Publiquei, hoje, este artigo no jornal "Povo de Guimarães".
Teria certamente gosto em escrever um artigo sobre a vitória do PSD nas últimas eleições legislativas que o devolveu ao “seu” lugar de maior partido português.
Numa escala menor, mas ainda assim bastante prazenteira, poderia alinhavar um texto sobre a tremenda derrota do PS e do engenheiro José Sócrates que os levou a um resultado pior em votos e percentagem do obtido pelo PSD e por Pedro Santana Lopes em 2005.
Poderia, até, escrever qualquer coisa sobre um balão em esvaziamento acelerado conhecido como Balão…perdão Bloco de Esquerda.
Mas seria perder tempo.
Porque já é passado e importa agora olhar para o futuro.
De preferência com olhos de ver.
Não sou daqueles que com toda a facilidade transpõe resultados eleitorais de eleição para eleição, de presidenciais para legislativas e destas para autárquicas, como se cada uma não tivesse especificidade tão próprias que estreitam substancialmente os vasos comunicantes.
Estreitam.
Não vedam.
E se é verdade que em presidenciais se escolhe apenas uma pessoa, e em legislativas uma lista em cada círculo (embora em boa verdade eu ache que cada vez mais se escolhe apenas um primeiro ministro…), já em autárquicas escolhem-se centenas de pessoas no concelho de Guimarães que é aquele que aqui importa tratar.
Candidatos á Câmara, candidatos á assembleia municipal, candidatos às assembleias de freguesia.
E são tantas as motivações subjacentes às escolhas que é perfeitamente normal o mesmo eleitor votar em partidos diferentes consoante o órgão que está a escolher.
Daí ser difícil transferir automaticamente votos de uma eleição para outras.
Porque se fosse uma questão de simples aritmética então seria fácil.
Mas se é verdade que essa transferência não é automatizável é igualmente verdade que um eleitor que votou Cavaco Silva nas presidenciais é, á partida, alguém disponível para votar PSD nas legislativas e nas autárquicas.
Não há nenhum conflito ideológico que o impeça disso.
E o mesmo principio se aplica, como é óbvio, a eleitores mais á esquerda ou mais á direita.
Daí o considerar, de há muito tempo, que Guimarães não é um concelho sociologicamente “condenado” a votar á esquerda e a rejeitar outras opções em termos de autárquicas.
Bastará recordar que em AD(1979) e sozinho(1985) o PSD já por duas vezes venceu as eleições autárquicas neste concelho. E em tempos em que a sociedade portuguesa pensava bem mais á esquerda do que hoje.
A questão não é, pois, sociológica.
É política.
E a verdade é que o PS conquistou a câmara em 1989, depois de sucessivos erros de estratégia e de(falta de) exercício do poder pelo PSD, e depois consolidou nas eleições seguintes essa estratégia com base em escolhas do principal partido da oposição difíceis de entender.
Pelo menos os vimaranenses não as entenderam.
Somando a isso a forma como o PS foi exercendo o poder, realizando obra mas também municipalizando tudo que “mexia” no concelho, dominando a comunicação social e absorvendo autarcas de freguesia de outros partidos, tudo isso resultou no PSD estar afastado da liderança do município vai para 24 anos.
É demasiado tempo.
Há agora, contudo, uma oportunidade irrepetível nos próximos anos.
O presidente de câmara em exercício desde 1989 não se pode recandidatar por força da lei de limitação de mandatos.
E a saída anunciada é sempre um momento de fragilidade para quem está no poder.
Porque embora a transição se afigure pacífica em termos internos a verdade é que em termos de eleitorado é um momento em que fica tudo em aberto.
Em que um discurso inteligente em volta da alternância de poder, do demasiado tempo de governação socialista, do pedir para o PSD uma oportunidade idêntica á que foi dada ao PS em sete actos eleitorais sucessivos, faz todo o sentido.
E pode ser eficaz.
Se a estratégia for a correcta.
E aqui entram os tais vasos comunicantes estreitos mas não vedados.
Nas últimas presidenciais Cavaco Silva teve em Guimarães 38.320 votos.
No dia 5 de Junho PSD(31.331) e CDS(8810) tiveram em conjunto 40.141 votos.
Mais do que os 35.908 do PS.
Ou seja neste município existem consistentemente cerca de 40.000 eleitores dispostos a votarem no PSD e no CDS independentemente da eleição.
Sejamos claros: Não chega para bater os 50.102 votos que o PS teve nas últimas autárquicas em 2009.
Mas podem ser um belo ponto de partida considerando até que dificilmente o PS repetirá esses resultados.
Porque o candidato não é o mesmo, porque o governo é diferente, porque existe hoje uma dinâmica á direita do PS que não existia em 2009.
E um dado final a merecer reflexão.
O PS venceu as legislativas em 38 freguesias e o PSD em 30.
Em Gominhães, salomonicamente, empataram.
Mas somando PSD com CDS a vitória do PS ter-se-ia resumido a 19 freguesias enquanto os dois partidos juntos teriam vencido em 50!
Não tenho nenhuma duvida que uma vitória nas autárquicas de 2013 passa, em Guimarães, por uma coligação entre PSD e CDS.
Com listas conjuntas para aproveitar todos os votos especialmente os das freguesias.
E com um cabeça de lista que desperte entusiasmo, mobilize social-democratas e centristas, recolha o voto de socialistas descontentes e faça descer os números da abstenção.
Eu sei que de um lado e de outro existem pruridos, resistências e desconfiança perante a hipótese de listas conjuntas. Especialmente nas freguesias.
Os partidos e os seus órgãos políticos decidirão, evidentemente, da forma que entenderem melhor.
Na certeza de que ingenuidades nesta matéria serão devidamente apreciadas pelo PS.
E merecerão o agradecimento sincero do Dr. Domingos Bragança.
Teria certamente gosto em escrever um artigo sobre a vitória do PSD nas últimas eleições legislativas que o devolveu ao “seu” lugar de maior partido português.
Numa escala menor, mas ainda assim bastante prazenteira, poderia alinhavar um texto sobre a tremenda derrota do PS e do engenheiro José Sócrates que os levou a um resultado pior em votos e percentagem do obtido pelo PSD e por Pedro Santana Lopes em 2005.
Poderia, até, escrever qualquer coisa sobre um balão em esvaziamento acelerado conhecido como Balão…perdão Bloco de Esquerda.
Mas seria perder tempo.
Porque já é passado e importa agora olhar para o futuro.
De preferência com olhos de ver.
Não sou daqueles que com toda a facilidade transpõe resultados eleitorais de eleição para eleição, de presidenciais para legislativas e destas para autárquicas, como se cada uma não tivesse especificidade tão próprias que estreitam substancialmente os vasos comunicantes.
Estreitam.
Não vedam.
E se é verdade que em presidenciais se escolhe apenas uma pessoa, e em legislativas uma lista em cada círculo (embora em boa verdade eu ache que cada vez mais se escolhe apenas um primeiro ministro…), já em autárquicas escolhem-se centenas de pessoas no concelho de Guimarães que é aquele que aqui importa tratar.
Candidatos á Câmara, candidatos á assembleia municipal, candidatos às assembleias de freguesia.
E são tantas as motivações subjacentes às escolhas que é perfeitamente normal o mesmo eleitor votar em partidos diferentes consoante o órgão que está a escolher.
Daí ser difícil transferir automaticamente votos de uma eleição para outras.
Porque se fosse uma questão de simples aritmética então seria fácil.
Mas se é verdade que essa transferência não é automatizável é igualmente verdade que um eleitor que votou Cavaco Silva nas presidenciais é, á partida, alguém disponível para votar PSD nas legislativas e nas autárquicas.
Não há nenhum conflito ideológico que o impeça disso.
E o mesmo principio se aplica, como é óbvio, a eleitores mais á esquerda ou mais á direita.
Daí o considerar, de há muito tempo, que Guimarães não é um concelho sociologicamente “condenado” a votar á esquerda e a rejeitar outras opções em termos de autárquicas.
Bastará recordar que em AD(1979) e sozinho(1985) o PSD já por duas vezes venceu as eleições autárquicas neste concelho. E em tempos em que a sociedade portuguesa pensava bem mais á esquerda do que hoje.
A questão não é, pois, sociológica.
É política.
E a verdade é que o PS conquistou a câmara em 1989, depois de sucessivos erros de estratégia e de(falta de) exercício do poder pelo PSD, e depois consolidou nas eleições seguintes essa estratégia com base em escolhas do principal partido da oposição difíceis de entender.
Pelo menos os vimaranenses não as entenderam.
Somando a isso a forma como o PS foi exercendo o poder, realizando obra mas também municipalizando tudo que “mexia” no concelho, dominando a comunicação social e absorvendo autarcas de freguesia de outros partidos, tudo isso resultou no PSD estar afastado da liderança do município vai para 24 anos.
É demasiado tempo.
Há agora, contudo, uma oportunidade irrepetível nos próximos anos.
O presidente de câmara em exercício desde 1989 não se pode recandidatar por força da lei de limitação de mandatos.
E a saída anunciada é sempre um momento de fragilidade para quem está no poder.
Porque embora a transição se afigure pacífica em termos internos a verdade é que em termos de eleitorado é um momento em que fica tudo em aberto.
Em que um discurso inteligente em volta da alternância de poder, do demasiado tempo de governação socialista, do pedir para o PSD uma oportunidade idêntica á que foi dada ao PS em sete actos eleitorais sucessivos, faz todo o sentido.
E pode ser eficaz.
Se a estratégia for a correcta.
E aqui entram os tais vasos comunicantes estreitos mas não vedados.
Nas últimas presidenciais Cavaco Silva teve em Guimarães 38.320 votos.
No dia 5 de Junho PSD(31.331) e CDS(8810) tiveram em conjunto 40.141 votos.
Mais do que os 35.908 do PS.
Ou seja neste município existem consistentemente cerca de 40.000 eleitores dispostos a votarem no PSD e no CDS independentemente da eleição.
Sejamos claros: Não chega para bater os 50.102 votos que o PS teve nas últimas autárquicas em 2009.
Mas podem ser um belo ponto de partida considerando até que dificilmente o PS repetirá esses resultados.
Porque o candidato não é o mesmo, porque o governo é diferente, porque existe hoje uma dinâmica á direita do PS que não existia em 2009.
E um dado final a merecer reflexão.
O PS venceu as legislativas em 38 freguesias e o PSD em 30.
Em Gominhães, salomonicamente, empataram.
Mas somando PSD com CDS a vitória do PS ter-se-ia resumido a 19 freguesias enquanto os dois partidos juntos teriam vencido em 50!
Não tenho nenhuma duvida que uma vitória nas autárquicas de 2013 passa, em Guimarães, por uma coligação entre PSD e CDS.
Com listas conjuntas para aproveitar todos os votos especialmente os das freguesias.
E com um cabeça de lista que desperte entusiasmo, mobilize social-democratas e centristas, recolha o voto de socialistas descontentes e faça descer os números da abstenção.
Eu sei que de um lado e de outro existem pruridos, resistências e desconfiança perante a hipótese de listas conjuntas. Especialmente nas freguesias.
Os partidos e os seus órgãos políticos decidirão, evidentemente, da forma que entenderem melhor.
Na certeza de que ingenuidades nesta matéria serão devidamente apreciadas pelo PS.
E merecerão o agradecimento sincero do Dr. Domingos Bragança.
Salvo raras excepções, aqui no Burgo, se a um especimen da raça canina, colocarem um cachecol do P.S.
ResponderEliminarTodos (grande parte), votam nele!!!
P.S. Sem desprimor, para com o melhor amigo do homem.
GATE 12
sem problemas, cada um pesa ou pesará aquilo que vale em termos eleitorais.
ResponderEliminarCaro Gate 12:
ResponderEliminarTem sido um bocado assim.
Mas não é obrigatório que assim continue a ser.
Caro Daniel:
Como é evidente. E começar uma negociação a partir daí parece-me sensato
Caro Cirilo,
ResponderEliminarNão vejo como é que uma questão política não é, simultaneamente ou em primeiro lugar uma questão sociológica: é de movimentação social que se fala aqui. É sobretudo de um trabalho ''subterrâneo'', inteligente e generoso que aqui se trata.
Como se faz? Com a alma virada para a rua: com a voz dada a quem tem uma palavra escondida (e que precisa de luz para a dar a conhecer). Sobretudo, com a arte de ver além do óbvio para decifrar o obtuso dos tempos que correm.
E mais não digo.
Cara Luisa:
ResponderEliminarE já disseste bastante.
Com a perspicácia que te caracteriza.
Quando me refiro á questão sociológica é apenas no sentido de considerar que as pessoas em Guimarães não nascem de esquerda.Nem de direita.
Apenas votam em função das opções que lhes são propostas.
Sem ignorar que se trata de um concelho que por rzões históricas (têxtil,cutelarias)tem uma forte tradição operária.
Infelizmente, a sua sede de mudança, não passa de "wishfull thinking"!
ResponderEliminarNunca percebi, porque a classe operária, tem de ser de esquerda?
(Principalmente em Portugal, país que não tem (exceptuando radicais e extremistas, de esquerda e direita) cariz ideológico nos partidos habituados a governar, se o tivesse, seria certamente centro-esquerda.)
Marx e a União Soviética, já há muito que pereceram...
GATE 12
Caro Gate 12:
ResponderEliminarO sonho comanda a vida caro Gate 12. Há sonhos realizáveis e outros não. Ver o PSD ganhar a Câmara de Guimarães cabe nos perfeitamente realizáveis.
Quanto á classe operária estou de acordo consigo.
Não são património da esquerda nem de nenhum partido
Oxalá, o seu sonho se materialize.
ResponderEliminarNão seria a primeira vez (no meu tempo de vida), e espero ansiosamente, que não seja a última.
GATE 12
Caro Gate 12:
ResponderEliminarAssim seja.
Estou convicto que se o PSD fizer bem o seu trabalho isso será uma realidade
Mas o psd gmr existe?...
ResponderEliminarTem um ou outro pardalito, que começa a mexer e a dar umas bicadas, mas que é ainda muito pouco, para saltar para o poleiro.
Temos de reconhecer, por muito que nos custe, que não vai ser fácil derrubar a passaráda do ps gmr.
A verdade, é que essa bicharada, acabou por mostrar obra, e serviço, e pelos vistos vai ser para continuar.
Façamos um só partido em gmr...
Caro Lovco por GMR:
ResponderEliminarO PSD de Guimarães existe não tenho qualquer duvida.
Tem é, por várias razões, tido prestações eleitorais/autárquicas bem abaixo das suas possibilidades.
Não caberia num comentário destes explicar as razões.
MAs o não saber admitir os erros, de escolhas e de quem escolhe,estará certamente na base de muito disso.
Creio que agora tem,até porque atravessa uma fase de unidade interna e convergência de esforços,boas possibilidades de construir uma alternativa ganhadora. Veremos o que o futuro lhe reserva.