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quinta-feira, fevereiro 14, 2013
O Entrudo e o Quadrilátero
Publiquei este artigo na edição de hoje do "Povo de Guimarães"
Neste espaço que tão gentilmente “O Povo” põe á minha disposição tenho partilhado algumas reflexões, com quem tem a paciência de me ler, essencialmente em volta do que se passa em rectângulos desportivos.
Hoje, muito excepcionalmente e um pouco em função desta quadra dedicada á boa disposição como o é o Carnaval, vou-me referir a outra figura geométrica.
Passando de rectângulos para quadriláteros.
E trocando desporto por política.
A “história” é divertida, pelo menos nalguma das suas facetas, e não gostaria de perder a oportunidade de a ela me referir de forma ,perdoem-me a imodéstia, algo pedagógica e sem querer contribuir para agravar aquilo que nunca deveria sequer ter acontecido.
Guimarães, juntamente com Braga, Barcelos e Vila Nova de Famalicão integra uma Associação de Municípios com Fins Específicos chamada “Quadrilátero” que visa uma cooperação entre os quatro municípios com vista a estratégias comuns face á vastidão de desafios que a concorrência global acarreta para toda esta região.
É um excelente projecto (que alguns mais visionários veêm como embrião de um futuro espaço regional), que conta ainda com a adesão da Universidade do Minho, da Associação Industrial do Minho e do Centro Tecnológico das Industrias Têxteis e de Vestuário de Portugal.
Fruto dessa parceria estão em curso uma série de projectos, alguns deles financiados a nível europeu ou em vias disso, em áreas tão diversas como a cultura, a juventude ou a fibra óptica entre outras.
Envolvendo os municípios, os parceiros atrás citados, o governo e a união europeia num conjunto de participantes e participações que dão dimensão á associação de municípios e se revestem de inequívoca importância para as populações dos respectivos territórios.
Reconhecendo tudo isto, e em especial a importância de um projecto na área da fibra óptica que o Quadrilátero vai apresentar ao próximo quadro comunitário de apoio, o Jornal de Noticias (JN) pertencente á empresa privada”Controlinveste” e sem qualquer ligação conhecida aos municípios que integram a associação, publicou recentemente um trabalho sobre esse referido projecto.
Escolhendo um vereador de cada município, dentro de um critério editorial próprio a que o mais simplório dos defensores da liberdade de imprensa reconhecerá o direito, para se pronunciar sobre o projeto em causa.
E assim ouviu Paulo Cunha de Famalicão, Domingos Pereira de Barcelos, Vítor Sousa de Braga e André Coelho Lima de Guimarães todos vereadores eleitos com a igual legitimidade do voto popular e representando correntes de opinião do respectivo concelho.
Todos eles se pronunciaram de forma convergente, e sem qualquer polémica partidária, sobre as vantagens do projecto e a importância do “Quadrilátero” em iniciativas deste género.
E é aqui que entra aquilo a que chamaremos o “efeito Entrudo”.
Quando a câmara municipal de Guimarães anuncia que vai retirar-se da associação de municípios “Quadrilátero”, mandando às malvas projectos e comparticipações já definidas, apenas e só porque o vereador ouvido pelo Jornal de Noticias (que não é o boletim municipal e ainda que fosse…) é do PSD e não do PS!
Se não tivesse lido o espantoso comunicado do Município não acreditaria.
Apenas e só porque um jornal privado, num país onde a censura foi extinta vai para 39 anos, foi ouvido o político que o jornal entendeu e não um político nomeado pela câmara para o efeito, a CMG sai do “Quadrilátero” numa atitude de pesada irresponsabilidade e lesiva dos interesses do município e das populações.
Porque a questão é muito clara.
Guimarães está desde o início na associação de municípios, e nela se fez representar durante muito tempo pelo próprio vice-presidente, como participante activo e interessado da mesma.
Nunca á CMG ou aos seus responsáveis se ouviu uma crítica, uma discordância, um por em causa a forma como o “Quadrilátero” funcionava.
Em várias assembleias municipais ouvi os responsáveis camarários e deputados socialistas tecerem as maiores loas ao Quadrilátero e às vantagens deste tipo de associação em rede.
E então das duas uma: ou a presença no “Quadrilátero” é de facto relevante e esta anunciada saída é uma irresponsabilidade mesclada de infantilidade (faz lembrar aqueles miúdos que quando não tem a bola deixam de querer jogar) ou então “aquilo” não serve para nada e os responsáveis socialistas vimaranenses andaram a enganar o “Zé Povinho” durante anos pregando as virtudes de algo que de facto não as tinha.
Volto ao Entrudo.
De forma pedagógica.
Será bom que o PS reflicta nas suas atitudes e dê o necessário passo atrás, no exclusivo interesse de Guimarães, na decisão de abandonar o “Quadrilátero”.
Nem que seja atribuindo tudo isto a uma brincadeira de Carnaval.
P.S. Há um aviso que, contudo, este caso deixa á consideração dos vimaranenses.
Demasiados anos no poder levam a que na gestão municipal se substitua a razão por estados de alma!
E isso é um erro inaceitável.
muito bom.
ResponderEliminaruma análise correcta do sucedido.
ResponderEliminarO que o PS fez foi uma birra devido aos maus humores do Dr. Magalhães.
É incrivel como os estados de alma d eum autarca desesperado pelo fim de percurso podem contribuir para decisões tão gravosas para a nossa terra.
ResponderEliminarAcho que os partidos da oposição devem ser incansáveis na denúncia deste enorme disparate.
E gostava de ouvi o dr Bragança que lá andou anos a falar deste assunto.
Creio que o Luis Cirilo pôs a questão de forma muito correcta. Agora não a deixem cair
Caro Dr. Luis Cirilo
ResponderEliminarAinda há bem pouco tempo, e comentando a obra do dr.A.M. com um anónimo deste blog, me referi ao facto de este homem apenas conseguir gerar amuos e nunca aceitar críticas.
Pelos vistos, o seu (dele) mau humor continua a ser de tal ordem que, não aceita que alguém fora do seu partido participe, ainda que como convidado por um jornal, a dar a sua opinião.
Afinal tudo o que tenho comentado a respeito deste senhor, continua infelizmente sempre actual.
Cps
S. Guimarães
Caro Anónimo:
ResponderEliminarMuito obrigado.
Caro Alberto:
Assim parece.
Cara Rita:
Creio que este assunto ainda vai dar "pano para mangas". É que a história está muito mal contada.
Caro S.Guiarães:
Era de esperar que tantos anos depois do advento da democracia existisse outra cultura democrática. Infelizmente nalguns casos nao é assim
Caro Luís Cirilo,
ResponderEliminarHá muito tempo que penso que, de futuro, os concelhos de média dimensão portugueses serão muito pequenos para poderem ser auto-suficientes no que às necessidades diárias dos seus habitantes diz respeito (basta pensarmos na questão do emprego). Durante anos, imaginei que uma excelente solução alternativa àquilo que eu considero as caóticas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto seria a integração de núcleos urbanos de média dimensão em supra-estruturas regionais que se coordenassem entre si no sentido do desenvolvimento (não confundir com crescimento desenfreado) e, em última análise, da partilha de equipamentos que se justificariam pelo efeito de escala adquirido, promovendo assim uma gestão mais eficiente de recursos (e como o país anda carecido disso). Andava eu com essa ideia, a imaginar que pontos se podiam juntar no mapa desta região, quando descubro que existia um tal de Quadrilátero. Numa região onde quem tem um terreno que só produz silvas para as chamas de verão coloca logo um muro para o vedar, esta notícia era uma bênção. Agora que eu pensava que as coisas iam andando, a passo lento, mas andando, surge nova notícia que, a confirmar-se, do meu ponto de vista, será trágica. Não estamos em tempos de isolacionismos. Embora anónimo, eu faço parte daqueles a quem chamou de "alguns mais visionários". E faço-o porque não acredito que, no futuro, seja possível criar grandes projectos sustentáveis com "canteiros" tão pequenos como os nossos municípios (das freguesias já nem falo). Faço-o porque já me considerava mais residente no Quadrilátero (talvez mesmo numa figura com mais vértices) do que simplesmente em Guimarães antes de saber que o Quadrilátero existia. Faço-o ainda porque acho imperioso que se tomem medidas para que, na nossa zona, não coalesçam manchas urbanas em crescimento independente, como sucedeu nas áreas metropolitanas conhecidas.
Não tenho qualquer interesse em questões partidárias, particularmente no que à gestão autárquica diz respeito. Não creio que a ideologia tenha um grande peso nessas matérias. O que sei é que sempre temi que a, para mim, trágica rivalidade regional entre Guimarães e Braga pusesse em causa este projecto. Infelizmente, esqueci-me que podia ser a ainda mais trágica rivalidade nacional entre PS e PSD a fazê-lo. Mas trágico trágico é que as populações não tenham ainda reparado no potencial de qualidade de vida que este projecto encerra (se é que já repararam sequer que ele existe), levando a que uma decisão tão gravosa como esta possa ser tomada com o à vontade de quem bebe um copo de água.
Caro Luis Ferreira:
ResponderEliminarApenas posso dizer que estou totalmente de acordo consigo.