O nosso futebol é "sui generis" em muitas coisas de que tenho falado neste espaço com alguma regularidade.
Uma delas, e das mais penosas do ponto de vista humano e desportivo, é a rapidez com que os adeptos "envelhecem" os jogadores uma vez atingido o patamar dos trinta anos.
Os adeptos e a imprensa, manda a verdade dizê-lo, já que aos jogadores nessa faixa etária costumam apelidar de veteranos o que na linguagem futebolistica significa pouco mais (ou melhor) do que pré reformado !
Pessoalmente, e depois de mais de quarenta anos a ver futebol, tenho a certeza consolidada de que a idade de um jogador se vê apenas pelo rendimento em campo e nunca pelo bilhete de identidade que é aquilo que de mais enganador existe.
Até porque o futebol está cheio de jogadores "velhos" aos vinte anos e jovens aos trinta e muitos face à forma como encaram a profissão e se entregam á sua prática.
Porque sendo verdade que o avançar dos anos retira algumas faculdades é igualmente verdade que dá a experiência e o "savoir faire" que compensam a referida perda.
Javier Zanetti e Ryan Giggs, os jogadores retratados no cromos acima reproduzidos que retratam os últimos vinte anos das suas carreiras,jogam no Inter de Milão e no Manchester United dois colossos do futebol mundial.
Tem ambos 40 anos e não são guarda redes.
Mas jogam mesmo.
Com regularidade.
Menos vezes que no auge das carreiras mas ainda assim fazendo dezenas de jogos por ano e com elevado rendimento sem o qual, aliás, não integrariam essas equipas.
Em Portugal já teriam sido postos de lado há muito tempo por serem "velhos" como tantos outros o foram prematuramente com perda para as suas carreiras e para o futebol nacional que se viu privado dos seus talentos e da mais valia que constituíam.
E por isso é tempo de os clubes, de forma firme e pedagógica, iniciarem uma revolução de mentalidades que leve as pessoas a avaliarem os desempenhos dos jogadores exclusivamente pelo que mostram em campo e deixarem de considerar o bilhete de identidade como critério.
Convençamos-nos todos que um jogador que seja um bom profissional, que interiorize que o seu corpo é a sua ferramenta de trabalho e o preserve nesse sentido, e que seja poupado a lesões muito graves pode perfeitamente jogar até aos 36 ou 37 anos (no mínimo) sem perda de rendimento.
Depois Falamos
Caro Sr. Luís Cirilo
ResponderEliminarDeu um exemplo real no que respeita ao futebol, mas também poderíamos transportar essa mentalidade para qualquer outra profissão.
Como sabe, a nossa sociedade hoje rege-se muito pelo bilhete de identidade. Há bons artistas e excelentes operários nas suas categorias profissionais que, chegados à idade dos 40, são considerados velhos e incapazes, esquecendo-se a sua mais valia em termos de responsabilidade e capacidade, já não falando da prática adquirida ao longo de vários anos.
Esta mentalidade que se enraizou nos tempos modernos, é o sintoma de um profundo desrespeito pelos mais velhos que era necessário erradicar da sociedade contemporânea.
E já que estamos na época natalícia, desejo-lhe um Feliz Natal, e um Ano Novo cheio de saúde para "depois falar" durante muitos e bons anos.
Sr. Luís Cirilo
ResponderEliminarFalha minha da qual me penitencio, não assinei o comentário anterior.
Cps
S. Guimarães
É complicado, Caro Cirilo. Pode haver uma ou outra excepção, mas os clubes não querem ver o tempo a passar à espera que uma lesão se cure. Quanto mais jovem é o jogador, menor é o tempo de recuperação. Todos nós, os mais velhos, sabemos isso. As dores de uma pancada que sofremos aos 40-50 anos, demoram de 7 a 10 dias a passar. Cada ano é pior.
ResponderEliminarCaro Cirilo, para eleucidar melhor, lembro-me que aos 20 anos, namorava duas moças ao mesmo tempo. Fazia voluntariado em casa de uma viúva adorável a caminho de casa. E nunca chegava a casa cansado. Hoje, desses tempos, pergunto-me com saudade como era possível ter tanta pedalada? No futebol é a mesma coisa. Para mim, aos 33-35 anos, um jogador dá o badagaio em quase todas as suas faculdades. A lei da termodinâmica é quilhada, Caro Cirilo. Nem o Ronaldo vai escapar, infelizmente. A fama ainda resiste à longevidade, mas o corpo não.
Vamos falando
Acho que o que diferencia um jogador de 30 aos 36 de um de 20 é a ambição.A ambição de ter uma grande carreira que aos 35 já será curta.De resto obviamente a experiência vale muito.Estes 2 tem essa ambição apesar da idade e isso faz deles excepções...
ResponderEliminarCaro S.Guimarães:
ResponderEliminarMais uma vez tem toda a razão.
E isso deve-se cada vez mais a uma mentalidade que se instalou de "usa e deita fora". As pessoas são espremidas e quando se julga que nada mais tem a dar são arrumadas.
Caro Anónimo:
Achei o seu exemplo pessoal notável. Então a do voluntariado está de mais. Quanto aos jogadores tem muito a ver com a forma como se cuidam e como trabalham. E acho que o Ronaldo vai jogar, se quiser, até aos 35 ou 36 anos a grande nível.
Caro Anónimo:
É verdade isso que diz. Mas quando os jogadores tem,como estes dois, uma sólida cultura de profissionalismo ultrapassam a questão da ambição que a idade já não lhes permite.
Noutra modalidade lembro-me sempre da ultima corrida de Michael Schumacher pela Ferrari antes do que se pensava ser a sua retirada de pistas.
Numa das ultimas voltas do ultimo GP, que para ele já não tinha qualquer interesse classificativo,fez uma ultrapassagem tão espectacular quanto arriscada. Por puro profissionalismo.