Terá uma periodicidade semanal e versará assuntos ligados ao futebol nacional e, de vez em quando, também ao futebol internacional.
A coluna , dispenso-me de explicar o porquê, chama-se "A Preto e Branco" e procurará ser um espaço de opinião que dê atenção a quem merece mais do que tem e não a dê a quem já a tem em demasia.
Os leitores avaliarão.
Abaixo o primeiro artigo.
A INDÚSTRIA
De cada vez mais tempo a esta parte convencionou-se designar aquilo a
que comummente se chamava futebol, com isso abarcando todos os aspectos ligados
à modalidade, como indústria do futebol com essa denominação a pretender
abarcar todo o gigantesco negócio em que ela se tornou.
Desde os valores económicos nela envolvidos, de salários de jogadores
e treinadores a receitas televisivas e direitos de imagem, à complexidade e
gigantismo das competições e atenção mediática que elas despertam.
Uma indústria que move muitos e muitos milhões (e alguns vai-se
sabendo cada vez melhor como…) e que tem já uma expressão planetária que não
pode ser ignorada.
Em Portugal, onde as novidades à vez custam a chegar…mas chegam, essa
industria também existe e tem um papel primordial na atenção e nas prioridades
de um povo que sempre gostou muito de futebol e que a ele dedica muito da sua
atenção e tempo livre.
Naturalmente que no nosso país a indústria do futebol não atinge a
dimensão que tem noutros países, não tem a rodeá-la a sofisticação e capacidade
organizativa dos nações em que é uma industria de ponta, mas com uns toques de
artesanalidade à portuguesa lá vai existindo e fazendo pela vida com as dificuldades
que todos lhe conhecemos.
É uma indústria pequena, limitada a três grandes empresas, meia dúzia
de PME’s e umas largas dezenas de microempresas, funcionando com regras muito
“especiais”, merecendo uma atenção invulgar dos meios de comunicação e sendo
periférica em termos do grande negócio a nível europeu embora de vez em quando
conseguindo impor-se em mercados que por norma não estão ao seu alcance.
Curiosamente embora sendo uma indústria periférica, tendo o seu
negócio muito pouca expressão em termos globais e padecendo de atrasos vários
entre os quais condicionamentos que defendem o monopólio das três grandes indústrias
e cerceiam brutalmente os crescimentos das PME’s, o que impede a sua evolução
por padrões de modernidade exigíveis para o século em que vivemos a verdade é
que a indústria portuguesa consegue, paradoxalmente, ter alguns dos melhores “operários”
especializados a nível europeu (e um a nível mundial!) e alguns “encarregados”
que tem permitido saltos qualitativos de outra forma impensáveis.
A verdade é que quer esses “operários” de alto nível quer os “encarregados”
de grande competência trabalham em grande parte (por cá ainda há alguns mas
cada vez menos) nas indústrias de outros países seduzidos pelas leis da oferta
e da procura, pela competitividade dessas indústrias, pelo retorno mediático nelas
atingido e se calhar por outra razão que não sendo a mais importante tem o seu
peso: É que na pobre e periférica indústria portuguesa do futebol há uma quase
nenhuma auto estima.
São os próprios industriais, muito especialmente os ligados às tais
três grandes empresas que pela sua dimensão e faixa de mercado (mais de 90%)
deviam ser os mais interessados no bom nome do negócio, os primeiros a darem
cabo do prestigio da industria semeando suspeições sobre a qualidade do
produto, envolvendo-se em constantes polémicas e acusações sobre os “controladores
de qualidade” que acompanham o processo produtivo, aliciando operários da
concorrência, menosprezando tudo aquilo que não é conforme a expressão do
negócio que pretendem, criando amiúde problemas nos caminhos de acesso aos
pavilhões industriais entre vários outros disparates inaceitáveis para quem
devia zelar pelo bom nome do negócio.
Se a isso juntarmos a forma como não respeitam as PME’S, como procuram
de todas a maneiras e feitios terem os seus empresários condicionados nem que
seja através do empréstimo de operários que influenciem o respectivo processo
produtivo e cuja súbita retirada pode fazer baixar a qualidade do produto, como
controlam e influenciam quase todas as notícias que saem nos jornais
especializados sobre a industria, como beneficiam de uma cobertura televisa do
seu negócio que devia envergonhar qualquer país civilizado pela quantidade de
vezes em que são citados, louvados, promovidos e…branqueados percebe-se a razão
pela qual a indústria do futebol em Portugal é o que é.
Pequena, periférica, ultrapassada e pouco credível.
E em continua perda de clientes!
Talvez fosse bom os industriais preocuparem-se mais com isso do que
com as constantes guerras de alecrim e manjerona, que satisfazendo egos
pessoais, não tem outra utilidade que não seja a de mostrar quão ridículos são
e simultaneamente prejudicarem o negócio e o desenvolvimento e modernização da
indústria.
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