Ás vezes lembro-me da Professora.
Quer da que mais me marcou, a da escola primária, quer das outras que pelo percurso escolar me ensinaram tanta coisa e me mostraram novos mundos que ainda não conhecia e que depois de conhecidos me marcaram a Vida de forma indelével.
Também tive professores, é verdade, quer no liceu quer na universidade mas de nenhum (e alguns excelentes) me ficou recordação tão forte e perene como das professoras que me marcaram a Vida.
Desde logo a D. Maria Emília Azevedo que me ensinou as primeiras letras e números, que era uma senhora adorável com ar de avó e olhava os alunos como netos e netas ,tratando-os com um carinho e uma sensibilidade especial, mas na hora da severidade (ou seja dos nossos erros) não tinha contemplações e a régua e o ponteiro "trabalhavam" de forma "instrutiva" a par de alguns bofetões que não faziam mal a ninguém mas melhoravam o nosso rendimento escolar de forma substancial.
Politicamente incorrecto face aos actuais métodos de ensino, não duvido, mas há quarenta e tal anos atrás as crianças vinham educadas de casa e os professores tinham apenas de se preocuparem em ensinar usando os métodos que melhor lhe pareciam sem preocupações (embora aqui e ali corrigindo e aperfeiçoando) com a educação propriamente dita.
A verdade é que em cada aluno e aluna deixava um amigo e comovia-se até ás lágrimas quando antigos alunos a visitavam em casa na fase final da sua vida.
Fi-lo por mais que uma vez e bem sei o quanto ela adorava os seus meninos e meninas que o eram para sempre sem ligar à idade em que se encontravam.
Era extremamente exigente com o português e devo-lhe o ter aprendido a escrever correctamente (já as pontuações...) mantendo pela vida fora a exigência que ela sempre me inculcou desde a primeira classe quanto à nossa língua materna.
Talvez por isso ao longo da Vida sempre mantive perante as minhas professoras de português uma atitude de permanente atenção, observação atenta, juízo critico e vontade de fazer bem feito, tendo recebido delas ensinamentos, lições e exemplos que mantenho sempre presentes e que me são caros no meu dia a dia.
Reconheço,contudo, que pese embora os esforços de todas elas sem excepção ainda não afinei a questão das pontuações tão bem quanto desejaria embora também ainda não tenha desistido de o fazer.
E uma das coisas em que preservo e homenageio a memória das minhas professoras, especialmente de português, é o recusar-me a escrever segundo as regras dessa aberração chamada acordo ortográfico que apenas serve para deturpar a língua portuguesa.
Não foi assim que a D. Maria Emília (e a sua régua...) me ensinaram a escrever e não vou desperdiçar as suas preciosas lições ( e reguadas...) em prol de um acordo que não serve para nada e de que ninguém gosta.
Neste tempo em que o regresso ás aulas está iminente deu-me para me lembrar da minha professora primária e de outras professoras que tive porque face ao que se vê hoje na Educação dou muito valor ao que elas sempre transmitiam e algumas ainda hoje transmitem.
Amor pela profissão, paixão pelo ensino, respeito pelos alunos.
Depois Falamos
Caro Luís Cirilo,
ResponderEliminarNão querendo perturbar muito esta sua evocação das professoras que o marcaram, devo dizer que achei curioso como as pessoas reagem de maneira diferente aos episódios pelos quais passam na vida. Isto porque eu, que os céus sejam louvados, nunca fui alvo de uma única reguada e andei na primária em meados dos anos oitenta, quando teoricamente se dizia que elas não existiam e, na prática, eram distribuídas com empenho. Na altura, quando via os meus colegas serem alvo desse "método de ensino", chegava a casa e negava que tal coisa existisse, como toda a gente fazia. Suponho que estivesse a replicar o mesmo comportamento de quem é vítima e de quem assiste à violência doméstica, só que à escala dos pequeninos. Para mim era natural. Só anos mais tarde me apercebi que nunca tinha sido eu próprio objecto de tal punição por pura sorte. E a partir desse momento nunca mais pensei na minha professora primária com grande ternura (a segunda que tive, que da primeira não tenho memória). Aliás, várias vezes me cruzei com a senhora na rua e não conseguia olhar para ela com bons olhos. Isto porque, se reparar, para o nosso ex-presidente Cavaco Silva, Portugal nunca teve um problema, mas sim vários porblemas. E ninguém lhe dava um safanão dizendo: "ó homem, é problema, você anda a dizer isso há anos e ainda não aprendeu que o "r" vem antes do "o"? Ou mesmo a si, quando escreve "ás aulas", no lugar de "às aulas" ninguém lhe dará uma "canada". Ou a mim, que apesar de todas as limitações que tenho na compreensão da lógica da língua portuguesa (e que também não uso o acordo ortográfico, mais por preguiça de nova aprendizagem do que por qualquer outra razão... e que tenho sempre de verificar se é perguiça ou preguiça, para não parecer Cavaco Silva a falar), me dedico a alguma escrita de ficção na internet (pode clicar no meu nome para aceder aos textos e comprovar que também tenho muitas utilizações duvidosas de ortografia e sintaxe - fica logo claro que não estou a atacar ninguém pela escrita e até aumenta o meu número de visualizações, que são pouquíssimas).
Nenhum de nós será hoje alvo desse tipo de "ensino", não porque não necessite de continuar a aprender ou não dê erros, mas simplesmente porque não o podem fazer. O facto é que as professoras faziam isso... porque podiam e só se pode usar a agressão física sobre quem é mais fraco. Note, não sou contra um ensino exigente, sou totalmente a favor dele. Aliás, quem mais paga pela falta de exigência no ensino são os mais desfavorecidos, não tenho qualquer dúvida disso... Eu tive professores pouco exigentes e outros muito exigentes (sem qualquer violência física), e estes últimos foram-me sempre os mais úteis. Eu próprio fui professor, dei aulas numa escola secundária de uma zona essencialmente rural (no sentido mais pobre que a palavra costumava ter) e era bastante exigente. Não me cansava de dizer aos alunos que eles iam ser prejudicados pelo facto de serem tratados como coitadinhos. Agora, quanto a esse tipo de metodologia, qualquer pessoa sob ameaça dá o melhor que tem de si... o problema fica mais claro quando o máximo que tem para dar não atinge o nível que satisfaz quem tem o poder de castigar. Nesse caso, o método só traz dores nas mãos para quem é vítima dele e de barriga para quem pensa que pode vir a sê-lo. E, para o futuro, mais do que qualquer outra coisa, instala a ideia de que quem tem o poder pode sempre abusar um bocadinho porque sim. Pela minha parte, espero que o "método" nunca volte.
Caro Luis Ferreira:
ResponderEliminarGostei muito do seu comentário pela profundidade que encerra.
Estou de acordo consigo quanto à recusa da violência coo método educativo e conheço inúmeros exemplos do passado, nomeadamente anteriores ao 25 de Abril, em que alunos do ensino primário (e dos outros...) eram tratados pelos professores com uma brutalidade inadmissível. Conheço até casos de crianças que ficaram com sequelas para a vida devido à violência de alguns puxões de orelhas que sofreram.
Mas não é de nada disso que me referia quando recordava as reguadas e tabefes da minha professora primária. É verdade que os dava, aqui e ali, mas sem excessos nem gosto por fazê-lo. E a verdade é que em cada aluno deixou um amigo e nenhum de nós se zangou por ela por causa disso embora no momento em que isso acontecia também não gostássemos nada como é evidente.
Pessoalmente estar-lhe -ei sempre muito grato pela excelente ensino primário que me proporcionou