José Manuel Durão Barroso termina hoje uma década como presidente da comissão europeia.
A História, e só ela, se encarregará de avaliar os seus mandatos uma vez decorrida a necessária distância temporal face aos mesmos.
Não cairei por isso na tentação, tão corrente nestes dias, de fazer uma avaliação imediata e "a quente" de uma década de exercício de funções por parte do português que presidiu ao "executivo" comunitário entre 2004 e 2014.
Prefiro relembrar o antes e o durante e perspectivar o depois.
O "Antes" é conhecido.
Durão Barroso(DB) era primeiro-ministro de Portugal quando surgiu a oportunidade de ser presidente da comissão europeia no âmbito das complexas negociações para escolher o sucessor de Romano Prodi.
A meio de um mandato,para que tinha sido eleito em 2002, não terá sido seguramente uma decisão fácil para DB mas a opção acabou por ser a Europa em detrimento do cargo que vinha exercendo o que lhe mereceu na altura (e ainda hoje) criticas oriundas dos mais diversos quadrantes incluindo o próprio PSD .
A verdade factual é que deixou uma maioria estável na assembleia da República, um governo liderado pelo seu primeiro vice presidente no partido e uma situação politica estável.
E a garantia (falsa como se provaria depois mas aí a culpa não foi de DB mas de quem lhe garantiu algo que não cumpriu) de que a sua ida para Bruxelas não provocaria eleições antecipadas em Portugal.
O "Durante" foram dez anos de presidência da comissão europeia na década mais difícil, perturbada e complexa desse espaço comunitário.
Foi a "crise" do alargamento de 15 para 28 membros, feita com uma pressa que agora se sabe errada, que obrigou a complexas negociações, ajustamentos, remodelação dos mecanismos eleitorais e alargamento da própria comissão.
Foi a tremenda crise económica ,que atravessou toda a década, cujos efeitos ainda hoje se fazem sentir e que colocou mais que um país à beira da saída da União Europeia e do euro.
Foi, agora na fase final do mandato, a grave crise entre Rússia e Ucrânia que lançou sobre a Europa a memória de alguns dos seus piores fantasmas e os receios (ainda não erradicados) de um alastramento da situação a outros países da ex União Soviética.
Tempos de extrema dificuldade para a Europa.
E como o próprio diz, em entrevistas hoje dadas a público na TSF e no DN, em tempo de crise o papel dos líderes é manterem o barco à superfície.
E Durão Barroso fê-lo.
Com muitas dificuldades, sucessos e insucessos, o projecto europeu continua.
Resta o "Depois".
Que neste momento não se sabe qual é.
DB foi durante dez anos presidente da comissão europeia, longevidade apenas igualada por Jacques Delors, e Portugal nunca teve ninguém em cargo internacionalmente tão importante como esse.
Nem é provável que volte a ter nas próximas décadas.
Tem um capital de experiência política, conhecimentos pessoais e "agenda telefónica" que o tornam numa personalidade de topo que Portugal não pode nem deve dispensar no futuro.
Até porque estou certo que nas funções que agora cessa terá ajudado o seu país sempre e quando lhe foi possível.
Conheço-o o suficiente para estar certo disso.
Veremos o que ele quer fazer no futuro e aquilo que o futuro lhe reserva.
Depois Falamos.
P.S. Ontem,no seu comentário político na RTP, Nuno Morais Sarmento garantia que Durão Barroso não será candidato à presidência da Republica em 2016.
A par de José Luis Arnaut é uma das pouquissimas pessoas que pode ser vista como porta voz "oficioso" de Durão Barroso.
E acho que é a decisão correcta.
É cedo para pensar num regresso à politica portuguesa.