Ponto prévio: Ser detido não é ser preso, ser investigado não é ser julgado, ser acusado não é ser condenado.
E por isso José Sócrates tem direito, como qualquer cidadão, à presunção da inocência até prova definitiva de culpa.
A Justiça fará o seu trabalho e o que se espera é que consiga apurar toda a Verdade.
Agora é inegável que a sua detenção no âmbito de investigações complexas e que o levam a ser suspeito de crimes graves (corrupção, fraude fiscal agravada, branqueamento de capitais e falsificação de documentos) pressupõe a existência de indícios fortíssimos porque só isso levaria um juiz a autorizar a detenção de um ex primeiro ministro e ex líder do PS ao invés de o constituir arguido e convocar para depor.
E se na liderança de António José Seguro o PS poderia passar relativamente ao lado deste caso dado o distanciamento do também ex líder em relação á acção governativa de Sócrates já com António Costa o caso muda, e muito, de figura.
Porque Costa foi durante anos o número dois de Sócrates no partido, integrou o seu primeiro governo e sempre alardeou uma profunda solidariedade politica e pessoal com o agora detido.
Aliás o "golpe de estado" que patrocinou no PS para depor Seguro teve como agentes activos alguns ex governantes de Sócrates (Pedro Silva Pereira, Vieira da Silva, Marcos Perestrelo, Santos Silva, etc) a par de outros apoiantes "ilustres" como Mário Soares, Manuel Alegre e Ferro Rodrigues num autêntico exército de ressabiados contra o PSD e o CDS mas também contra Seguro e a sua equipa dirigente.
Que nunca esconderam a saudade dos tempos de Sócrates, os elogios ao seu governo e à sua pessoa e o desejo de um regresso rápido a esses tempos via António Costa.
Todos recordamos o patético (e agora comprovadamente pateta) discurso de Ferro Rodrigues no Parlamento,semanas atrás, numa tentativa de reabilitação pura e dura do ex primeiro ministro.
Muito aplaudido por quase toda a bancada socialista convém lembrar.
E por isso no dia em que vai ser formalmente eleito líder do PS o alcaide lisboeta tem o mais sério problema da sua vida politica para resolver.
E as hipóteses são apenas duas:
Ou tem uma atitude humilde, reconhece os erros, admite que o tempo de Sócrates foi um "buraco negro" na governação e na transparência do governo e deixa-se de arrogâncias e de um ar de "salvador" da Pátria que não convence ninguém fora do circulo de fieis esperando que os portugueses façam o seu juízo relativo a esses tempos.
Ou então procura, num estilo que é mais o dele há que reconhecer, misturar o que não é misturável, evocar sinistras "conspirações",demarcar-se do que apoiou, renegar o que seguiu, desdizer o que disse e fazer tudo isso sem parecer um "troca tintas" e procurando convencer as pessoas de que aquilo que agora diz é que é verdade e o que andou anos a dizer não era bem assim.
Porque Costa sabe bem que a partir de ontem tudo que diz respeito a Sócrates é altamente "tóxico".
E se essa toxicidade se estender ao PS, ainda que por mero contágio e sem factos adicionais que envolvam outros governantes desse tempo, então vencer 2015 será ainda mais difícil do que acreditar
que Sócrates está inocente de tudo que o acusam.
Depois Falamos
William Faulkner define bem este embaraço tóxico, como Senhor Luís Cirilo refere, entre Sócrates e o PS com o célebre «O passado nunca morre, nem sequer é passado.» Somos filhos do que fomos portanto Sócrates está agora a colher o que semeou no PS e na Suíça.
ResponderEliminarSim, Sr. Luís Cirilo, posso aceitar a vida também é feita de imprevistos e de coisas que não preparamos, mas o caso da detenção José Socrates não é obra do acaso. A investigação durou tempo suficiente para o Senhor Juiz ordenar o mandado com mais certezas do que dúvidas.
Na minha opinião, ainda bem que as aspirações de Sócrates à Presidência da República caem todas por terra com esta detenção porque os trilhos que ele estava a calcorrear para chegar a ditador têm a mesma mente maquiavélica que o polícia vingador de Miami, Dexter.
Há um ano ele escreveu um ensaio filosófico Sobre a Tortura em Democracia intitulado «A Confiança» no Mundo. O tema de fundo é a tortura e ele deu-lhe o título de «Confiança no Mundo»!! com um prefácio escrito pelo Lula da Silva!? Portugal estava a ficar com um futuro muito sombrio com Sócrates sempre a espreitar o poder.
José Sócrates dizia em 2013, «não há vida boa sem confiar nos outros». Esperemos que deposite toda a confiança na Justiça e na Polícia Portuguesa para enfrentar o que lhe está reservado. Porque um fulano como ele que prefere as ideias de Nietzsche como lemas de vida, tal como «arrependermo-nos é errar duas vezes», vai ter vida difícil nos próximos tempos.
Quim Rolhas
Caro Quim Rolhas:
ResponderEliminarNa campanha eleitoral de 2005 a JSD afixou um outdoor com o seguinte lema, e referindo-se a Sócrates,"Você tem a certeza que o conhece?". Na altura foram muito criticados por isso mas parece que tinham razão. E felizmente que a carreira politica de Sócrates parece caminhar para o fim que o próprio lhe destinou. Porque os anos de Sócrates como PM foram os mais sombrios da democracia pós 25 de Abril. Um dia se saberá mesmo toda a verdade.
Caro Luis Cirilo
ResponderEliminarEsse cartaz era uma insinuação homofóbica.
Fica-lhe mal citá-lo
Caro luso:
ResponderEliminarEra um cartaz politico a que o tempo se encarregou de dar total razão. Os portugueses elegeram quem não conheciam. O resultado está à vista.