Não farei juízos de valor e muito menos condenarei atitudes e decisões cuja fundamentação está seguramente para lá daquilo que conheço.
A revista Visão, na sua página on line, traz hoje a notícia de que Marrocos e Portugal (aeroporto do Funchal) recusaram a aterragem para reabastecimento de um pequeno avião sanitário que transportava uma jovem médica norueguesa para Oslo sua terra natal.
Encontrava-se na Serra Leoa, ao serviço dos Médicos sem Fronteiras, e estava infectada pelo Ébola.
Posteriormente o avião foi autorizado a aterrar nas Canárias e efectuou o reabastecimento sem que, devido aos protocolos de segurança sanitários, alguém (ou algum objecto) tenham sido autorizados a deixarem o avião.
Percebo perfeitamente os receios perante um vírus terrível e que parece sem controlo em várias regiões de África e ameaça já os restantes continentes.
Mas depois há o resto.
E esse é que perturba.
A solidariedade perante um ser humano que contraiu a doença ao ter a coragem de no terreno, não nas confortáveis e diversas tribunas politicas do mundo, combater o vírus e ajudar os seus semelhantes perante tão terrível ameaça.
E a quem no repatriamento, naquela que pode muito bem ser a sua ultima viagem, até a aterragem do avião para reabastecimento é negada.
Não condeno nem critico porque este problema de saúde é tão complexo e ameaçador que está para lá do meu mero conhecimento.
Mas que vivemos num mundo cão isso vivemos!
Depois Falamos.
P.S: Felizmente Espanha resolveu o problema de forma correcta.
E humanitária.
quando o problema nos aperta, é o salve-se quem puder.
ResponderEliminarPode parecer chocante, mas é a cultura que, cada vez mais, prevalece no mundo.
O egoísmo no seu "melhor"
Caro luso:
ResponderEliminarInfelizmente é isso.
O que é assustador.
O mundo sempre foi cão, Sr. Luís Cirilo. Desde sempre, desde que me lembro. À primeira vista parece que o mundo está a mudar para melhor, salvo os efeitos de estufa com invernos amenos e verões mais frescos, mas não. Continua com a natureza agreste, animais selvagens, milhões bactérias e vírus letais como este do Ébola.
ResponderEliminarO que muda mesmo no Mundo é a perspectiva positiva ou negativa como cada um o vê. Daí confessar a sua desilusão à luz deste incidente que teve um procedimento que me parece adequado diante do desconhecimento médico internacional por uma solução definitiva que possa erradicar eficazmente a doença.
Neste caso que descreve, os protocolos executados, na falta de uma diretiva superior, permitem a qualquer preço a proteção da sanidade pública de qualquer estado diante de uma doença mortal para a qual não há cura fiável. Por isso, são impostas regras moralmente criticáveis, com um objetivo de grandeza maior ou eticamente aceitável. Se não se consegue salvar um, infelizmente já de si condenado em quase 90%, a maioria ganha o direito de não ser infectada, cabendo-lhe a oportunidade de sobreviver.
Todos sabemos, no campo teórico, que uma só vida humana é mais valiosa do que qualquer outro bem material ou valor monetário. Contudo, na prática, quando está em causa a vida de milhões, todas as decisões são tomadas em detrimento de um elemento potencialmente perigoso ou em perigo, salvaguardando-se sempre o bem-estar ou a integridade da maioria.
Só funciona o «um por todos» até surgir cura para a doença. Porque num cenário de «todos por um», sem precauções desta índole, estaríamos a colocar em risco o contágio de escalada imprevisível.
Veja outra situação de como o «mundo cão» se alterou nos últimos 20 anos. Dantes negociava-se com terroristas até haver consenso sobre um resgate a pagar para salvar este ou aquele cidadão feito prisioneiro. Agora as negociações nem se iniciam. O refém entra numa contagem decrescente e até ao último sopro, torna-se um morto ambulante. Espera-se pela confirmação da morte e só depois reage-se na mesma proporção com o agravamento de posições de força. É este o procedimento correto? É impossível dizer que sim, mas dizer que não estaríamos a ser parvos. Nem o Papa tem a certeza mas não lhe resta senão apoiar os meios necessários para impedir que a violência domine o mundo. E se isso significa o custo de algumas vidas, por muito cruel que a realidade se imponha, assim seja.
Quim Rolhas
obviamente que este tipo de comportamentos apenas potencia o histerismo coletivo, como nos primeiros tempos da sida.
ResponderEliminarLembro-me há uns anos, quando surgiu a gripe A, da loucura que foram os primeiros casos.
Recordo-me da história de um médico que, perante um doente suspeito de ter contraído a gripe, o consultar à distância desde a porta do consultório.
As autoridades devem ser as primeiras a ter comportamentos cívicos, civilizados e urbanos, fazendo pedagogia para com a população, o que notoriamente não foi o caso
"Daí confessar a sua desilusão à luz deste incidente que teve um procedimento que me parece adequado diante do desconhecimento médico internacional por uma solução definitiva que possa erradicar eficazmente a doença.
ResponderEliminarNeste caso que descreve, os protocolos executados, na falta de uma diretiva superior, permitem a qualquer preço a proteção da sanidade pública de qualquer estado diante de uma doença mortal para a qual não há cura fiável. Por isso, são impostas regras moralmente criticáveis, com um objetivo de grandeza maior ou eticamente aceitável. Se não se consegue salvar um, infelizmente já de si condenado em quase 90%, a maioria ganha o direito de não ser infectada, cabendo-lhe a oportunidade de sobreviver.
Todos sabemos, no campo teórico, que uma só vida humana é mais valiosa do que qualquer outro bem material ou valor monetário. Contudo, na prática, quando está em causa a vida de milhões, todas as decisões são tomadas em detrimento de um elemento potencialmente perigoso ou em perigo, salvaguardando-se sempre o bem-estar ou a integridade da maioria."
Acho que isto resume muito do meu pensamento. É uma situação muito complicada, a que ontem ocorreu, e não sei se, perante a propagação descontrolada do Vírus, não terá sido a melhor opção. É que se, por acaso, o avião para e imagine-se, há contacto de terceiros com a pessoa infectada, já ia ser o caos. Já imagino as responsabilidades que iam exigir a políticos, controladores aéreos, responsáveis das companhias aéreas. Sei que pode ter sido uma decisão egoísta, mas em parte, consigo compreender. Em parte..Até porque a vida humana tem um valor tremendo.
Caro Quim Rolhas:
ResponderEliminarPercebo a sua argumentação. Que incide,fundamentalmente, sobre as duvidas e receios perante a dimensão de algo que desconhecemos.
E por isso abordei o assunto com alguma prudência. Mas neste caso especifico houve, no minimo, excesso de zelo. O avião aterrava,reabastecia e seguia o seu caminho. Não haveria nenhum contacto entre pessoal de terra e passageiros. Como aconteceu nas Canárias. O argumento de que ele podia ser reencaminhado para Lisboa ou para as Lajes não colhe. Porque era um avião sanitário e não de passeios turisticos.
É isso tudo.
ResponderEliminarSr. Luís Cirilo, só mais um pormenor. A autorização para qualquer avião aterrar, pelo conhecimento que tenho dos procedimentos internacionais na aviação comercial ou civil, tem de ser concedida ou não em menos de 5 minutos.
Portanto, cinco minutos foi o tempo que as autoridades portuguesas tiveram para avaliar esta autorização de tráfego.
Por outro lado, só uma curiosidade, em jeito de pergunta, uma vez que o Sr. Luís Cirilo já foi uma prestigiada figura do Governo Civil de Braga e teve certamente de tomar muitas decisões.
Perante a inexistência de indicações precisas do Estado e com a escassez de tempo a decorrer, dada a necessidade de combustível que deveria ter sido prevista num plano de voo mais cuidado e rigoroso (Flight Plan), que posição o Sr. Luís Cirilo tomava se estivesse à frente da torre de controlo? Entendia a ausência de indicações como autorização para conceder a aterragem e fazer favor a um piloto negligente? O avião era sanitário, mas não é estanque. Precisa de oxigênio exterior, mesmo estando parado. Se após o abastecimento do avião surgissem alguns casos de Ébola entre funcionários do aeroporto, como é que justificaria perante as suas famílias o seu ato de coragem em conceder autorização sem ter recebido ordens superiores?
Quim Rolhas
Caro luso:
ResponderEliminarÉ um pouco isso.
Esperemos que tenha sido caso único.
Caro Diogo:
A vida é feita de imponderáveis. Mas à partida tratava-se apenas de um reabastecimento que não implicava riscos. Imaginemos se o avião pedia para aterrar por ter uma avaria grave. Qual seria a resposta?
Acho que houve alarmismo neste caso.
Caro Quim Rolhas.
Do plano de voo nada sei como é evidente. Mas sei que o Ébola,como a Sida, se transmite por contactos com fluidos corporais do doente e não pelo oxigénio que se respira. Acho que houve excesso de zelo.
Exactamente pelo facto de a vida ser feita de imponderáveis, é que acho que a decisão, apesar de ser de um zelo excessivo, não foi assim tão descabida. E esse "se" que pôs, a meu ver, não pode ser equacionado, uma vez que se formos a julgar todas as situações por hipotéticos "ses". Aqui o que se passou, é que vinha alguém infectado no avião, e apesar da propagação não se fazer através do oxigénio que respiramos, o risco de contágio através do contacto com outras pessoas não é assim tão menor. É como digo, "preso por ter cão, preso por não ter."
ResponderEliminarÉ possível, e admito também, tal como o Sr. Luís Cirilo, que tenha havido excesso de zelo. Mas se dum lado houve a mais, do outro houve a menos.
ResponderEliminarA meu ver, tal atitude da nossa parte revela que os profissionais das torres de controlo nos aeroportos, quando confrontados com decisões para as quais não estão preparados, optam pelas decisões que lhes parecem as mais responsáveis.
É muito fácil um jornalista de Lisboa justificar trabalho com dois ou três telefonemas, sem sair do escritório, escrevendo um artigo que levanta problemas de consciência na opinião pública, neste caso a respeito do aeroporto da Madeira, sobre uma decisão que tinha de ser tomada num curto espaço de tempo sem ouvir todas as partes envolvidas.
Quanto a mim, faltou contactar a empresa de aviação contratada e apurar o papel do piloto no plano de voo, que teria de ser previamente delineado com indicações precisas onde deveria aterrar no caso de falta de combustível. O facto do avião ser norueguês e haver boas relações comerciais entre os dois países, dá azo a muita especulação e pode ter levado o piloto a pensar que isto era tudo um mar de rosas. Fazendo o filmes dos acontecimentos, uma vez que o jornalista só se debruçou na questão da autorização. Certamente, o piloto ou os pilotos (piloto e copiloto) aterraram na Serra Leoa com a maior urgência do Mundo. Dormiram, repousaram ou lavaram-se sem sair do avião. Provavelmente, não reabasteceram a aeronave para evitar contatos com as gentes locais, tudo com o receio de uma infecção. E, vai daí, não tiveram muito tempo para preparar um plano de contingência, muito menos um Plano de Voo como deve ser, cuja tarefa obrigaria alguém a sair do avião para elaborar e autorizar o voo de regresso.
Como em todas as profissões, na aviação há bons e maus pilotos ou co-pilotos. O facto de ele pilotar um avião norueguês não significa que ele seja norueguês. O facto de ele ser oriundo de um país altamente cotado no ranking do desenvolvimento humano, não significa que ele seja um piloto de excelência. E ainda por cima com um carga tão especial, deveria se ter informado antes de solicitar autorização de aterragem à queima-roupa, como o fez dando-lhe um caráter de emergência para não dar tempo para pensar. Quanto a mim, talvez a pressão a que o piloto foi sujeito tivesse afetado o normal desempenho das suas funções. Nas torres de controlo não é assim que funciona.
Só para concluir. Não excluo a hipótese que a decisão da torre de controlo pudesse ser diferente se a médica em questão fosse cidadã portuguesa.
Quim Rolhas
Caro Diogo:
ResponderEliminarQue se tenha aprendido com o que se passou.
Porque um aeroporto de Portugal, seja qual for (e são poucos),tem de estar preparado para contingências destas.
Caro Quim Rolhas:
Aborda uma série de questões que são interessantes mas para as quais não há respostas.
Face ao que se sabe continuo a entender que houve excesso de zelo porque o risco não era tão grande como se quis fazer crer.
E no dia(esperemos que nunca chegue)em que eventualmente apareça um português com ébola cá estaremos para ver as decisões que são tomadas.
Caro Diogo:
ResponderEliminarQue se tenha aprendido com o que se passou.
Porque um aeroporto de Portugal, seja qual for (e são poucos),tem de estar preparado para contingências destas.
Caro Quim Rolhas:
Aborda uma série de questões que são interessantes mas para as quais não há respostas.
Face ao que se sabe continuo a entender que houve excesso de zelo porque o risco não era tão grande como se quis fazer crer.
E no dia(esperemos que nunca chegue)em que eventualmente apareça um português com ébola cá estaremos para ver as decisões que são tomadas.