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Filhos do Nevoeiro

Não gosto de nevoeiro.
Não gosto de nevoeiro porque faz mal à saúde, não gosto de nevoeiro porque gosto de ver as coisas com claridade, não gosto de nevoeiro porque na estrada é um enorme perigo para a condução face às dificuldades de visibilidade que coloca.
Também não gosto de nevoeiro na sociedade.
Seja na vida política, seja na vida desportiva, seja no mundo associativo, seja onde for.
Gosto de ver os contornos das situações, gosto de olhar para elas e perceber o que significam, gosto da transparência e da clareza dos factos que é a única forma admissível de um relacionamento social e associativo saudável e lúcido.
Por isso não gosto de homens (ou mulheres) saídos do nevoeiro que não se percebe muito bem quem são, de onde vem, qual o percurso que fizeram para merecerem aqui chegar e para onde daqui querem ir acompanhados por quem neles acredite.
A História de Portugal, aliás, ensina-nos que depositar esperanças num homem que era suposto um dia sair do nevoeiro para salvar o país (El Rei D. Sebastião no após Alcácer Quibir) foi um erro tremendo que sujeitou o Portugal a sessenta anos de domínio por uma potência estrangeira pese embora houvesse por cá quem aceitasse essa colonização de bom grado porque satisfazia os seus interesses de vária ordem.
Há sempre quem não se importe de abdicar de valores, princípios e orgulho próprio desde que remunerados por isso ainda que a remuneração não ultrapasse umas migalhas caídas da mesa do poder.
E portanto do nevoeiro não surgem soluções a não ser por um qualquer milagre que raramente acontece .
Ou se acontece é com a mesma frequência com que sai o Euromilhões a quem dele precisa!
No Portugal de hoje, sempre tão atento e crítico ao que se passa lá fora mas sempre tão desatento aos ensinamentos da sua História e tão passivo perante os seus problemas, vem-se dando um fenómeno que considero preocupante a vários níveis e que é a proliferação dos homens saídos do nevoeiro.
Fruto de maiorias conjunturais, resultantes de alianças entre supostas elites e os poderes diversos, sem um passado que os recomende, sem um percurso que os habilite, sem ideias e programas que vão para lá dos lugares comuns são "vendidos" como uns autênticos salvadores da Pátria seja essa Pátria um partido político, uma associação cultural, um clube desportivo ,uma instituição de solidariedade ou qualquer outra organização social.
Aparecem de repente, como por artes mágicas sem que se perceba se vieram por sua vontade ou os foram buscar a casa, arranjam de imediato uns "fiadores" que garantem serem o supra sumo da especialidade, arrastam atrás de si pequenas multidões mais disponíveis para o aplauso fácil do que para a reflexão critica e escrutinadora e eis que temos "líderes" aptos a realizarem os "amanhas que cantam".
E , por vezes, os "amanhãs" até cantam qualquer coisa. O problema está sempre no depois de amanhã e no tempo que se lhe segue.
Onde os homens voltam para o nevoeiro de onde vieram, se constata que os problemas que era suposto resolverem quase de uma penada  não desapareceram, que as instituições que era suposto salvarem se encontram mais perto dos seus "abismos" do que quando os "salvadores" emergiram dos nevoeiros.
Ao tempo , naturalmente, que os seus "fiadores" ,o seu pequeno exército de seguidores acríticos e as alianças conjunturais entre supostas elites e poderes diversos já mergulharam novamente no nevoeiro em busca de novo salvador.
Não gosto mesmo do nevoeiro.
Nem dos seus filhos.
Depois Falamos

quarta-feira, janeiro 29, 2020

Musrati

Confesso que não tinha uma ideia definida sobre este jogador , Al Musrati, do Vitória porque tendo-o visto jogar apenas duas vezes pela equipa B isso não foi o suficiente para formar uma opinião definitiva sobre o seu valor.
Esta época , nos seus primeiros meses, foi aposta regular de Ivo Vieira e quanto mais o via jogar mais gostava das suas exibições não denunciando nelas nem a juventude nem o facto de ter vindo de um escalão inferior.
Alto, bem constituído, forte nos despiques individuais, senhor de boa técnica e visão de jogo, autor de passes de ruptura com regularidade e ainda por cima não sendo um jogador lento como a sua envergadura poderia fazer crer tinha tudo para ganhar o lugar e ser uma referência do futebol vitoriano nos próximos anos.
Depois veio uma lesão que o afastou por algum tempo, regressou mas a sua ultima aparição foi no jogo com o Sporting da Covilhã para a taça da liga e não mais foi utilizado.
Sabendo-se por essa altura que havia problemas na renovação do contrato que expira no final desta época (como é possível promover um jogador à equipa A e utiliza-lo em 15 jogos, sete dos quais na Liga Europa, sem ter isso acautelado?) não se sabendo, contudo, se o problema estava no jogador ou no empresário
Um daqueles mistérios em que o Vitória é pródigo há muitos anos.
Hoje soube-se que foi emprestado ao Rio Ave, até final da época ( e do contrato...), um clube que "permitimos" que seja nosso rival na luta por um lugar europeu tendo até mais dois pontos que o Vitória neste início de segunda volta em que até veio ganhar a Guimarães.
Não se entende.
Que não se tenha renovado o contrato atempadamente ou que não sendo tal possível, não depende só do Vitória, não se tenha tratado de um empréstimo, sim, mas para o estrangeiro ou para uma equipa portuguesa que não disputasse connosco o lugar europeu.
Assim, salvo algum negócio que não se conhece e de que o Vitória venha a beneficiar , continuamos a ir por mau caminho.
E uma vez entrado na "engrenagem" Jorge Mendes, de que o Rio Ave é uma das principais peças em Portugal, prefiro nem fazer suposições sobre onde jogará na próxima época.
Depois Falamos.

A Seu Tempo

Quando converso com pessoas amigas, ligadas ou não ao universo político (embora a maioria esteja) , vou fazendo um retrato da forma como os portugueses avaliam o desempenho do cargo pelo actual Presidente da República e como se posicionarão nas eleições presidenciais de Janeiro do próximo ano a que Marcelo será recandidato.
Aquelas que não estão no mundo político, que o acompanham pela rama e que a ele não devotam tempo para verem programas políticos na televisão ou lerem na imprensa sobre essa área, essas estão maioritariamente inclinados a votarem Marcelo em 2021 incluindo muitos que nele não votaram em 2016.
Gostam do modo informal como desempenha o cargo, dos banhos de multidão, das filas para as selfies, da sensação que transmite de ser um cidadão como os outros, dos mergulhos no mar com as televisões atrás, da solidariedade com os mais desfavorecidos,da paz com o governo, etc, etc.
Os mais ligados à política, do Chega à CDU (refiro apenas pessoas amigas de vários partidos mas não de todos porque há partidos, como o Livre ou a Iniciativa Liberal em que não tenho conhecidos quanto mais amigos)  transmitem um mosaico muito diverso.
Há os que não votaram em Marcelo em 2016 nem votarão em 2021. Ponto final parágrafo.
Há os que não votaram nele em 2016 mas admitem votar agora e alguns tem até a certeza que o farão.
Há os que votaram nele em 2016 e voltarão a votar em 2021.
E há os que nele votaram em 2016 e agora afirmam que não o voltarão a fazer 
Como está bom de ver os primeiros são os mais à esquerda, nos segundo caso  estão pessoas ligadas essencialmente ao PS , no terceiro pessoas do PSD, algumas do PS e também do CDS e no quarto caso pessoas que vão do PSD ao Chega.
Diria que no meu painel de amigos, o tal entre Chega e CDU, a maioria situa-se no quarto caso, ou seja, aqueles que votaram Marcelo mas asseguram que não o voltarão a fazer.
Porque não gostaram da colagem constante ao governo, porque não apreciam a banalização do cargo a que Marcelo se entrega desde o primeiro dia, porque entendem que um PR deve guardar algum recato e não aparecer diariamente na televisão, porque entendem que o populismo de Marcelo retira autoridade à função de Presidente da República.
Entre outras razões que seria fastidioso estar a enumerar.
E nessas conversas quando lhes pergunto a opinião naturalmente que também sou questionado sobre a minha enquanto eleitor de Marcelo em 2016.
A resposta é simples.
Posicionando-me entre o terceiro e o quarto cenário, ou seja não fechando a porta a voltar a votar em Marcelo não tenho a certeza se o farei, digo sempre que a seu tempo decidirei qual a minha opção nas presidenciais.
Este ainda não é o tempo mais que não seja porque o quadro de candidatos ainda não está definido e porque o meu próprio partido ainda não decidiu o que fará.
Precisamente porque ainda não é o tempo embora esse tempo esteja a chegar.
Mas sei que se em 2016 votei em Marcelo por causa do próprio Marcelo em 2021 se votar Marcelo será por causa dos outros candidatos.
É uma "pequena diferença" mas que faz toda a diferença.
Depois Falamos.

Talento

Nos meus tempos de juventude nunca fui grande fan do basquetebol.
Futebol e andebol eram as "minhas " modalidades e aquelas que praticava assiduamente no caso do futebol apenas entre amigos e no do andebol como atleta federado durante alguns (poucos) anos ao serviço do Desportivo Francisco de Holanda agora Xico Andebol.
"Acordei" para o basquetebol muito mais tarde, também por influência do meu filho mais velho grande apreciador da modalidade e telespectador pela noite dentro da NBA, mas ainda a tempo de ver grande jogos da referida NBA e também do inesquecível "Dream Team" americano dos Jogos Olímpicos de Barcelona de 1992.
Já não vi Kareem Abdul Jabar, para muitos o melhor de sempre até ao advento de Michael Jordan, mas vi grandes lendas do basquetebol americano e mundial como o referido Jordan (sim, o melhor de todos os tempos) e a sua geração de grandes estrelas como Magic Johnson, Larry Bird, Dennis Rodman, Charles Barkley, Karl Malone e os novatos (nesse tempo) Shaquille O Neal, Lebron James, Hakeen Olajuwon, Gary Payton , Kobe Bryant e outros que apareciam para suceder a essa geração do "Dream Team".
Durante anos fui telespectador entusiasmado da NBA e das duas equipas de que me fui tornando adepto -Chicago Bulls e Orlando Magic- num caso por causa de Michael Jordan (e de Scottie Pipen) e da segunda por outras razões para aqui irrelevantes.
Com a retirada de Jordan e da sua geração foi precisamente por causa (essencialmente) de Kobe Bryant que fui vendo, embora menos, os jogos da NBA porque ele era o único (com a devida licença de Lebron James) que jogava ao nível dos grandes jogadores do Dream Team de 1992.
Embora ver a NBA sem Jordan era um bocadinho como ver a F1 sem Ayrton Senna.
Hoje raramente vejo um jogo da NBA.
Dela guardo a memória dos melhores jogadores que vi na modalidade, dos grande jogos, dos grandes duelos individuais, da rivalidade entre Bulls , Lakers e Celtics. 
E a certeza que Michael Jordan foi o maior talento de sempre, Kobe Bryant o seu "delfim" e provavelmente Kareem Abdul Jabbar o terceiro do maior trio da história .
Depois Falamos

P.S. A minha "conversão" ao basquetebol também teve, numa fase mais adiantada, um precioso contributo do Vitória treinado por Fernando Sá. Mas esses são contos para outra ocasião.

Horas

A história que a seguir vou contar tem quase oito anos, o falar dela agora não é uma critica a ninguém e admito que passado este período de tempo os regulamentos e contratos tenham mudado e já não seja possível fazer hoje o que foi feito nessa altura.
Dito isto, porque há sempre almas sensíveis que veem criticas em tudo, passo a narrar o sucedido.
Na sexta feira 28 de Setembro de 2012, quinta jornada da Liga, calhava ao Vitória receber no D.Afonso Henriques o Sporting de Braga para mais uma edição do mais antigo dérbi do país que sempre despertou e desperta enorme interesse entre os adeptos dos dois clubes e não só.
Ao tempo desempenhava o cargo de vice presidente para o futebol e modalidades e foi nessa qualidade que, dias antes, me foi dado conhecimento do habitual fax chegado da sport-tv indicando a hora do jogo porque o dia já se sabia com alguma antecedência.
Qual não foi o meu espanto quando constatei que a sport-tv agendara um Vitória -Braga para as 18.00h da tarde de um normal dia de trabalho. Inacreditável.
Dei imediatamente instruções para que se comunicasse à Sport-tv que o Vitória não aceitava em circunstância alguma aquela hora e que só estaria disponível para um horário a partir das 20.30 h. por respeito aos adeptos que vão aos estádios.
Em simultâneo, e sabendo a "festa" que aí vinha, reuni com o Dr. João Martins (ao tempo assessor jurídico da direcção e pessoa que já tinha ocupado vários cargos no clube e na Liga e portanto com grande experiência destes assuntos) para prepararmos o contra ataque do Vitória ao que sport-tv pretenderia impor.
Foi um dia de intensa troca de faxes entre clube e sport-tv com conhecimento á Liga que tanto quanto me lembro nem tugiu nem mugiu.
A sport-tv começou por de forma arrogante reafirmar que a hora do jogo era aquela e que não fariam qualquer mudança porque já tinham outras transmissões agendadas.
Ao que o Vitória reiterou que aquela hora nem pensar.
A seguir argumentaram que a transmissão se iniciaria às 18.00h e que as três equipas a essa hora teriam de estar no relvado ao que o Vitória respondeu que a equipa a essa hora nem no estádio estaria quanto mais no relvado e que também não haveria espectadores nas bancadas porque as portas nem abertas estariam.
Argumento final da sport-tv, misturado com ameaças de processos judiciais e já nem me lembro de que mais, é que contratualmente competia à estação a marcação do jogo e que o Vitória teria de respeitar sob pena de poder acarretar com as consequências.
Foi então que o João Martins, que já tinha lido minuciosamente o referido contrato, constatou que dele constava pertencer à sport-tv o direito de escolher o dia do jogo mas era completamente omisso quanto á hora e por isso não tinha o direito de a impor.
Foi o argumento final do Vitória que virou a questão a nosso favor.
E por isso quando passado algum tempo recebemos novo fax da sport-tv a alterar o jogo para as 21.30h ( para não aceitarem as 20.30 h propostas pelo Vitória marcaram para uma hora já algo imprópria como forma de não darem o braço a torcer de forma total) ficamos com a tranquila satisfação de vermos que a razão do Vitória tinha falado mais alto.
Foi há quase oito anos.
Provavelmente hoje já não seria possível fazer isso porque a sport-tv deve ter aprendido com a para eles desagradável experiência.
Mas é apenas um exemplo de quando temos razão devemos lutar por ela com todas a armas ao nosso alcance e não encolhermos-nos numa qualquer trincheira como medo de desafiar os poderes do futebol.
Depois Falamos.

segunda-feira, janeiro 27, 2020

Infelicidade.

Também não sou especialista em arbitragem mas há coisas tão óbvias que é possível arriscar uma opinião sem correr o risco de cometer um grande erro e por isso não tenho problema em dizer que no dia feliz para o futebol em que Carlos Xistra, Soares Dias, Nuno Almeida ou Jorge Sousa abandonem a arbitragem não terão neste Hélder Malheiro um sucessor como "padre" de primeira categoria por lhe faltar manifestamente jeito para a arte do apito.
E até para ser "padre" é preciso algum jeito porque há "missas" que são difíceis de "cantar".
E nem errou no lance mais polémico do jogo porque há , de facto, fora de jogo de Tapsoba mas errou ao demorar oito minutos a deslindar o caso (com pesadas responsabilidades para o VAR também), errou no tempo de compensação e errou em demasiados lances para se lhe poder vaticinar sucesso na carreira.
Quanto ao jogo em si há que dizer que o resultado é muito enganador porque o Rio Ave fez dois golos em dois lances de contra ataque bem gizados, aproveitando também a perturbação na equipa vitoriana por causa do tal lance polémico que demorou oito minutos a deslindar, que terão sido em todo o jogo os únicos remates dignos desse nome porque Douglas teve uma noite absolutamente tranquila em especial na segunda parte em que pouco ou nada teve para fazer.
O Vitória fez uma primeira parte algo discreta  , demonstrando dificuldade em jogar ao primeiro toque e em ser mais rápido nas transições ofensivas, mas ainda assim criou algumas oportunidades que o guarda redes forasteiro e a falta de pontaria dos jogadores vitorianos impediram que se transformassem em golos.
As duas substituições ao intervalo melhoraram a equipa (Evangelista foi bem substituído mas André André nem tanto) e o Vitória fez uma boa segunda parte com João Pedro em ponta e Bonatini nas suas costas (o brasileiro fez um bom jogo com três remates perigosos e várias assistências) e os laterais a actuarem como autênticos extremos criando uma série sucessiva de lances perigosos que só por muito azar não deram em golo.
Uma derrota injusta da melhor equipa que dominou por completo o adversário (só pontapés de canto foram catorze o que demonstra bem a pressão vitoriana) mas a quem faltou algum discernimento no último terço de terreno e alguma pontaria na hora de finalizar que ditaram o desfecho do jogo.
Hoje não começamos a segunda volta da melhor forma mas num rápido relance sobre a primeira volta constatamos que nela o Vitória obteve seis triunfos, sete empates e quatro derrotas com o detalhe, a merecer atenção, de as seis vitórias terem sido obtidas contra seis dos últimos oito classificados (as excepções são Marítimo e Moreirense) o que significa que às equipas da primeira metade da tabela não ganhamos um jogo que fosse.
Creio que a quatro dias do fim do mercado ainda será possível fazer mais qualquer coisa( por exemplo Hugo Vieira) para dotar a equipa de argumentos que lhe permitam enfrentar a segunda volta com mais qualidade porque com o que temos começa a parecer-me  difícil pensar num apuramento europeu.
Depois Falamos.

domingo, janeiro 26, 2020

Gozo

Liga e Sport-Tv continuam apostadas em gozar com o Vitória, em gozar com os vitorianos, em desrespeitar uma instituição com quase cem anos de História e das poucas que leva espectadores em número significativo aos estádios onde joga.
Depois da pouca vergonha que as duas entidades construiram em torna da "final four" da taça da liga, que foi das peças publicitárias de promoção do evento em que o Vitória foi ignorado ou trajado de equipamento alternativo à forma discriminatória como os seus adeptos foram tratados não lhes sendo permitidas as coreografias que a outros foram autorizadas, com o regresso do campeonato não perderam tempo em arquitectarem mais uma das suas.
Um Vitória vs Rio Ave, duas equipas que até estão na luta pela Europa (nem que não estivessem), jogarem num dia de trabalho às 18.45h é mesmo para impedir os adeptos de marcarem presença no estádio porque colide completamente com os horários laborais da esmagadora maioria das pessoas.
Dos vitorianos e dos vila condenses que quisessem vir a Guimarães ver o jogo ao vivo.
Percebe-se a lógica da sport-tv, que quer é espectadores no sofá para lhe aumentar o "share" e consequentes repercussões publicitárias, mas não se percebe que a LPFP não defenda o futebol e dentro do futebol o quarto clube português que mais espectadores leva ao seu estádio e fora dele.
Sabendo-se que às 21.00 h se joga um Sporting-Marítimo conclui-se que mais uma vez a sport-tv alinhou na defesa de um dos seus protegidos e não querendo jogos à mesma hora (porquê???) atirou para o pior horário o Vitória.
Não se percebe, e aí a LPFP também tem pesadas responsabilidades, é porque razão o Sporting não jogou no domingo dado que o seu jogo na "final four" foi na terça feira enquanto que o do Vitória foi na quarta feira e assim os "leões" ainda tiveram mais um dia de descanso do que o Vitória.
Mais um dia de descanso e ainda jogam mais tarde!
LPFP e Sport-tv irmanadas na vontade de acentuarem os desiquilibrios no futebol português.
Lamentável.
Depois Falamos.

Vida Nova

O CDS realizou o seu congresso, arrumou a casa e fê-lo de uma forma que a maioria dos analistas não previa, ou seja, elegendo como líder Francisco Rodrigues dos Santos e não João Almeida que de forma geral era considerado como o favorito.
Não que surpresas destas não sejam habituais no CDS.
Com pouco esforço de memória será fácil recordar os triunfos de Lucas Pires sobre Luís Barbosa, de Paulo Portas sobre Maria José Nogueira Pinto ou de José Ribeiro e Castro sobre Temo Correia para constatar que muitas das vezes quem entra no congresso como vencedor antecipado  acaba por de lá sair vencido pela decisão dos congressistas.
Este fim de semana assim foi uma vez mais.
Com o partido a optar por uma arriscada ruptura geracional (atendendo até ao seu eleitorado tipo) e a eleger um jovem de 31 anos, completamente desconhecido no país e relativamente pouco conhecido no mundo político, como líder de um partido que ainda "lambe" as profundas feridas do resultado das legislativas.
E talvez tenha estado aí a razão profunda da opção porque para muitos a candidatura de João Almeida representava não só a direcção que tinha sofrido essa hecatombe eleitoral como também uma página, a de Paulo Portas, que muitos sentiam ser necessário virar.
E viraram.
Porque com João Almeida também perderam Nuno Melo, António Pires de Lima (cujo desastrado discurso também terá contribuído para o resultado do congresso), Nuno Magalhães, Pedro Mota Soares, Telmo Correia,  Adolfo Mesquita Nunes, Cecília Meireles, Hélder Amaral, Francisco Mendes da Silva e mais alguns dirigentes que foram as figuras de referência dos tempos de Paulo Portas.
Não se podendo falar de uma renovação total, porque muitos dos novos dirigentes já tinham ocupado funções na direcção de José Ribeiro e Castro e até nas de Paulo Portas, é ainda assim uma mudança profunda que retira da primeira linha do combate político quase todas as suas figuras mais conhecidas.
O que trará à nova direcção problemas de afirmação, pelo menos durante algum tempo, dado que até o grupo parlamentar é todo ele afecto à candidatura derrotada de João Almeida.
Há pois um "novo" CDS.
Mais encostado à direita, mais marialva, com pouquíssimas mulheres nos orgãos (os sete vice presidentes são todos homens e nos dezassete membros da comissão executiva há apenas duas mulheres) , mais radical contra o aborto, a eutanásia, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, preocupado com assuntos tão "relevantes" como a tauromaquia, a caça e a pesca!
Um CDS que terá como prioridade, não anunciada mas fácil de descortinar,  disputar votos ao Chega de André Ventura deixando de vez um centrismo que em boa rigor já só existia no nome do partido e assumindo clara vocação de direita.
É interessante.
Porque se o Congresso do CDS encostou o partido á direita as directas do PSD, com a vitória de Rui Rio, encostaram o do PSD à  esquerda o que significa que repentinamente ao centro se abriu um espaço significativo para forças políticas liberais que defendam a pessoa como o centro de todas as decisões políticas, que assumam a aposta num liberalismo que estimule a economia e aposte na iniciativa privada como o motor do crescimento económico e que assumam que valores como o da solidariedade da comunidade para com as pessoas e da justiça social tenham de ser estruturantes da sociedade em que queremos viver.
Em casa, sentados no sofá a assistirem pela televisão às decisões no PSD e no CDS, a Iniciativa Liberal e a Aliança viram abrir-se à sua frente uma enorme avenida de oportunidades políticas que não poderão desaproveitar.
Terão agora que se levantarem do sofá, terminados os "espectáculos" alheios, e continuarem a fazer o seu caminho.
Depois Falamos.

Segunda Volta

Começa este fim de semana a segunda volta de um campeonato que já tem campeão definido (provavelmente já o estava antes de o campeonato começar...) e cujo relativo interesse se cingirá a quem vai acompanhar esse campeão anunciado na liga dos campeões (esta semana se alguma dúvida houvesse também ela foi desfeita...), quem irá à liga Europa e quem descerá de divisão.
Depois da falta de vergonha a que assistimos na taça da liga, com o Vitória arredado da final por um árbitro e um VAR que levaram o adversário ao colo até um triunfo absolutamente mentiroso é não só impossível acreditar na seriedade das competições de futebol em Portugal como também não ver o poder que nele exercem as duas equipas que disputam (???) entre si o título nacional.
Com o campeão anunciado numa sequência de vitórias que não tem comparação nem com o tempo em que liderados por Eusébio tinham de facto melhor equipa que qualquer um dos outros, nas quais se incluem três triunfos consecutivos graças aos árbitros e ao VAR, e com o outro candidato a não conseguir idênticos "feitos" por culpa própria e por menor poder nos bastidores que contudo lhe foi ainda suficiente para o tal apuramento mentiroso para  a final da taça da liga, o que resta aos outros clubes?
Restava terem uma atitude de dignidade, de defesa honrada dos seus emblemas, de darem um grito de revolta contra a pouca vergonha em que o futebol português se tornou, perante a complacência de um Estado cobarde e fraco com os fortes, e se recusarem de imediato a disputarem qualquer competição com esses dois clubes enquanto não fossem dadas garantias de seriedade e de verdade desportiva.
Mas não o fazem e creio que nunca o farão.
Porque em presidentes e dirigentes de muitos desses clubes (a maioria esmagadora suponho)por baixo da camisola do seu clube está vestida uma camisola vermelha, uma camisola azul com listas brancas ou uma camisola com riscas verdes e brancas (embora nesse caso me pareça um pura perda de tempo porque esse clube até dele próprio tem dificuldade em tomar conta que fará dos outros...) e esses clubes de devoção parola dos dirigentes dos outros lá os vão mantendo quietos com empréstimos de jogadores, com anedóticas transferências com valores de recompra baixíssimos (é a forma de contornarem o limite de empréstimos), e com outras coisas como a promessa de lhes contratarem jogadores em condições muito "interessantes" a vários níveis.
E por isso o nosso futebol é uma porcaria.
Não pelos jogadores, não pelos treinadores, não pela generalidade dos estádios, nem pelos adeptos que apoiam os seus clubes e não as vitórias de outros clubes longe das suas terras, mas porque tem um dirigismo desportivo absolutamente incapaz de construir competições sérias e de fazer do futebol uma industria com regras que mereçam o reconhecimento e o respeito de todos.
Este fim de semana começa a segunda volta de uma farsa.
Com campeão anunciado, com vice campeão definido, com dezasseis outros clubes que não conseguem ter vergonha da triste figura que andam a fazer com a submissão, a subserviência, a vassalagem aqueles que uma vezes por distracção e outros por condescendência de vez em quando lá deixam um ou outro dos restantes apanhar umas migalhas caídas da mesa onde a dois se banqueteiam lautamente há muitos anos a esta parte.
Por mim continuarei a ir ao D. Afonso Henriques e a um ou outro estádio onde o Vitória jogue.
Mas já o faço apenas por pura devoção ao meu clube e sempre de pé atrás com aquilo que vou ver em termos de verdade desportiva.
Porque se fosse apenas pela razão há anos que não perdia um minuto da minha vida a ver jogos de futebol em Portugal.
Depois Falamos.

sexta-feira, janeiro 24, 2020

Quem?

O CDS decide este fim de semana a questão em aberto da sua liderança e escolhe a personalidade que vai suceder a Assunção Cristas na liderança do partido num altura em que este se vê mergulhado numa crise política que arrastou a inevitável crise financeira.
Com um péssimo resultado na legislativas, que dizimou numericamente o grupo parlamentar com consequente significativa quebra na subvenção estatal, o partido regressou de forma brutal a tempos que já não supunha possíveis e volta a ter um grupo parlamentar que cabe num táxi desde que um dos deputados faça de condutor.
Num tempo em que no PSD também não há nenhuma razão para com resultados eleitorais, e pese embora o aparecimento do Chega e da Iniciativa Liberal (dois deputados no total) , a verdade é que o CDS não só não capitalizou com o mau resultado dos social democratas como ainda se "descapitalizou" s si próprio ajudando a construir o retrato de uma área não socialista em crise política profunda.
Depois de lideranças de sucesso como as de Freitas do Amaral (a  primeira) e de Paulo Portas (as duas), de relativo sucesso como a de Lucas Pires e a de Manuel Monteiro e de completo insucesso como as de Adriano Moreira, José Ribeiro e Castro e Assunção Cristas o partido vai agora escolher o seu oitavo líder entre os cinco candidatos que se apresentam ao Congresso.
João Almeida, Filipe Lobo de Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos, Abel Matos Santos e Carlos Meira são eles os candidatos e será um deles o novo líder.
Os dois primeiros tiveram já passagem pelo governo de Pedro Passos Coelho, o terceiro é o líder da Juventude Popular e os restantes dois já passaram por estruturas do partido a nível concelhio ,distrital e nacional.
João Almeida será o mais conhecido dos cinco, também por força de ter sido presidente do Belenenses durante algum tempo, mas de forma geral não se pode dizer que sejam senhores de um mediatismo razoavelmente grande.
E por isso mais do que saber quem será o próximo líder a grande questão para o CDS (entre outras menores mas também importantes como a financeira) será o tempo que a generalidade dos portugueses vai levar a  deixar de responder com um " quem ?" quando lhe falarem da nova liderança do partido.
É certo que este ano, sem eleições, e o próximo com as autárquicas em Outubro será um espaço de tempo propício à consolidação de uma liderança e a tornar o novo líder uma figura minimamente mediática.
Mas que o CDS, e o novo líder, terão um duro trabalho pela frente creio que isso ninguém põe em dúvida.
Depois Falamos.

Marcelo ano 4

Marcelo Rebelo de Sousa completa hoje quatro anos sob a sua eleição como Presidente da República no corolário de uma campanha diferente do habitual (sem outdoors por exemplo) e em que foi eleito à primeira volta com 52% dos votos.
Sucedendo a um presidente-Aníbal Cavaco Silva- de perfil completamente diferente e com um entendimento da função presidencial que nada a ter a ver com a do actual detentor do cargo, Marcelo imprimiu desde o primeiro dia um estilo ora popular, ora populista, com presença diária na comunicação social falando acerca de tudo (e bastas vezes acerca de ...nada)e entrando pela casa dos telespectadores com a regularidade de um apresentador de telejornal, de um metereologista a dar o tempo para o dia seguinte ou do gordinho do "Preço Certo".
A par de ter tornado extremamente populares as selfies com o Presidente embora a troco de uma banalização inaceitável da função, e da autoridade, presidencial.
Passaram quatro anos.
Em que a esquerda se regozijou continuamente com a sorte que teve com este presidente de direita e a direita continua a não aceitar a proximidade do "seu" presidente de direita ao governo de esquerda acusando-o de ser um ajudante de campo de António Costa.
Indiferente ao regozijo de uns e ao enfado de outros o povo dá-lhe uma taxa de aprovação estratosférica que a um ano das eleições presidenciais aponta para uma reeleição fácil e por números esmagadores apareça quem aparecer a tentar fazer-lhe frente.
A seu tempo se verá se assim vai ser.
Para já esta forma de exercer o mandato à base de beijos e abraços, de selfies e bullying comunicacional, de obrigar a esquerda a elogiá-lo (Deus sabe a sinceridade...) e a direita a um sorriso amarelo para não perder o comboio tem sido de imenso agrado popular fazendo do presidente quase um Rei eleito acima das querelas políticas.
Eventualmente o segundo mandato já não será bem assim e pode ser ( pode...mas não há garantias) que a esquerda sorria menos e a direita reencontre finalmente o "seu" presidente perdido no dia da eleição.
Seja como for este mandato e esta forma de exercer a presidência confirmam a convicção de muitos , entre os quais me incluo, de que em futura revisão constitucional se altere a lei e os presidentes possam exercer apenas um mandato de sete anos.
Em nome do equilíbrio do mandato e do prestigio da função.
Depois Falamos

Cartoon

Na minha humilde opinião, que uma amizade de mais de quarenta anos não influencia, o Miguel Salazar desenha o Vitória e o próprio desporto português com uma qualidade e um humor inigualáveis e que fazem dele um dos grandes cartoonistas portugueses da sua geração.
Neste cartoon recente retrata um conhecido adepto do Futebol Clube do Porto, que regularmente se disfarça de árbitro de futebol , com as suas queridas vestes de dragão que ele não despe nunca.
Especialmente quando trabalha com o disfarce referido por cim delas.
Depois Falamos.

Sugestão de Leitura

 
Durante os muitos anos em que à Fórmula Um dediquei muito mais tempo do que dedico hoje, e que é quase nenhum, para lá da admiração pela Ferrari independentemente de quem conduza os carros tive apenas dois ídolos.
Jackie Stewart e Ayrton Senna.
Houve outros pilotos que admirei e que me faziam ver corridas como foram os os casos de Jody Schekter, James Hunt, Michael Schumacher mas ídolos foram mesmo o escocês e o brasileiro que me prenderam muitas tarde de domingo ao televisor.
Este livro de Richard Williams, prestigiado jornalista desportivo britânico, é considerado a melhor biografia de Ayrton Senna da Silva e traça todo o seu percurso desde o início da sua vida competitiva na sua S.Paulo natal no karting até à fatídica curva de Tamburello, em Imola, onde tudo terminou.
Por ele, livro , passam as suas grandes vitórias, os seus amigos e adversários (lugar especial para Alan Prost) as marcas pelas quais pilotou desde a Toleman à Williams passando pela Lotus e McLaren, o seu estilo único de pilotagem, a obsessão pela perfeição, o desejo de ser sempre e m todas as circunstâncias o mais rápido e o melhor.
Um livro que se lê, especialmente se se gostar de F1, com imenso interesse.
Porque fala de um predestinado que morreu há quase vinte e seis anos e continua ainda hoje a ser uma figura primeira da disciplina rainha do automobilismo.
Precisamente porque foi, em minha opinião, o melhor de todos os tempos.
Depois Falamos

quarta-feira, janeiro 22, 2020

Podridão

Que o futebol português não é nada sério já se sabia.
Mas o quão pouco sério é, o quão há clubes favorecidos pelo "sistema", o quão mentirosas são as actuações de árbitros e dessa perversão chamada VAR que em Portugal apenas serve para ajudar a falsear resultados a favor daqueles que já isso beneficiavam de outras formas, é preciso de vez em quando assistirmos a jogos como o de hoje entre o Vitória Sport Clube e um combinado de VAR/equipa de arbitragem/VAR para aferirmos bem até onde vai a podridão
Sem perder mais tempo é preciso que se diga que a equipa de arbitragem e o VAR tiveram pelo menos quatro erros gravíssimos todos eles em prejuízo do Vitória que adulteraram por completo a história e o resultado do jogo.
Primeiro erro clarissimo o penalti do guarda redes do Porto sobre Davidson num lance em que não há fora de jogo porque a bola é pontapeada por um jogador do Porto e ressalta na canela de Edwards.
Penalti por marcar e cartão vermelho por mostrar. Na primeira parte.
Segundo erro, ainda na primeira parte, penalti claro sobre Edwards por toque na sua perna esquerda pelo joelho de um jogador do Porto.
Em ambos os lances o VAR não tugiu nem mugiu. 
Terceiro erro gravíssimo no primeiro golo do Porto quando Soares em fora de jogo posicional não só estorva a visão a Douglas como se desvia para a bola passar. Fora de jogo que o árbitro, o fiscal de linha e o VAR fizeram de conta que não viram. Mas viram!
Quarto erro o golo anulado a João Pedro a poucos segundos do fim. Frango do guarda redes, golo sancionado pelo árbitro, ausência de protestos de jogadores e banco do Porto e inopinadamente intervém o VAR para impedir uma possível final sem nenhum dos chamados"grandes".
Não há falta nenhuma porque havendo contacto entre os dois jogadores (e o futebol não é o voleibol é um desporto de contacto) ele é fora da área de protecção do guarda redes que nem a bola nas mão tem.
Simplesmente o "sistema" que vive desta podridão de resultados falseados sempre a favor dos mesmos não queria uma final Vitória-Sporting de Braga e por isso impediu que isso fosse possível através do desempate por penaltis.
Naquele estádio já tínhamos guardado, nós vitorianos, para a triste história do nosso futebol o nome de Artur Soares Dias.
A partir de hoje podemos juntar-lhe o de Jorge Sousa e o de Hugo Miguel (esse tarefeiro dos "grandes" que estava no VAR) que espoliaram o Vitória da possibilidade de estar numa final que bem fez por merecer enquanto o deixaram jogar futebol 
Sobre o jogo apenas vale a pena dizer que as equipas o disputaram de igual para igual, melhor primeira parte do Porto e melhor segunda parte do Vitória, mas as regras e o resultado estiveram falseados ao longo dos noventa minutos e foi isso que decidiu o finalista.
Depois Falamos.

Ratos

Não sou daqueles que tem fobia de ratos ,embora seja animal que não aprecio particularmente com as excepções compreensíveis do Mickey, da Minnie e do Speedy Gonzalez (mas esses são de outros "filmes"), mas reconheço-lhes um inato instinto de sobrevivência o que leva a que sejam uma espécie bem sucedida com abundante presença nos cinco continentes.
Nesse espírito de sobrevivência destaca-se a inata capacidade de pressentirem desastres naturais e porem-se atempadamente ao "fresco" nomeadamente quando a bordo de barcos  em risco de se afundarem os leva a serem os primeiros a abandona-los e com essa atitude de precaução ,que muitos acham cobardia, contribuírem para o mau nome da espécie .
Sim, porque estando num barco e dispondo de todas as suas regalias, nomeadamente comendo o que querem e lhes apetece nas quantidades que acham adequadas, fica mal aos olhos de alguns que quando o barco deixa de oferecer garantias de lhes poder manter a boa vida se ponham a mexer o mais rapidamente possível.
Mas se entendo nos ratos de quatro patas esse instinto de sobrevivência já em "ratos" de duas pernas tenho muita dificuldade em o aceitar.
Desde logo porque sendo animais racionais, ao contrário dos congéneres de quatro patas, sabem muito bem em que barcos embarcam, o que lá comem, de onde vem as regalias que usufruíam e não é o atirarem-se para fora do barco em desespero de causa que os inocenta de nele terem viajado enquanto foi seguro e não ameaçou naufrágio.
Refiro-me, como já terão percebido, ao triste espectáculo que alguns "ratos" de duas pernas estão a dar no caso Isabel dos Santos.
TODA (as maiúsculas são propositadas) a gente sabia, há mais de dez anos, que a colossal fortuna de Isabel dos Santos não era explicável apenas por trabalho e negócios bem sucedidos mas sim porque a família de José Eduardo dos Santos em mais de trinta anos de poder assaltara o país que devia ter governado.
A família e os amigos da família (basta ver as colossais fortunas de alguns generais do MPLA) muitos dos quais, a começar por João Lourenço, continuam no poder em Angola embora agora queiram fazer de conta que não tiveram nada a ver com o que se passou.
Mas tiveram.
E se José Eduardo dos Santos escolheu  João Lourenço para lhe suceder não foi seguramente por o considerar um adversário e muito menos um inimigo.
TODA a gente sabia mas TODA a gente fechou os olhos enquanto o pai da senhora foi Presidente e TODA a gente continuaria de olhos fechados não fora agora o actual poder angolano querer libertar-se definitivamente da família "dos Santos" e despoletar este caso.
E no TODA a gente inclui-se o actual governo português (que com ela entabulou estranhas e nunca explicadas negociações em volta de bancos privados), o Banco de Portugal, a administração do EuroBic, as administrações das múltiplas grandes empresas que com Isabel dos Santos negociaram, as empresas de consultoria que para ela trabalharam, o Fórum de Davos e mais uma plêiade de gente que gravitou em volta dela dos seus negócios e que agora a negam três vezes como S. Pedro fez a Jesus Cristo quando se viu cercado pelos romanos.
Não tenho nenhuma duvida que Isabel dos Santos é responsável por um conjunto de crimes que lesaram Angola e que deve ser punida por eles bem como pai, outros familiares e ex amigos do pai alguns dos quais, repito, se mantém no poder em Angola.
Mas não deixo de considerar repugnante este triste "espectáculo" de "ratos " de duas pernas a abandonarem um barco que supõe em risco de naufrágio (se vai naufragar ou não é outra questão) , alguns deles ainda lambuzados do muito que "comeram", como se nada tivessem a ver com uma situação da qual desfrutaram largamente e sem que nenhum, até ao momento, se mostre disponível para abdicar do que recebeu , pelos vistos (descobriram agora), fruto de ilegalidades e crimes vários!
São duas personagens pelas quais não tenho qualquer simpatia, as de Isabel dos Santos e Ricardo Salgado, mas seria giro se ambos contassem tudo que sabem sobre os múltiplos negócios em que intervieram nos últimos anos neste país à beira mar plantado.
Desconfio é que não haveria  juízes suficientes para todos os processos judiciais nem cadeias com vagas para todos os que nelas ganhassem direito a uma estadia...
Depois Falamos.

P.S. O que está a fazer mesmo falta a Portugal é um "Lisboa Leaks". 
Mas quem sabe se um dia ele não acontecerá.
Assuntos não faltam de certeza absoluta.

Catar 2020

O meu artigo desta semana no zerozero.

Já não é a primeira vez que nestes artigos se refere o perigo para o futebol constituído pelos contentores de dinheiro que em cima dele são despejados por países , empresas e multimilionários (como os oligarcas russos por exemplo) que vem para  a modalidade com o fito exclusivo do negócio e sem qualquer interesse no seu desenvolvimento harmonioso.
Quem hoje olhar para alguns dos principais clubes mundiais, do Barcelona ao PSG, do Real Madrid ao Manchester City, do Arsenal ao Chelsea constata sem qualquer dificuldade a presença dessa abundância de dinheiro, proveniente dessas fontes inesgotáveis,  e apercebe-se também de como isso está paulatinamente a desequilibrar alguns dos principais campeonatos europeus.
Se assim é com os clubes então que dizer das entidades UEFA e FIFA e da sua característica avidez por dinheiro que as levam a inventar provas, a fazerem tábua rasa do mérito desportivo ( faz algum sentido a Liga dos Campeões poder ser ganha por um clube que tenha ficado em terceiro ou quarto lugar no respectivo campeonato?) a atribuírem prémios com base em critérios comerciais e não desportivos.
Na FIFA, que é o tema do artigo de hoje, essa tendência vem desde 1974 quando o seu presidente ao longo de treze anos -Sir Stanley Rous- um antigo futebolista amador e árbitro internacional perdeu as eleições para João Havelange muito por força dos voto da CAF a quem o dirigente brasileiro prometeu mais lugares nas fases finais dos mundiais.
E se é verdade que ao longo dos vinte a quatro anos em que presidiu à FIFA Havelange deu ao futebol uma dimensão global e um mediatismo que até então não tinha tido é igualmente verdade que foi no seu tempo que o futebol foi assaltado por negócios estranhos, jorros de dinheiro de proveniência suspeita e um conjunto de decisões que se desconfiam influenciadas pelo dinheiro e não por critérios desportivamente admissíveis.
Nomeadamente muitas histórias em volta das escolhas de países para sediarem as fases finais dos mundiais.
Havelange deixou a FIFA em 1998  e sucedeu-lhe um pirata de muito razoável dimensão, chamado Sepp Blatter, que não repetindo o que Havelange fizera de bom agravou tudo que ele fizera de mau exponenciando até limites então insuspeitos todas as desconfianças em torno dos estranhos negócios da organização durante os desgraçados dezassete anos em que foi seu presidente.
E assim chegamos à escolha do Catar para sede do Mundial 2022.
Um país com a dimensão do distrito de Beja, com uma população ligeiramente superior à área metropolitana de Lisboa (cerca de 75% são emigrantes) , sem qualquer tradição ou entusiasmo pelo futebol, sem um único jogador que alguma vez tenha tido notoriedade, com um campeonato sem qualquer interesse e, por último mas muito importante, com um clima absolutamente impróprio para a prática da modalidade.
Mas é um dos países mais ricos do mundo.
Que com base nessa riqueza está a construir oito magníficos estádios, dos quais seis (!!!) em Doha a capital do país, inúmeras estruturas nomeadamente uma linha de metropolitano que ligará todos esses recintos, estradas, auto estradas e inúmeros edifícios de apoio ao Mundial
Nesse aspecto o Mundial será seguramente um sucesso.
Mas foi também essa riqueza sem fim que se suspeita terá permitido ao Catar comprar os votos na FIFA que lhe garantiram ser a sede do Mundial de 2022!
Fosse ou não assim  o certo é que o Mundial será lá entre 21 de Novembro e 18 de Dezembro de 2022 e , contrariamente ao que sempre aconteceu, não se disputará no início do Verão mas sim em pleno Outono quase Inverno por força do clima já referido que impossibilita que no Verão se disputem desportos de alta competição ao ar livre  face a temperaturas regularmente acima dos quarenta graus.
Sendo certo que embora a colossal riqueza tenha permitido que todos os oito estádios disponham de ar condicionado a realidade é que mesmo com esse luxo não é possível, sem grave risco para a saúde dos atletas, disputar jogos nessa época do ano.
E foi assim que em nome do negócio, que não do futebol, a FIFA decidiu que o Mundial se dispute nas datas referidas e não final de época do futebol europeu como sempre aconteceu ao longo de sucessivos mundiais.
Terá a vantagem , única, de os jogadores estarem mais “frescos” com poucos jogos nas pernas ao contrário do que acontecia noutros mundiais em que os participantes que disputavam os principais campeonatos europeus chegam ao mundial a pedir férias.
Mas fora isso vai causar, penso eu, graves transtornos ao futebol europeu com consequências difíceis de prever a esta distância.
Vejamos: As selecções europeias , entre as quais Portugal assim se espera (as dos outros continentes também mas são calendários diferentes), para iniciarem a disputa do Mundial a 21 de Novembro tem de ter um período de preparação que habitualmente anda nas três/quatro semanas o que significa que todos os campeonatos com países apurados terão de ser suspensos no final de Outubro.
Ou seja os campeonatos começam como habitualmente em Agosto, a Liga dos Campeões e a Liga Europa também (mas nesses casos será menos difícil resolver), e depois no final de Outubro tudo tem de parar por causa do Mundial apenas se reatando em Dezembro, na maior parte dos casos, consoante o percurso de cada selecção sendo certo que aquelas que chegarem a fases mais adiantadas fazem os respectivos campeonatos correrem o risco de se reatarem apenas em Janeiro de 2023 por causa do período natalício.
E portanto os clubes ficarão sem competir o mês de Novembro (nalguns casos também as primeiras semanas de Dezembro) o que trará claros problemas de planificação da época porque não só terão menos um mês para disputa das competições internas ,e alguns das europeias, como também terão os jogadores que não forem ao mundial parados em termos de jogos oficiais.
A solução óbvia será necessariamente estender a época até finais de Junho de 2023 mas também isso terá impacto nas épocas seguintes como está bom de ver.
O Mundial de 2022 será não no final da época 2021/ 2022 como seria normal mas já em plena época 2022/2023 o que significa que terminando a actual época 2019/2020 ainda haverá mais duas épocas completas antes daquela em que se disputará o Mundial.
O que significa que há tempo para preparar devidamente as coisas de molde aos transtornos serem o mais minimizados quanto seja possível.
E é bom que FPF e LPFP estejam bem atentas a essa realidade porque mais vale prevenir do que remediar.

Presidenciais

Daqui por um ano, mais dia menos dia mas em Janeiro de 2021, teremos as eleições presidenciais que ditarão a escolha do Presidente da República para o mandato a exercer entre 2021 e o agora ainda longínquo 2026.
Grosso modo dar-se-á a continuidade de Marcelo Rebelo de Sousa ou a eleição de um novo presidente.
Neste momento, e a um ano de distância, que dizer sobre candidatos e sobre a posição dos partidos quanto a  candidaturas não ignorando que um ano em política, e na vida, é muito tempo e pode haver desenvolvimentos imprevistos?
Comecemos pelo mais fácil e que quase anula o resto da análise.
Marcelo Rebelo de Sousa será recandidato e em condições normais vencerá com facilidade a eleição presidencial.
Sabe-se que o presidente tem vindo a dizer há muito tempo que só para o fim do verão decidirá mas não tenho nenhuma duvida que já decidiu ser recandidato desde  o primeiro dia do mandato e por isso tem passado estes quatro anos em permanente campanha eleitoral!
E tanto quanto é possível prever vencerá sem grande dificuldade à primeira volta.
Mais candidatos? 
Creio que André Ventura dificilmente resistirá ao apelo de ser candidato porque com o Chega em fase de crescimento, e não ignorando que à direita há largas franjas de eleitores descontentes com Marcelo, verá nestas presidenciais uma bela oportunidade de continuar a fazer crescer o partido.
Para lá de Marcelo e Ventura, e não perdendo tempo com os inevitáveis Tino de Rans e quejandos que sempre aparecem nestas alturas, ainda não se vislumbra mais nenhum nome que possa entrar na corrida pese embora de quando em vez alguém relembrar o mumificado nome de Sampaio da Nóvoa ou do guru da extrema esquerda Francisco Louçã.
Vamos então aos partidos com representação parlamentar.
O PSD apoiará Marcelo.
Mesmo que o seu líder se "torça" todo por ter de dar esse apoio a verdade é que o partido vindo de duas pesadas derrotas e a caminho de mais uma (nas autárquicas) não se pode dar ao perigosíssimo luxo de também nas presidenciais sair derrotado.
O CDS, que está em fase de escolha de novo líder cargo a que concorrem cinco candidatos com posições diferentes sobre as presidenciais, também apoiará Marcelo mais por falta de alternativa do que por convicção.
A apresentação de uma candidatura própria seria um duplo suicídio político porque para lá de não ter actualmente nenhuma figura minimamente presidenciável, o que pressuporia um resultado humilhante, ainda corria o sério risco de esse resultado ser inferior ao de André Ventura o que colocaria o partido com um pé para a cova e o outro já lá dentro.
O PCP (com o apoio dos Verdes) terá como sempre um candidato próprio.
Provavelmente aproveitará, como já fez no passado com Carlos Carvalhas e Jerónimo de Sousa, a oportunidade para apresentar ao país a pessoa que mais dia menos dia sucederá ao actual líder seja no Congresso do final deste ano seja em data posterior.
Depois se esse candidato vai a votos ou não logo se vê.
Nesse aspecto o PCP é o mais previsível de todos os partidos.
Neste momento não é possível prever o que fará a Iniciativa Liberal.
Não tem figuras conhecidas (mesmo o seu deputado é desconhecido da esmagadora maioria dos portugueses) , não tem uma estrutura nacional capaz de sustentar uma candidatura e não me parece que numa fase de implantação e crescimento queiram arriscar um resultado eleitoral completamente irrelevante que seria sempre um passo atrás.
Acabarão por apoiar Marcelo por falta de alternativa.
O Chega, como atrás foi dito, apoiará a candidatura de André Ventura.
Restam, nos partidos parlamentares, o Bloco de Esquerda, o Livre, o PAN e o PS que deixo para o fim desta análise propositadamente.
BE e Livre não apoiarão Marcelo como é bom de ver.
Mas também dificilmente apresentarão candidato próprio embora o BE provavelmente bem gostasse de apoiar e promover uma candidatura de Francisco Louça que é a sua única figura capaz de conseguir um resultado que ultrapasse as fronteiras do partido.
Acontece que Louçã nesta fase "senatorial" da sua vida política gostaria de ser o candidato da esquerda (incluindo o PS) contra Marcelo mas não aceitará ser o candidato da extrema esquerda (sem o PS) contra Marcelo e por isso não me parece que se meta nessa aventura.
O BE ficará assim à espera que surja uma figura de esquerda, independente ou não, a que possa dar o seu apoio sem perder a face e de cuja candidatura possa retirar alguns dividendos se tal for minimamente possível.
O seu "irmão gémeo", o Livre, ridicularizado perante o país pela deputada Joacine Moreira não terá ânimo, estrutura, meios de promover uma candidatura própria pelo que também ele ficará na expectativa que apareça a tal figura de esquerda que possa apoiar.
O PAN possivelmente apresentará uma candidatura própria, que fará uma campanha sujeita às causas do partido e cujo resultado será irrelevante ou pouco mais do que isso.
No limite ajudará, embora não por vontade própria, à tranquila reeleição de Marcelo.
Resta o PS.
Que tem afirmado repetidas vezes que não apresenta candidatos mas apoia candidaturas.
Uma posição confortável, tranquila, que lhe permite adiar a questão o mais possível e com um bocado de sorte passar entre os pingos da chuva.
Não sei se apoiarão Marcelo.
Nem sei se dentro do PS há uma posição comum entre o PS mais ao centro e o PS mais encostado à esquerda.
Provavelmente o PS mais ao centro até preferirá apoiar Marcelo, mesmo sabendo que o segundo mandato não será igual ao primeiro (mas Cavaco Silva já provou desse veneno quando apoiou a recandidatura de Mário Soares), porque depois do perfeito entendimento entre governo e presidente o decisivo eleitorado do centro não perceberia que o PS não apoiasse a recandidatura enquanto o PS encostado à esquerda preferiria apoiar a candidatura da tal figura de esquerda (que podia ser independente ou militante do partido) que também recolhesse o o apoio do Bloco e do Livre (e até do PCP se conseguisse ir à segunda volta) e assim constituísse mais um passo na criação da tal "grande" esquerda com que sonham os Pedro Nuno Santos e os Galambas desta vida.
E é aí que poderia surgir o tal mumificado nome de Sampaio da Nóvoa (não me parece...) ou de outra personalidade reconhecidamente de esquerda que se disponha a esse combate e cuja aparição condicione quem no PS prefere Marcelo.
Neste momento obviamente não se sabe quem poderá ser e se alguma vez será.
Mas para quem segue a política com interesse não lhe escaparão as doses monumentais de protagonismo que tem sido dadas à ex deputada Ana Gomes pelo grupo Impresa (Expresso, SIC, Visão, etc) a propósito das suas cruzadas "justiçeiras" contra Isabel dos Santos, contra o Banco de Portugal, contra os governos do passado (que no actual não toca nem com uma pena...) e não só e que levam muitos portugueses a apreciarem a sua actuação contra o que entendem ser os "poderosos".
E o grupo Impresa, liderado pelo dr. Balsemão que tão idolatrado é nalguns sectores de pasmosa inocência, não dá ponto sem nó nem faz o que quer que seja que não mereça o aceno tolerante do governo e de António Costa.
Sendo Ana Gomes militante do PS, mas não alinhada com a direcção do partido, e personalidade reconhecidamente de esquerda e da ala esquerda do PS o que a posiciona muito bem para fazer pontes com BE , Livre e até PCP...não sei não.
Nem sei (será que o próprio PS sabe?) qual das tendências internas vencerá, se a que quer apoiar Marcelo se a que quer unir-se à outra esquerda no apoio a uma candidatura.
Por tudo o atrás exposto as presidenciais de 2021, sem prejuízo dos congressos partidários anunciados e a anunciar, serão o grande tema político de 2020 que valerá seguramente a pena acompanhar de perto pese embora o desfecho das mesmas dificilmente tenha outro resultado que não a mais ou menos tranquila reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
Depois Falamos.

P.S. Nesta análise não inclui a Aliança porque a quis restringir aos partidos parlamentares.
Mas naturalmente que a Aliança ou apoia Marcelo ou promove uma candidatura própria.
Mas sobre isso nada mais direi aqui.