Páginas

sexta-feira, novembro 21, 2014

Um Erro de Regime

Actualização: Na sessão parlamentar de hoje de manhã o PSD, através do deputado Couto dos Santos, retirou a proposta de restabelecimento das subvenções vitalícias. É uma atitude digna e que prova que a direcção do partido não é insensível à opinião pública.
Mas fica a "mancha" de a proposta ter existido e sido aprovada em comissão.
E essa "mancha" era bem dispensável.

Detesto a demagogia que tantos gostam de cultivar contra a política e os políticos, o Parlamento e os deputados, no fundo contra a própria Democracia e contra isso me tenho batido neste e noutros espaços ao longo dos anos.
E continuarei a fazê-lo.
Porque a democracia nem se discute, o Parlamento é um orgão de soberania essencial e os deputados são eleitos pelo povo e representam-no com todas as suas virtudes e defeitos.
Mas hoje digo, de forma contida, que não me arrependendo desta posição considero que a bandeira que encima o palácio de S. Bento devia estar a meia haste.
Como forma de luto parlamentar, já que arrependimento não me parece que exista, pela "atrocidade" ontem cometida naquelas bancadas por uma "insólita" maioria de Bloco Central (PSD e PS que por vontade do segundo não se entendem em mais nada entenderam-se "naquilo")que viabilizou o fim da suspensão das subvenções vitalícias pagas a ex titulares de cargos políticos.
Num país com as dificuldades que se conhecem, com um povo sujeito aos tremendos sacrifícios que se sabem, com as famílias a atravessarem dificuldades imensas os senhores deputados do Bloco Central não tinham mais nada em que convergirem que no reestabelecer de regalias, já de si altamente discutíveis, a quem não precisa delas.
Não precisa!
Porque elas não são reformas nem pensões de sobrevivência.
São uma regalia que PS e PSD criaram em 1985, no governo do Bloco Central liderado por Mário Soares (que fala de tudo mas deste assunto ainda não lhe ouvi uma palavra..), para quem tenha cumprido "x" anos de vida politica e acumuláveis com reformas ou salários para aqueles que ainda se mantenham na vida activa.
Uma obscenidade em suma.
E quando a obscenidade é cometida pelos dois partidos que sustentam o regime, porque ao longo dos anos tem alternado nas lideranças dos governos, é um erro tão grande que só não põe em causa o próprio regime tal como é porque temos uma opinião pública relativamente fraca e muito pouco exigente.
Num tempo de incertezas várias, de descrédito do povo relativamente ás instituições, de um descrédito que se acentua em relação aos políticos e aos partidos só faltava mesmo um disparate destes para aumentar a revolta latente nos cidadãos.
E nem vou responsabilizar José Lello (que ninguém leva a sério para coisa nenhuma senão para "isto") nem Couto dos Santos (que ninguém se lembraria que ainda anda na vida política se não fora "isto")pela autoria da proposta.
É evidente que a sua aprovação tem "benção superior" das direcções parlamentares de ambos os partidos.
Lamentável.
Depois Falamos.

P.S. PCP,que sempre foi contra esta regalia, e BE votaram contra a proposta.
Fizeram muito bem.
CDS absteve-se, numa matéria em que a abstenção é um consentimento pelo silêncio, e fez mal.

8 comentários:

  1. Parabéns, apesar de nem sempre concordar com o que escreve, hoje faço-lhe a vênia. O problema do sistema politico em Portugal, é que em vez de servirem o pais a maioria dos políticos parece antes querer servir-se do mesmo. Esta medida, deitaria por terra o que resta da credibilidade da classe politica, fico feliz por saber que a indignação partiu de dentro do PSD. Talvez seja possível ainda acreditar em alguma parte da classe politica.

    Cumprimentos

    Pedro

    ResponderEliminar
  2. Meu caro,

    Na minha opinião falta PARABENIZAR fortemente o BE, pois foi graças ao esforço deles de forçar nova votação que levou à retirada da proposta.

    Caso não houvesse esta nova votação, nada seria feito.

    ResponderEliminar
  3. Caro Pedro:
    O agora acontecido, e que felizmente foi abortado a tempo, só reforça a minha convicção de que é urgente uma profunda reforma do sistema politico. Nomeadamente introduzindo os circulos uninominais por que me bato há anos. Nenhum deputado eleito dessa forma teria coragem de votar favoravelmente(quanto mais propor)uma aberração destas. No meio da "manada" é mais fácil. A responsabilidade cai sempre sobre o líder da bancada e o líder do partido por isso o "crime" compensa.
    Caro Luis Costa:
    Não tenho nenhuma duvida que se o BE não tivesse avocado a plenário esta votação em concreto talvez esta proposta tivesse passado. E por isso claro que há um mérito indiscutivel do BE. E o "talvez" tem apenas a ver com a onda de indignação levantada dentro do PSD (da qual faziam parte bastantes deputados)e que foi decisiva na retirada da proposta. Nunca se saberá ao certo. Sabe-se,isso sim, é que neste assunto o BE,o PCP e OS Verdes tiveram sempre uma posição correcta.

    ResponderEliminar
  4. Realmente! Seria uma vergonha!

    ResponderEliminar
  5. Já agora, e contra a corrente devo dizer que o princípio de uma subvenção para quem dedica a vida em prol da sociedade, e precisamente por isso põe em causa a sua própria carreira, não me parece chocante.
    Acho aliás que há alguma demagogia (no mínimo) nesta histeria coletiva contra esta compensação.
    Um dia discutiremos melhor este assunto.

    ResponderEliminar
  6. Já agora posso esclarecer que nunca me envolvi na política, nem desempenhei qualquer cargo, pelo que a minha anterior opinião não envolve qualquer interesse pessoal

    ResponderEliminar
  7. caro luis cirilo para mim o PCP, o BE e os verdes estiveram muito bem. já o psd ps e cds pp estiveram muito mal

    ResponderEliminar
  8. Cara il:
    Mesmo assim nada resta que deixe grande orgulho.
    Caro luso:
    É um assunto que vale a pena discutir no âmbito de uma profunda reforma do sistema politico. E daquilo que devem realmente ser as remunerações dos titulares de cargos politicos.
    Caro cards:
    De acordo

    ResponderEliminar