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segunda-feira, agosto 22, 2016

Medalhas...

Portugal é um país engraçado.
Com a louvável excepção dos que gostam verdadeiramente de Desporto,que são uma minoria, os restantes passam três anos e cinquenta semanas sem o mínimo interesse por outra modalidade que não seja o futebol e as suas incidências mil vezes repetidas e discutidas até à exaustão e ao absurdo.
Querem lá saber da canoagem, do judo, do ténis de mesa, da ginástica, da natação , do atletismo, do taekwondo, do ciclismo, do ténis,do hipismo, da vela.
Mas depois, de quatro em quatro anos, chegam as tais duas semanas em que se disputam os Jogos Olimpicos.
E aí todos passam não só a perceber de tudo como se acham no direito de opinar, ás vezes de forma violentamente critica, sobre modalidade de que nada entendem e pelas quais só se interessam por serem moda momentânea.
E a exigirem medalhas é claro.
Como se Portugal, com aquilo que é a sua tradição desportiva em termos de ecletismo e condições de formação, tivesse a obrigação de ombrear com países da nossa dimensão (já nem falo de EUA, Rússia, China, Alemanha, etc para não cair no ridículo),mas que levam o desporto a sério há muitas décadas, na conquista de titulos e medalhas.
Não temos essa obrigação.
Ou melhor, não temos o direito de exigir aos nossos actuais atletas que façam mais do que aquilo que fazem nas condições em que praticam os seus desportos favoritos. E que, sabe Deus e sabem eles, são bem diferentes daquelas que se consideram geralmente adequadas.
Muitas vezes a custas suas ou dos pais como há exemplos conhecidos!
Por isso não acho que a participação portuguesa no Rio 2016 tenha sido tão má como ás vezes se quer fazer crer.
Disputaram-se finais, ganharam-se diplomas, conquistou-se uma medalha de bronze.
É pouco?
Talvez seja.
Mas a cultura desportiva de Portugal e da maioria dos portugueses não merece mais.
Quando o Estado quiser levar a sério o ensino, a prática e o fomento desportivo; quando os portugueses perceberem que há mundo para lá do futebol; quando a comunicação social der ás restantes modalidades 10% da atenção que dá aos penaltis, foras de jogo, "casos " e "casinhos" do desporto-rei então Portugal ganhará medalhas e os portugueses terão o direito de serem mais exigentes com os seus atletas olimpicos.
Até lá, e porque Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nélson Évora (para só citar os medalhados com ouro) são excepções que confirmam a regra teremos de nos contentar com o que temos que corresponde ao que merecemos.
Muito fizeram eles no Rio 2016.
Só temos que lhes estar gratos.
Depois Falamos

7 comentários:

  1. Rui Cordeiro da Silva8:30 da manhã

    Caro Luis,

    Concordo plenamente.
    Enquanto no nosso país se pensar apenas no futebol como único desporto, não há moral para pedir aos nossos atletas muito mais do que eles fizeram no Rio e tem feito em todas as olimpiadas!
    Enquanto no nosso país não se criarem bases sérias para que outras modalidades cresçam com sustentabilidade e perspectivas de futuro, 1 medalha em cada olimpiada já não é nada mau!

    Confesso que não entendo como é que em Portugal (alguns) clubes, autarquias, escolas, freguesias, associações de pais e associações recreativas não apostam a sério no desporto ou noutros desportos.

    Tenho diariamente contacto com pais de várias nacionalidades que me dizem que os filhos (em idade escolar) praticam hoquei em campo, natação sincronizada, padel, badminton, esgrima, escalada, squash, ginástica ritmica, etc.
    Dir-me-ás que são desportos caros, que não há infraestruturas ou que não tem grande tradição em Portugal, mas se não houver uma aposta na divulgação de novos desportos, não sei como se conseguirá atrair mais gente para outros desportos que não seja o futebol.
    E se não houver uma massificação de outros desportos (como fazem nos EUA, China ou Rússia, crónicos vencedores de muitas medalhas), não me parece que seja possível nas próximas décadas fazer mais e melhor do que já se faz em termos de participações olímpicas!

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  2. Caro Rui:
    Apenas posso estar de acordo contigo.
    Portugal tem uma enorme falta de cultura desportiva a todos os níveis.
    Dos adeptos à comunicação social.
    A maioria gosta dos seus clubes, de futebol e o resto é paisagem.
    E no gostar dos clubes insere-se esse brutal exemplo de falta de cultura desportiva que é o benfiquismo,o portismo e o sportinguismo por parte de gente que nada tem a ver com a área geográfica onde se inserem esses clubes.

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  3. Mike_the_Bike4:09 da tarde

    Caro Luís Cirilo,

    de facto é um pouco triste a falta de cultura desportiva que temos em Portugal, e muito até poderão pensar, que se a maioria dos Portugueses só gosta de futebol, estão no seu direito de só verem e apoiarem o futebol. A verdade, a meu ver, é que a maioria dos Portugueses só gosta de futebol porque não conhece outros desportos, ou se os conhece é de uma forma ténue. Mas porque será? Será porque todos os dias, em todos os noticiários, somos bombardeados com "notícias" de futebol? Será porque existem 3 jornais desportivos diários, em que 90% do que lá vem é futebol? Sinceramente, eu gosto muito de futebol, mas confesso que me irrita tudo o que está à sua volta, não suporto ver na TV os programas dos "bitaites", aquilo é lixo inqualificável, com a agravante de só se debaterem assuntos de 3 clubes. Todos nós sabemos que nem todos os clubes têm a mesma dimensão, mas uns não são nada sem os outros.
    Os campeonatos nacionais de outras modalidades desportivas além futebol não têm muita projecção nem divulgação, e como tal não são atractivos quer para os patrocinadores, quer para novos participantes, que viriam trazer um aumento de competitividade, beneficiando com isso o desenvolvimento das modalidades.
    Os raros casos de sucesso desportivo de Portugueses em modalidades que não o futebol, fora de Portugal, são casos em que o investimento na carreira teve que sair do bolso dos próprios atletas, e temos em Guimarães pelo menos 2 casos destes, o João Sousa no Ténis e o Rui Bragança no Taekwondo!

    Abraço
    Miguel

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  4. A filosofia que quer que o desporto e a política não se misturam é hipócrita. Os êxitos desportivos são hoje utilizados como padrão da grandeza duma Nação.

    As manifestações desportivas são um “JOGO” enorme, no plano político, (quantos países utilizaram as drogas para triunfar,) como no plano económico. As somas investidas estes eventos são consequentes, as multinacionais e os grandes grupos financeiros utilizam o desporto para aumentar os seus lucros, mas também para fazer triunfar a sua ideologia: multidões condicionadas pelo espírito de competição e o culto da performance sem limite, persuadidos da legitimidade do combate perpétuo, da justa dominação do vencedor coberto de ouro e de prestígio, da submissão do fraco ao forte, do êxito e do sucesso individual.

    Os médias também desempenham um papel crescente no desporto. Hoje grandes grupos industriais, medias e clubes desportivos reencontram-se num agregado onde só a performance e a lei do mercado reinam.

    Caro Amigo, se olharmos bem de perto, vemos o quê? Que o desporto de competição não é somente a religião da mundialização, com os seus templos, as suas cerimónias, a sua liturgia, o seu clérigo e os seus fieis, os seus evangelistas, a sua inquisição e os seus mártires, ela é também a vitrina aberta sobre o sol radioso do capitalismo planetário, o da sociedade do espectáculo e da mercantilização e do consumo universal.

    Algo que me marcou foi constatar que avivar o nacionalismo desportivo e a sua forte carga simbólica, é toda a Nação que aparece e que existe por ela mesma por um lado, mas também aos olhos da comunidade internacional.

    Viu como a Estónia, a Eslovénia, a Croácia e a Letónia, desde que obtiveram as suas independências respectivas, criaram imediatamente as suas equipas nacionais.
    E ainda, logo depois, pediram a adesão à FIFA , como se fosse tão natural como pertencer à ONU , e como se a definição de Estado não se limitasse aos três elementos tradicionais – um território, uma população, um governo – mas que se deve acrescentar um quarto também essencial : uma equipa nacional de futebol!

    Até os nacionalismos se exprimem através das equipas de futebol! Na Espanha o Atlético de Bilbao é considerado como a equipa nacional vascà!

    Quanto ao Barcelona….

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  5. Caro Miguel:
    Infelizmente é como diz.
    Eu adoro futebol, como é bom de ver, mas não me deixo alienar pela modalidade porque há outras de que também gosto e até pratiquei e vou praticando.
    Naturalmente que jornais desportivos e programas televisivos de intoxicação futebolistica contribuem, e muito, para essa falta de cultura desportiva que leva, entre outras coisas, a achar quartos, quintos, sextos ou nonos lugares em Jogos Olimpicos como insucessos quando são lugares de honra numa competição com quase 200 países.
    E quando, como diz e bem, muitos dos nossos atletas são-no à sua custa. Ou dos pais.
    Caro Joaquim de Freitas:
    É como diz em termos do grande negócio que o desporto hoje é.
    Mas sendo-o exige-se que ao menos as competições tenham verdade desportiva, lealdade entre competidores e o doping seja combatido de forma implacável.
    O que será difícil em boa verdade quando se constata que ao longo dos anos há países que fomentaram o uso do doping, em várias modalidades, para conquistarem exitos desportivos que depois tentavam transformar em exitos políticos demonstrativos da vantagem deuns regimes sobre outros.
    Como sabe URSS, RDA, Bulgária entre outros dos antigamente chamados "países de Leste" foram exímios nisso e deturparam a verdade de muitas competições incluindo Olímpiadas.
    E a Rússia de Putin, pelos vistos, vai pelo mesmo caminho como se viu nos ultimos meses.
    Quanto ao Atlético de Bilbau e o Barcelona (curiosamente as minhas equipas preferidas em Espanha) foram durante a ditadura franquista o veiculo de expressão único de regiões espanholas fortemente oprimidas pelo centralismo ditatorial de Madrid e que aproveitavam o desporto como forma de se manifestarem e , de certo modo, combaterem a ditadura.
    Hoje em democracia continuam a ser para algumas franjas mais radicais das sociedades basca e catalã uma forma de exprimirem mediaticamente os desejos independentistas.

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  6. Boa tarde Sr. Cirilo,

    Concordo na integra com o seu comentário. Portugal tem falta de cultura desportiva, e os seus governantes também nada fazem para que condições possam ser criadas para o desenvolvimento de outras modalidades. É degradante que atletas olimpicos tenham de andar a competir às custas dos pais. Só o facto de esses mesmos atletas chegarem aos JO já é digno de louvor.
    Discordo apenas de uma resposta sua a um comentário mais acima, quando diz que o portismo, sportinguismo ou benfiquismo é falta de cultura porque muita gente afeta a esses clubes não é da sua área geográfica. Há muita gente que faz kms e kms para acompanhar esses clubes. Penso que isso também é de louvar.
    Abraço.

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  7. Caro Miguel:
    Claro que é de louvar. E tenho muito respeito pelos portistas do Porto e pelos benfiquistas de Lisboa que correm o país a acompanhar as suas equipas.
    São so verdadeiros adeptos dos clubes e não das vitórias desses clubes.

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