Quarenta anos de democracia já nos habituaram a tudo.
Na politica, no desporto, no mundo das empresas, na comunicação social, nas comunidades.
Mas se por um lado nos habituaram a tudo ( e ás vezes ao seu contrário...) continuam a existir fenómenos para cuja explicação as décadas de democracia continuam a ser insuficientes para nos oferecerem uma explicação cabal do porquê acontecerem.
Um desses "fenómenos" é a arrogância dos "poderosos".
Aqueles que detém qualquer forma de poder (e há tantas...)e que uma vez investidos nele, seja por votação democrática seja por nomeação por quem de direito, acham de imediato que esse poder vem revestido de uma aura de infalibilidade, do direito a veneração respeitosa por parte de quem os rodeia e essencialmente da impossibilidade total de serem criticados, contestados ou verem-se alvo de propostas e entendimentos alternativos aquilo que fazem o favôr de decidir e resolver.
Não suportam a critica, não admitem o contraditório, não reconhecem aos outros, aos que pensam diferente deles, o elementar direito de se pronunciarem seja de que forma for.
Por artigos de opinião em jornais, por tomadas de posição em redes sociais, por entrevistas na comunicação social ou pela realização de conferências de imprensa.
Até dos orgãos próprios para a discussão (quando existem) tem a visão de uma "igreja" de religião única, de verdades absolutas, de dogmas incontestáveis.
E ai do "herege" que, aqui ou ali, diga que o rei vai nú.
Na falta de uma Inquisição que o excomungue de imediato, como tanto gostariam, socorrem-se do ruído de maiorias ocasionais para tentarem diminuir o direito à expressão de quem professa "heresias".
Ferozes seguidores de George Orwell acham-se no direito de serem os "Big Brother" das comunidades e convivem mal, cada vez pior diria, com os que lhes "fogem" à ortodoxia.
Tem naturalmente os seus seguidores.
Não deles (como descobrirão um dia que o percam) mas do poder que ocupam temporariamente.
E esses seguidores, como é normal de quem se move por interesses meramente materiais, são mais fanáticos, mais intransigentes, mais ameaçadores do que os próprios detentores dos tais poderes variados.
São, em suma, gente de quem lhes paga!
Caso para dizer que passados 40 anos de democracia, e os capitães de Abril que me perdoem, foi mais fácil tirar Portugal do "estado novo" do que tirar o "estado novo" da mentalidade de alguns portugueses que nos vão rodeando.
Que prezam a democracia por lhes ter permitido chegar onde estão mas no dia a dia são seguidores fieis de "Frei Tomás " e do seu "olha para o que eu digo mas não olhes para o que eu faço".!
A luta continua...
Depois Falamos.
P.S. Como terão percebido o âmbito deste texto vai muito para lá da política propriamente dita.
O seu ponto de vista é interessante!
ResponderEliminarDiscordo, frotalmente, que alguma vez a Inquisição tenha excomungado alguém, pois a excomunhão é uma pena papal... mas isso é um mero pormenor.
Excelente tema, desenvolvido de maneira clara, Caro Amigo. Sabemos como certas verdades parecem à primeira vista absurdos inaceitáveis. Só quando nos obrigamos a suportar certos discursos é que conseguimos compreender o conteúdo. Convém de deixar o outro agir, pensar, falar, porque talvez ele tenha razão, porque tem o direito de pensar, portanto de se enganar, ou porque o seu erro nos pode ainda ser-nos benéfico.
ResponderEliminarO direito ao erro deve ser reivindicado e é aliás para o exercer que debatemos livremente.
E isto porque estamos todos plenos de certezas ilusórias. A sacrossanta VERDADE, absoluta e definitiva, não existe na moral : não dispomos, todos, mais que as nossas verdades, com um "v" minúsculo. Reconhecê-lo, consiste enfim a pensar em conjunto: é a consciência dos nossos limites que nos faz filósofos.
O nosso maior mérito resta por esta razão de nos poder entender, mesmo se este entendimento é perverso. Na minha juventude li alguns livros que me influenciaram bastante. Um dos meus autores preferidos foi Voltaire. Ele que dizia, que não se deveria conceder a liberdade aos inimigos da liberdade... e que dizia algures que combateria para que aqueles que têm opiniões diferentes à sua pudessem tê-las, mesmo assim! Simpática contradição!
O tema do seu "post" toca igualmente a influência do poder na sociedade actual.
Para que o povo coabite em acordo, é preciso que adira a certas regras do comportamento ou certos sistemas de valores. Mas algo veio perturbar o comportamento e destruir os sistemas de valores: o DINHEIRO.
De qualquer maneira que peguemos no problema, é o Dinheiro que faz o poder em democracia. Ele escolhe-o, cria-o e gera-o. Ele é o arbitro do poder democrático porque sem ele este poder recai no nada ou no caos. O dinheiro é o genitor e o pai de todo poder democrático, de todo poder eleito, de todo poder mantido na dependência da opinião.
Vemos bem que o Dinheiro pode ser o pior inimigo da democracia. Ele é também a condição de existência.
Caso para perguntar se a democracia representativa ainda é capaz de representar os cidadãos nas sociedades desmanteladas , entaladas entre uma massa cada vez maior de excluídos e de "paraísos" cada vez mais excepcionais de privilegiados, estes cada vez mais arrogantes e mais poderosos.
Sabe, Caro Dr. Cirilo : Mais que nunca, o Estado moderno é o instrumento da exploração do povo pelo Capital. Na república dita democrática, a riqueza exerce o seu poder, duma maneira indirecta mas ainda mais segura numa aliança entre o governo e o dinheiro. A república democrática é a melhor forma politica possível do capitalismo. O Capital , depois de a ter conquistado, estabelece o seu poder tão solidamente, tão seguramente, que este não pode ser abalado por nenhuma mudança de pessoas, de instituições ou de partidos.
Cumprimentos
FreitasPereira
Arrivistas! Burgueses sem noção de longo prazo, de civilização.
ResponderEliminarCaro Anónimo:
ResponderEliminarDe facto ao Papa cabe excomungar. À Inquisição competiam coisas bem piores. Mas estamos a falar,neste texto,apenas em sentido figurado.
Caro Freitas Pereira:
Com o passar dos anos e a experiência de vida que se vai acumulando (e como costumo dizer a experiência não se compra na farmácia)vamos relativizando umas coisas e dando mais valor as outras.
A Liberdade é uma delas.
Faço parte de uma geração que nasceu o tempo suficiente antes do 25 de Abril para saber o que é liberdade e falta dela. Muito ao contrário de gerações posteriores que acham que foi "sempre assim".
Não foi.
E por isso me indigno,progressivamente mais, com o mau uso que alguns fazem da liberdade ou da forma como em interesse próprio a interpretam.
Quanto ao poder nas sociedades actuais creio que infelizmente(e a todos os níveis da administração) é exercido por uma percentagem elevada de gente insuficientemente preparada para o fazerem.
Não só em termos de cultura democrática como da cultura propriamente dita.
Falta-lhes "mundo", livros, experiência de vida. E quando assim é a unica defesa que conhecem é o apelo ao pequeno totalitarismo na tentativa de disfarçarem as grandes insuficiências. É um problema das Nações. E não vejo um futuro optimista nessa matéria.
cara il:
É também isso. Gente sem passado nem futuro que quer extrair do presente o mais que puder