternos, de onde se via ao longe o campo da Amorosa e assistia ao domingo à romaria de vitorianos que passavam pela rua, atravessavam a ponte de Santa Luzia e subiam o estreito caminho que dava acesso aos portões em madeira do então estádio do clube.
E durante os jogos ouvia o clamor da multidão, ás vezes via a bola no ar e os jogadores a correrem , sonhava com o dia em que também eu tivesse idade para ir ao futebol.
E um dia fui. Precisamente no ultimo jogo que o Vitória lá disputou antes de passar a utilizar o estádio municipal.
Da mesma casa assisti à construção do estádio, via (aí muito melhor porque nos primeiros tempos a hoje bancada nascente não estava ainda construída) os jogos quando não ia com o meu pai ou avô ao estádio geralmente nos dias de chuva, achava imensa piada a ver equipas e árbitros descerem e subirem pelo monte dos balneários da Amorosa para o relvado porque os do estádio ainda não estavam prontos.
Depois passei a frequentar assiduamente o estádio, a ir aos treinos quando podia, a passar as manhãs de domingo na Amorosa a ver jogos dos escalões de formação.
E assim fui reforçando o meu vitorianismo e conhecendo melhor o Vitória.
Estádio, Amorosa e alguns jogos fora a que ia com o meu pai e alguns amigos dele eram parte importante mas depois havia uma "sede" de saber mais sobre o clube, para lá das conversas com pai e avô (especialmente este no que respeitava às memórias dos tempos iniciais do Vitória), que era preenchida com uma ávida leitura de jornais locais (Noticias de Guimarães e Comércio de Guimarães) , de "A Bola" e de "O Primeiro de Janeiro" que eram os jornais lá de casa.
Depois pela vida fora tive sempre a preocupação de aprender mais sobre o clube com quem sabia mais do que eu.
E tive excelentes mestres em centenas de horas de conversa.
Já aqui os citei em várias ocasiões mas volto a referir os nomes de Lourenço Alves Pinto, Custódio Garcia, Hélder Rocha e Jorge Folhadela (infelizmente já todos desaparecidos) e Francisco Martinho (felizmente ainda vivo e com a sabedoria vitoriana de sempre) como aqueles amigos que mais me ensinaram sobre o nosso clube.
Houve outros mas estes foram, e são num caso, os que mais importância tiveram e tem.
Toda esta experiência de vida vitoriana, cinquenta anos a acompanhar o clube, passagem pelos seus orgãos sociais em várias ocasiões nos últimos vinte e tal anos fizeram de mim o vitoriano que sou e em mim criaram a visão que tenho do Vitória e os objectivos que ambiciono para o clube.
Curiosamente , e embora tudo o atrás exposto tenha contribuído para fazer de mim um vitoriano que quer sempre mais e melhor para o clube, quem me ajudou a estabelecer uma fasquia de ambição foi a minha tia!
Irmã do meu pai, hoje a caminho dos 85 anos, em toda a sua vida foi ao futebol três ou quatro vezes levada pelo meu avô há mais de setenta anos.
Ao Bem-Lhe Vai, que ficava a 100 metros de casa, e ainda à Amorosa numa ou noutra ocasião.
Depois nunca mais foi mas pela vida fora manteve-se sempre  interessada pelos resultados do clube e pelo que nele se passava.
E ao longo de muitos anos quando a visitava na sua casa da Alameda Alfredo Pimenta, ou na última dúzia de anos quando a visito no Lar Rainha D. Leonor onde reside, já sei que a pergunta sacramental quando a informo que houve jogo do Vitória  é esta:
"O Vitória ganhou ou foi roubado ?" 
Na sua simplicidade vitoriana, sem pretensões, a minha tia com essa frase centenas de vezes repetida ajudou-me a estabelecer uma fasquia  para aquilo que desejo para o Vitória.
Um clube tão forte, tão poderoso, tão dominador, tão à imagem do seu símbolo maior que a normalidade dos seus triunfos apenas possa ser quebrada por factores estranhos ao desenrolar desportivo das competições.
É evidente que é uma fasquia inultrapassável, uma ambição de ganhar provavelmente utópica, uma visão optimizada para lá dos limites sobre as possibilidades do Vitória.
Reconheço isso.
Mas também sei que se não ambicionarmos muito, se não formos tremendamente exigentes nas nossas expectativas, se não quisermos o êxito desportivo como a matriz essencial do clube,  em suma se não quisermos ganhar muito acabaremos por ganhar pouco ou nada.
E por isso profundamente grato ao meu pai, ao meu avô e aos meus amigos que referi por me terem ensinado tanto sobre o Vitória guardarei sempre uma gratidão muito especial à minha tia por me ter mostrado a dimensão do que podemos sonhar para o nosso clube.
Depois Falamos.

4 comentários:

  1. Caro Luís Cirilo.

    Excelente texto! Gostava de o ver presidente do VSC.

    Dos vitorianos, é sem dúvida quem tem mais perfil!

    Aguardemos pelo futuro.

    Fernandes

    ResponderEliminar
  2. Caro Fernandes:
    Obrigado pela sua confiança.
    Tenho consciência de que o podia ter sido, em 2012, mas desisti da candidatura por força do que naquela altura considerei ser o melhor para o clube e que era a união de esforços entre a minha candidatura e a de Júlio Mendes.
    Para ser vitoriano nunca precisei,preciso ou precisarei de ser dirigente ou presidente.
    O Vitória para mim sempre esteve muito acima de objectivos ou ambições pessoais.
    Mas como diz, e bem, aguardemos pelo futuro.

    ResponderEliminar
  3. Caro Luís,

    Estou a pôr em dia a leitura do seu blog e não podia deixar de passar pela caixa de comentários deste texto para realçar a sua qualidade. E para fazer minhas as palavras da pessoa que escreveu o primeiro comentário. Isto porque uma das coisas que mais me frustra é olhar para a cúpula dirigente do Vitória e pensar que há muita (demasiada, diria) gente lá cuja história de vitorianismo, ao invés dos muitos e longos parágrafos com que a sua se cose, não daria para mais do que um par de linhas. Se estou certo de que ser vitoriano (sentindo verdadeiramente o clube, passando uma vida a acompanhá-lo) não é uma característica suficiente para se ser um bom dirigente do Vitória, acredito que, sem ela, fica a faltar uma componente essencial para bem dirigir (e perceber) um clube tão peculiar como o nosso.

    Um forte abraço,
    José Miguel Rocha

    ResponderEliminar
  4. Caro José Miguel:
    D euma coisa tenho a certeza.
    É IMPOSSÍVEL ser um bom presidente ou um bom dirigente do Vitória se não se tiver fortemente enraízada uma sólida "cultura" vitoriana e uma permanente paixão pelo clube.
    Depois é preciso,como é evidente, ter outras qualidades para ser um bom dirigente.
    Mas sem estas que referir...nada feito!

    ResponderEliminar