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segunda-feira, janeiro 24, 2011

Notas Finais (2)

Uma segunda análise aos resultados das presidenciais leva-nos aos partidos políticos.
Não a todos da imagem (incluindo a saudosa AOC e o castelo de Guimarães como seu símbolo) mas aos de representação parlamentar excluindo a mistificação chamada "Os Verdes" por ser, isso mesmo,uma mistificação.
É inquestionável que o PSD foi o grande vencedor da noite.
Porque reelegeu um seu militante, e antigo líder,para a Presidência da República.
Vencendo em todos os distritos do Continente e Ilhas e em 292 dos 308 concelhos numa vitória absolutamente clara e indiscutivel.
Pedro Passos Coelho esteve muito bem na noite das eleições ao não misturar actos eleitorais nem reivindicar vitórias.
Porque toda a gente sabe que o PSD ganhou sem necessidade de se vangloriar.
Vem aí ,agora, o difícil tempo de saber gerir os timings e as expectativas.
Tal como o PSD ganhou o PS perdeu.
De forma estrondosa.
Perdeu ao não ter a coragem de recusar o apoio a Alegre depois da candidatura de 2006 contra Soares e de anos de tropelias contra o governo.
Perdeu ao não ser capaz de encontrar um socialista moderado disponível para o combate.
Perdeu ao envolver, de forma insensata,alguns ministros numa campanha agressiva que vai deixar marcas no relacionamento entre PR e Governo.
Sócrates teve um discurso ao seu nível na noite eleitoral.
Dizendo o contrário do que tinha dito dias antes num registo que de tão habitual já não admira ninguém.
Agora vai ter de remodelar o governo debaixo da pressão da opinião pública, dos resultados eleitorais e da exigência de Cavaco.
Que como comandante supremo das forças armadas não se sentirá obrigado a aturar,entre outros, o actual ministro da defesa.
Um dos mais desbocados da campanha.
As audiências semanais com o PR vão ser cada vez mais difíceis para Sócrates.
O CDS e Paulo Portas são outros dos vencedores da noite.
Porque souberam apoiar no registo certo e Portas teve ainda o mérito adicional de travar algumas tentações presidencialistas á direita.
Que a consumarem-se teriam dado lugar a uma incómoda segunda volta.
O PCP,já se sabe,nunca perde eleições!
Nunca perdeu.
Mas este resultado,aceitável,deixará aos comunistas algum amargo de boca.
Porque sem candidato do BE teria sido possível capitalizar mais votos á esquerda do PS se tivessem apostado num candidato mais carismático e menos ortodoxo.
Jerónimo de Sousa,por exemplo,teria certamente obtido bem melhor resultado.
Ainda assim o PCP estará satisfeito com os 7% obtidos.
Finalmente o BE.
Outro dos grandes derrotados da noite.
Porque ao prescindir de candidato próprio cometeu dois erros monumentais.
Perdeu espaço de afirmação das suas ideias e não permitiu a Alegre uma inflexão ao centro que é onde se ganham eleições.
Muitos socialistas moderados assustaram-se ao ver nos comícios de Alegre personalidades como Louçã, Miguel Portas ou Luís Fazenda.
E votaram noutros candidatos ou abstiveram-se.
A verdade é que a estratégia da esquerda foi um desastre.
Porque sabendo-se que era impossível ganharem á primeira volta deviam ter tentado tudo por uma segunda volta "mata,mata" no melhor estilo de Scolari!
Para isso, e dando como certo que nessa segunda volta todos os votos da esquerda (do PC ao BE)iriam para Alegre,seria fundamental que ele se posicionasse o mais possível no centro esquerda para obter uma votação que impedisse Cavaco de ganhar á Primeira.
Afinal uma reprise do que fez Soares em 1986 com Freitas do Amaral.
Claro que com a colagem do BE a Alegre, e a mistura entre fervorosos defensores do governo e acérrimos críticos, só podia dar no que deu.
Admito como provável que, sem misturar presidenciais com outro tipo de eleições, os resultados de ontem venham a resultar nalgumas movimentações internas no PS e no BE.
Onde os críticos das lideranças e das estratégias seguidas ganharão algum alento.
Depois Falamos

3 comentários:

  1. Caro Sr. Luis Cirilo
    Entendo a sua análise bem ajustada aquilo que se passou em termos de resultados, mas também não se deve dissociar a vergonhosa salgalhada do simplex, vulgo cartão único ou do cidadão.
    É perfeitamente lamentável que um país cujo 1º ministro se vangloriava de ter um avançado sistema de cruzamento de dados informáticos, tenha inibido muitos eleitores de exercer o seu direito de voto.
    Seria erro do sistema ou algo mais, como já foi aflorado em alguns órgãos de comunicação social?
    Um inquérito rigoroso e punição dos responsáveis caso se prove que houve fraude, é exigível como certamente é desejo de todos os que não pactuam com ilegalidades, que costumam ser utilizados por gente sem escrúpulos.
    Cps
    S. Guimarães

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  2. Alguém disse que Soares teve de arranjar uma balança de precisão para decidir o que pesava mais: o ódio a Cavaco, ou o ódio a Alegre.

    Cavaco bem pode pedir a balança emprestada -estamos em época de contenção... Agora tem de decidir se põe a capoeira do PS na 'alheta' por se terem atrevido a falar das poupanças; ou se vai torrar e destruir o Passos, como é esperado.

    Isto vai ser uma novela, tipo mexicano:vilãos terríveis e uma sucessão de successivos sucedimentos sem cessar. :-)

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  3. Caro S. Guimarães:
    Tem toda a razão no que refere.
    Esta muito mal contada história do cartão unico tem de ser apurada até ás ultimas consequências.
    Porque graças ao sucedido milhares de portugueses viram-se privados do seu direito de votarem.
    E isso é gravissimo.
    Por acaso não teve influência no resultado final.
    Mas se tivesse ?
    COmo se resolvia?
    Cara il:
    Os tempos que aí vem vão ser politicamente muito interessantes.
    Para Cavaco sem duvida.
    Mas por razões bem diferentes também para Passos Coelho e Sócrates.
    Acho que por razões bem diferentes ambos vão estar debaixo de rigorosa avaliação presidencial.

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