Já no passado tive oportunidade de aqui escrever sobre a minha professora primária com todo o apreço e carinho que ela ainda hoje me merece passados mais de 45 anos sobre o tempo em que me deu aulas e algumas décadas sobre a sua morte.
Chamava-se Maria Emília Azevedo (esposa e depois viúva do grande escultor António de Azevedo) e dava aulas em casa, ao cimo da hoje denominada Av. Humberto Delgado, a crianças de ambos os sexos e que frequentavam as quatro classes.
Na mesma sala, em simultâneo, éramos mais de 25 e ela não se perdia nas matérias nem na disciplina que impunha a todos.
Quando foi minha professora já ultrapassara os sessenta anos e movia-se com alguma dificuldade (sempre com uma bengala) pelo que dava as aulas sempre sentada enquanto os alunos se espalhavam por uma mesa e duas carteiras todos misturados desde a primeira á quarta classe.
A verdade é que tratando-se de ensino particular éramos obrigados a ir fazer o exame da quarta classe ao ensino oficial e não consta que alguma vez um aluno da D.Maria Emília tenha reprovado.
Bem pelo contrário faziam sempre as provas com distinção.
Na velha escola de Santa Luzia é claro.
A D. Maria Emília era de facto uma excelente professora.
Reformada do ensino oficial dava aulas para se entreter (e porque adorava ensinar) e não aceitava que lhe pagassem em dinheiro.
Pelo que ao fim do mês era comum ver os pais dos alunos a entrarem pelo jardim com uns cabazes de mercearia que ofereciam a titulo de pagamento embora ela nada pedisse.
Adorava crianças mas em questões de disciplina e ensino era muito rigorosa e ,quando necessário, fazia uso de uma "certa" régua e de um "certo" ponteiro bem comprido que chegava a quase todos os pontos da sala quando era ...preciso.
Nenhum dos que por lá passou teve a honra de não travar conhecimento com esses instrumentos auxiliares de ensino, mas também não consta que esse conhecimento tivesse feito mal a alguém.
E se hoje recordo,com carinho e saudade, a D. Maria Emília é precisamente para garantir publicamente (e espero que ela onde estiver tome conhecimento disto...) que as reguadas que me deu em prol da aprendizagem correcta da língua portuguesa (e de outras matérias também...) nunca serão por mim desperdiçadas em prol da entrada em vigor de qualquer acordo ortográfico!
O português em que escrevo é o português que a D.Maria Emília me ensinou.
E assim será enquanto por cá andar e por cá escrever.
Ponto final!
Depois Falamos
Caro Luis Cirilo, essa dos instrumentos auxiliares de ensino é uma pérola de humor 😅.
ResponderEliminarQuanto ao acordo ortográfico, não é um bicho papão.
Pode-se escrever segundo as novas regras sem grande alarido nem escândalo público.
Aliás, exceto uma ou outra palavra, as diferenças são mínimas.
É graças a acordos de evolução ortográfica, que já não se escreve ortographia...
Caro Carlos:
ResponderEliminarClaro que não é um bicho papão.
Por mim continuarei a escrever como sempre escrevi. Quero lá saber do AO.
Mas recordo-me que o meu avô materno,a propósito da "ortographia" que citas, sempre escreveu o meu nome com z. Luiz.
E não me fazia diferença nenhuma