Num mais ou menos habitual zapping televisivo,pós meia noite,vejo num canal temático uma reportagem que me remete para a leitura de um dos livros que mais me marcou na minha juventude.
Chama-se "2455-Cela da Morte" (capa reproduzida ao lado) e em traços muito gerais narra autobiograficamente a história de um homem,Caryl Chessman,que após uma longa luta contra o sistema judicial americano,viria a ser executado na câmara de gaz.
Embora negando até ao fim os crimes de que era acusado.
Nenhum deles de morte diga-se de passagem.
Executado aos 38 anos,depois de passar 12 anos no corredor da morte,e ver adiada a execução por sete vezes face aos recursos que foi apresentando.
Autor de varios livros sobre a sua experiencia de vida,autodidacta de sucesso,Chessman despertaria a nivel mundial um movimento de simpatia e solidariedade,mesmo a nivel de governos,que de nada valeria face á obstinação da justiça em encontrar, e punir exemplarmente, alguém perante os crimes que vinham aterrorizando Los Angeles no final dos anos cinquenta.
De referir que os crimes de que era acusado,eram crimes de violação e o juri que o condenou era composto por onze mulheres num total de 12 jurados !
Li este livro,ao longo dos anos,várias vezes e posso assegurar que se trata de uma obra de grande interesse e muito bem escrita.
A que aliás fui dar uma espreitadela,mais uma,antes de escrever esta postagem.
E as razoes pelas quais me impressionou ,e me permitiu ao longo dos anos manter uma memória tão viva do seu conteudo , são essencialmente duas.
Por um lado a problemática do erro na administração da justiça,que em sistemas penais em que existe a pena de morte é particularmente relevante.
Por outro a angustia do ser humano perante a morte anunciada.
Se no caso do erro,se aplica bem a velha máxima de mais valer um culpado á solta do que um inocente condenado (já para não falar de executado !!!) na angustia perante a morte fica bem patente a desumanidade de que o homem é capaz.
De facto,12 anos no corredor da morte,para onde vão apenas aqueles que sabem que o seu destino é...morrerem,e 7 adiamentos da execução da sentença constituem por si só,uma pena bem pior que a pena de morte !
Creio que,sem falsos sofismas,o erro e a angustia da morte,seja que tipo de morte fôr(não apenas a fisica) são dois dos medos que assolam qualquer ser humano.
Especialmente quando se trata,como com Caryl Chessman,da angústia de ter de pagar por erros de que não se é culpado e cuja responsabilidade radica em terceiros.
Erro e Angustia: A evitar se possivel
Depois Falamos
Palavras sensatas e justas que dignificam o autor do 'post'. Eu escrevi no mesmo sentido algumas semanas antes no blog "Tempos Interessantes". Trata-se duma questao de civilizaçao.
ResponderEliminarNão conheço a obra, mas sublinho que o medo da morte é comum a 99,99% dos humanos. Faz parte da nossa frágil ontologia.
ResponderEliminarQuanto à pena de morte, duas coisas me fazem rejeitar a sua aplicação: o erro e o facto de não ver qualquer compensação para os valores lesados no facto de se terminar uma vida.
Se o desejo é retributivo, a prisão perpétua será bem mais horrível (já que, no caso da pena de morte, depois da espera angustiante, tudo termina).
O que entendo que se aplica muito menos do que o devia e com excesso de salamaleques para com o detido é a pena de trabalho a favor da comunidade.
Muito bem dito. Assim se vinga a sociedade, mas sem fazer justiça. Sem resultado, porque os cidadaos nao ficam melhor protegidos.
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